terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Chefão na Pista














Thomas Koch - ou DJ T. - é (junto com Booka Shade e M.A.N.D.Y.) um dos fundadores da Get Physical Music, selo alemão cheio de nomes interessantes no cast e prestes a completar dez anos de bons serviços prestados à dance music. Pela Physical saiu esse doze polegadas aí acima com remixes de "City Life", faixa extraída do álbum mais recente de Koch, The Pleasure Principle. Esqueça as versões quase-dub da britânica Maya Jane Coles e do próprio DJ T. Deixe pra lá até mesmo a original: nada supera o que o cubano-americano Eric Estornel (também conhecido como Maceo Plex) fez com a faixa. Do slap sutil de baixo à levada latina, tudo encaixou como uma luva numa das faixas mais compulsivamente sacolejantes do ano. Sensacional!

Original:



Maceo Plex Remix:



domingo, 25 de dezembro de 2011

New Old Boys


Teoria: mais difícil do que criar um som novo é reproduzir com perfeição algo que já foi sucesso um tempo atrás. Concorda? Os canadenses do Junior Boys vem tentando há quatro álbuns transportar aquela sonoridade do synthpop britânico da primeira metade dos 80 para os dias do dubstep. Ou não, vai saber qual é a intenção de Jeremy Greenspan e Matt Didemus quando usam esses sintetizadores limpinhos nas canções de seu disco mais recente, It's All True.


Cada vez que ouço Junior Boys minha sensação de que a dupla é uma versão do Hot Chip do lado de cá do Atlântico é reforçada: vocais tímidos, timbres aconchegantes, quase dançável, quase indietrônica. Não é ruim, longe disso. Mas também não é muito excitante. Você, fã ardoroso de electropop, vai certamente procurar o botão do repeat em "You'll Improve Me", uma maravilha de quase seis minutos que parece ter tido a disciplina paciente de ser construída com uma tecla sendo apertada de cada vez ao invés de cliques nervosos nos synths virtuais, de tão eficiente e milimétrica que é. O problema é que esse mesmo tesão que surge ao ouvir uma canção dessas se esvai quando coisas como a indecisa "The Reservoir" aparecem. E lá vem quatro minutos arrastados por blips e vocais em falsete cansativos. E assim It's All True vai, um tiquinho mais sexy aqui ("Kick The Can"), um tanto mais soporífero ali ("Playtime"), o que resulta num trabalho inevitavelmente irregular. Ouvir esse álbum é como zapear a TV sábado a noite: satisfação e desapontamento andam lado a lado o tempo todo.

It's All True: duas metades desiguais.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Electroplasma

Martyn com a mão na massa.
O holandês Martijn Deykers começou a discotecar em 1996 tocando drum'n'bass. Com o tempo passou a ser conhecido como Martyn e em 2005 já estava lançando singles misturando jungle, techno e dubstep. Em 2011, cometeu um dos top dance albums do ano. Seu Ghost People merece ser ouvido não só pelos frequentadores de clubes, mas também pelos amantes de eletrônica em geral - porque é variado e cheio de boas idéias o bastante para isso.


O álbum começa com as boas-vindas dadas pelo simpático robozinho de "Love And Machines" e já cai no sample extraído de "Headhunter" do Front 242 em "Viper", bom aquecimento para o baixo subterrâneo de "Masks" que vem a seguir. "Distortions" e "Popgun" são duas amostras da diversidade encontrável no disco, com tons deep house na primeira e dubstep na segunda, ambas com ênfase na percussão. A faixa-título e "Twice As" são irmãs gêmeas tech-house, com samples aleatórios de vocais e timbres de sintetizadores parecidos nos riffs. Ainda sobra espaço para Martyn testar os limites de elasticidade dos alto-falantes com as baixas frequências do interlúdio "I Saw You At Tule Lake", experimentar sabores diferentes dos synths nos arpejos de "Bauplan" e apontar as baterias para todas as direções em "Horror Vacui". "We Are You In The Future" encerra brilhantemente o álbum, com quase nove minutos da fusão techno/drum'n'bass sustentada por batidas criativas e teclados atmosféricos. Não deixe de ouvir.

"Viper": aprenda a dançar sem caixa e sem bumbo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Cereal Killer

Sonny John Moore, o Skrillex.
Não sei quem criou, mas o apelido Sucrilhex é maldosamente bem bolado. Junta o matinal Sucrilhos Kellogg's com a alcunha do produtor de Los Angeles e entrega a pouca idade (23 anos) deste que é provavelmente o artista mais odiado do dubstep. Mesmo que ele rejeite o rótulo dubstep. 2011 foi bem corrido pra ele. Fez muitos shows, lançou disco, foi um dos nomes a produzir o álbum mais recente do Korn e ainda foi indicado pela BBC como um dos artistas a se prestar atenção no ano que vem, na já famosa BBC Sound Of - edição 2012.


Skrillex lançou esse EP aí no meio do ano, More Monsters and Sprites. A faixa de abertura, "First Of The Year (Equinox)" me deixou confuso. O som potente de bateria chama atenção, a música começa como um reggae de vocais filtrados e picotados. Antes de chegar à um minuto, entra um pianinho doce, calmaria... e o que vem a seguir é Skrillex despejando uma Itaipú de efeitos, distorções e repetições. Sinceramente, gostei da faixa. Skrillex faz umas bruxarias interessantes com o seu aparato de softwares. O EP tem ainda as cordas bacanas de "Ruffneck" (em duas versões) e quatro remixes para "Scary Monsters And Nice Sprites". Se ele é poser, nerd, geek ou qualquer outro desses termos pejorativos, realmente não me interessa. Mas que é um nome pra ficar de olho, é.

"First Of The Year (Equinox)": manifesto contra a pedofilia?



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Post-Dubstep? Já?


 Sinal dos tempos: moleque escocês fica brincando de criar uns sons no laptop, pesca meia dúzia de referências, adota algo que está pegando forte atualmente (inquestionavelmente, o dubstep), lança esse material num debut em disco (Glass Swords) que o incensado Pitchfork joga lá pra estratosfera e pronto: é a bola da vez. Agora, você que manja muito mais de música pop do que eu, me diz: em que uma faixa do Rustie como "All Nite" - cheia de rufos de bateria, vocais robótico/assexuados e distorções - difere de um trabalho tido como farofento e acéfalo como o do Skrillex? Incrível mesmo é que já estão chamando isso de pós-dubstep. E pra piorar as coisas, Glass Swords saiu pela Warp Records - uma gravadora que deve estar fazendo alguma coisa certa pra estar no mercado desde 1989. O que mostra o quanto eu devo estar errado na minha avaliação sobre o trabalho do Rustie. Azar o meu então, não achei nada de especial nesse disco.
 

"Hover Traps": slaps de contra-baixo mais falsos que nota de 25 reais.

To Be Or Not Bee Gee

Ó que sexy os irmãos Gibb nos 70.

Os Bee Gees tem boa parcela de responsabilidade pela popularização absurda da disco na segunda metade dos anos 70 - você sabe: John Travolta, Saturday Night Fever, hits planetários, etc... Por tabela, o trio também ajudou bastante para que o gênero ganhasse aquela superexposição toda e começasse seu declínio na virada pros 80. Verdade é que a disco deixou marcas indeléveis no pop e volta e meia ela volta à pauta com alguma coisa interessante.


Prova disso é esse 12" que surgiu uns dias atrás, The BG's Multi Remixes. O vinil traz versões não autorizadas para três clássicos dos Bee Gees, num trabalho primoroso. Não me pergunte quem é esse pessoal que se atreveu a meter a mão nessa imaculada obra disco, mas o resultado é fantástico. Aqui os aventureiros não mexeram nos arranjos, não mudaram as batidas, não acrescentaram timbres sintético-alienígenas. Nada disso. O foco foi manter a pegada disco simplesmente editando uma versão extended de "Night Fever" (que ganhou oito minutos de cordas passeando pelo chimbau sibilante inesquecível da faixa), ou exaltar o riff clássico de guitarra de "Stayin' Alive" limando grande parte dos vocais que praticamente criaram uma versão dub para o tema ou ainda ensinando passo a passo como construir uma dance track com cada elemento adicionado como tijolo na parede (em "You Should Be Dancing"): piano elétrico e bateria, depois guitarra, baixo, percussão, metais, vocais... O mais legal é a semente da dúvida que esse bootleg plantou na minha cabeça: como é que os caras conseguiram fazer essas versões sem as fitas master multipistas com todos os sons gravados separadamente? Se você tem o dom, me responda.

The BG's Multi Remixes: clássicos revisitados, ligeiramente modificados e estendidos.

The BG's Multi Remixes [HOTGOLD VII] by Hands Of Time


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

(EP)pur Si Muove

Será que os Extended Plays vão virar a plataforma preferida pra agrupar faixas daqui pra frente? Esse ano foi uma balaiada deles, especialmente entre artistas de dance/eletrônica. Aliás, qual a importância da mídia física atualmente? Com rumores de que o fim do CD está programado pra 2012, nem sei se o formato ainda faz alguma diferença hoje em dia. Certamente o indestrutível vinil vai resistir, mesmo com vendas não muito expressivas para o mercado fonográfico. Acho que a divisão entre single, EP e álbum é uma questão meramente técnica, serve só pra juntar músicas num mesmo trabalho sob um título comum, porque do ponto de vista mercadológico, tanto faz - já que dá pra comprar as canções soltas nos sites especializados. De qualquer maneira, os EPs continuam pipocando por aí. Três deles que me chamaram atenção recentemente:

Kris Menace > E-Love EP
 
Progressive house ou space disco? Na verdade um pouco de cada nas quatro faixas do EP do alemão Christophe Hoeffel. Sem vocais e com camadas e mais camadas de sintetizadores valorizando os arpejos (especialmente na faixa-título), Menace ruma para o alto e avante em "Mockingbird" e salpica um baixo de inspiração disco em "1995". Além de remixes escolhidos a dedo, Kris Menace mostra que o seu trabalho autoral está longe de ser descartável.

"E-Love": pra orgulhar Giorgio Moroder.



Tim Deluxe > Transformation EP

Nome prestigiado na cena dance inglesa, Tim Liken aparece no final do ano com um monstro house com 12 minutos de pianos ensandecidos ("Transformation"), uma quebradeira techno com destino incerto ("Lucid Dreams") e um garage ("Horizon") sensacional impulsionado por um riff de sax incisivo e uma base toda montada com percussão e timbres de órgão iguaizinhos aos imortalizados por Robin S. no clássico "Show Me Love" de 1993

"Horizon (New Day)": vai ser hit de pista, fácil.



Marco Bailey > Oriental Concept EP

Ele é posudo e meio metido a besta, mas o belga Marco Beelen até que elabora um mix entre techno e house bem decente e suingado. Seu Oriental Concept EP traz a ótima "Lotus": a original cheia de blips tipo Booka Shade e o remix dando aquele gás no bumbo pelo alemão Alexander Kowalski. Vale um confere ainda no bassline sofisticado e no riff de teclado viciante de "K4West" e na hipnótica "Oriental Disco".   


"Lotus":  eficiência em BPMs de techno.




terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Match Point


Esse casal com pinta de atores de seriado americano do final dos anos 70 aí acima é o Tennis, banda de Denver, Colorado. Alaina Moore e Patrick Riley já tem um álbum lançado (Cape Dory, do ano passado) e outro programado pra Fevereiro do ano que vem (Young & Old). "Origins" é o primeiro single desse novo disco. Tanto a faixa-título quanto o lado B ("Deep In The Woods") trazem boas melodias, instrumental quase inofensivo e combinam bem com o vocal delicado de Alaina Moore. É um indie-pop bem simpático, mas pode usar o adjetivo "fofinho" sem constrangimento. 

"Origins": surf-pop de inverno.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Arrocha, Ordinária!



Um amigo me mandou um link do Soundcloud pra eu escutar o que um tal de DJ Cremoso (vai vendo) fez com músicas de Adele, Dire Straits, Franz Ferdinand, Strokes, Nirvana e outras vítimas. Algumas risadas depois de ouvir os remixes tecnobrega, fiquei pensando que isso tem potencial pra estourar, fácil. Não que seja bom. É uma tosqueira feita com tecnologia barata. Mas tem potencial pop, fazer o que? Michel Teló também é um lixo, mas soube aproveitar o momento e tá lá: cravou alguns dos sucessos do ano aqui no país. Triste, hm? Nada. Ruim mesmo é o que desconfio que está por vir. Quer apostar que em 2012 vamos ter bandas de tecnobrega vindas de lugares como Porto Alegre e Belo Horizonte? Alardeado pelas cabeças pensantes (ai ai ai...) do jornalismo musical brasileiro como um fenômeno que pode tomar proporções de hit de dimensões tupiniquins, o gênero ameaça explodir além dos limites do seu estado progenitor, o Pará. Aí a Banda Uó que é de Goiás ganha VMB na categoria Webclipe em 2011 e eu já começo a ficar preocupado. Se bem que prêmio da MTV hoje em dia não quer dizer muita coisa, enfim. Imagino que gente como Humberto Gessinger deve abrir um sorriso discreto de satisfação quando olha pra trás e lembra de quão perseguido foi pela crítica especializada anos atrás. Hoje os jornalistas nem tem mais quem perseguir. Dá uma olhada na cena (?) rock no Brasil hoje pra ver se esse panorama tem alguma chance de mudar. De um lado, os indies-MPB que fazem música pro umbigo; do outro, o happy roque bunda-mole pré-adolescente. Sou capaz de apostar também, que nada do que escrevi aqui é absolutamente novidade pra você. Tecnobrega, the next big thing. 

"Rolling In The Deep": status cult nas pistas paraenses.

Rolling In The Deep (Dj Cremoso Remix) by Dj Cremoso

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Play It Again, Roman


 Roman Böer é um prolífico remixador. Basta dar uma olhada na quantidade de trabalhos para outros artistas que está listada no site oficial dedicado ao seu nome de guerra, DJ Tocadisco. Não me dei o trabalho de contar, mas fiquei curioso com o subtítulo de um dos remixes: "Die For You (Tocadisco's Garota do Parana Remix)". Provavelmente soma "I Die For You Today" (single do ano passado do Alphaville) com uma homenagem à sua esposa brasileira, Natasha Garcez. Achou isso cafona? Espere pra ver o nome das faixas do último álbum do cara, FR3E. Ele teve a manha de colocar em cada título esse "3" simbolizando um "E", algo que talvez os numerólogos expliquem mas eu não sou esperto o suficiente pra entender. Dá uma ligada na tracklist:





1) R3LAX
2) FRE3DOM
3) EM3RALD
4) BAT3RIA
5) RATT3NFДNGER
6) EXPERI3NCE
7) ALT3R
8) L3GAL
9) TIM3







Aí fica assim, em caixa alta. Tsc, tsc. E a música? Bom, Tocadisco é pop pra pista. House vulgar. Ele não arrisca nada. Tem uns violinos bonitos em "FRE3DOM", umas flautas medievais em "RATT3NFДNGER" e um clima meio sacro em "EXPERI3NCE", mas ao ouvir a risível tentativa de batucada digital ("BAT3RIA") desse DJ que definitivamente não tem sangue percussivo nas veias, dá pra sacar o naipe da picaretagem das faixas de FR3E. Afaste-se.

"EM3RALD": uma das nove faixas sem imaginação de FR3E.




terça-feira, 29 de novembro de 2011

Disco do Mês: "Good For The Soul", por Dionne Bromfield


prodígio
pro.dí.gio
sm (lat prodigiu) 1 Fenômeno extraordinário ou inexplicável que causa admiração; maravilha; milagre. 2 Pessoa de extraordinário talento; portento. 3 Qualquer feito ou sucesso extraordinário.

Amadrinhada por Amy Winehouse, Dionne Bromfield foi o primeiro nome do cast do selo da falecida tutora, a Lioness Records. Estreou em 2009 com Introducing Dionne Bromfield, um álbum de covers de gente como Stevie Wonder, Aretha Franklin e The Shirelles. Isso aos 13 anos. Agora aos 15, Dionne já está com seu segundo disco no mercado (Good For The Soul, lançado em Julho) e das quinze faixas, só não participa como compositora de quatro. E a garota prodígio arrepia. Toda vez que ouço esse disco, não consigo associar a imagem da Dionne mirradinha com a Dionne desse extraordinário talento vocal contido nos registros de Good For The Soul. E pra assustar um pouco mais, ela parece ter um domínio absurdo de tudo: da voz à performance ao vivo. Olha a naturalidade e a segurança com que a guria encara a platéia:




E o disco é realmente ótimo. Com uma produção cristalina, Good For The Soul voa sem escalas para algum lugar dos anos 60 - possivelmente o escritório de Berry Gordy ou seu estúdio em Detroit - condensando soul, R&B e doo-wop em quase uma hora de pop sublime. E tudo ajuda para projetar o timbre de Dionne, dos naipes de metais redondinhos ("Sweetest Thing") às sessões de cordas magníficas ("Ouch That Hurt"), dos backing vocals macios ("Too Soon to Call It Love") aos refrãos perfeitos ("If That's the Way You Wanna Play"). O álbum é detalhista; minucioso nos arranjos, cheio de cerejas no bolo (os sinos de "Remember Our Love", as flautas de "If That's the Way You Wanna Play"), surpresas (há quanto tempo eu não ouvia uma virada de bateria como aquela da introdução de "Lost In Love"?), dançável, pop e a despeito do som retrô, exala um frescor que os tenros 15 anos de Dionne Bromfield justificam por si só. Impressionante.

"If That's the Way You Wanna Play": os melhores três minutos e meio do ano.


If That's The Way You Wanna Play - Dionne Bromfield by Imagem Creative
 

domingo, 27 de novembro de 2011

Discoteca Gaulesa

Dois bons discos de house fresquinhos:

Fred Falke é um DJ e produtor alemão, grava house com sotaque francês desde o começo dos anos 2000 e é chapa de Christophe Hoeffel, também conhecido como Kris Menace. Falke debuta em disco agora no começo de Dezembro com Part IV - na verdade um apanhado de faixas de seus singles e EPs desde 2006, mais algumas inéditas. É fácil um dos lançamentos de música de pista mais significativos de 2011, mesmo que a maioria das gravações não seja inédita. Fred Falke acumula experiência numa impressionante lista de remixes assinados por ele, o que faz muita diferença na hora de soltar um álbum autoral com faixas que vão do frescor baleárico de "808 PM At The Beach", passa pelo french house de vocais picotados e baixos disco de "Back To Stay" e "Look Into Your Eyes", o electro cambaleante de "Last Wave" e a space disco de "Electricity". Falke ainda lembra de suas origens como baixista com o show das quatro cordas de "Wait For Love", originalmente lado B do single "Omega Man" editado em parceria com o músico Savage.
   
"808 PM At The Beach": verão vindouro.














Benoit Heitz é francês de nascimento, assina como Surkin, tem só 26 anos e já engaveta uma penca de remixes pra gente bombada como Chromeo, Klaxons e Justice. Surkin lançou em Novembro seu segundo álbum (USA), uma refrescante coleção de canções divertidíssimas e com cheiro de anos 90. São 16 faixas divididas em freestyles melosos linha Stevie B. ("Lose Yourself"), electro-funk sossegado ("Silver Island", "End Morning"), house de pianos galopantes ("Ultra Light") e acento ítalo ("Quattro" deve ser a "Numero Uno" de 2011). Magistrais em USA são as batidas impactantes e o clássico sample "Uh! Yeah!" reutilizado pela bilionésima vez em "I.N.Y.N" e as belíssimas cordas recortadas por navalhadas de sintetizador e vocais em "White Knight Two". Olho nesse moleque.

"I.N.Y.N": Uh! Yeah!




quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Cansou De Ser Sexy


Que o músico e produtor Adriano Cintra pediu o boné do Cansei de Ser Sexy agora em Novembro você sabia, mas e desse novo projeto do cara (já?), chamado My Dirty Fingers? "Not Holding Me Down" apareceu no Soundcloud há uma semana atrás e já acumula audições e elogios na página. A música é um technopop safado de venenoso, totalmente dominada por sintetizadores e baterias eletrônicas que remetem à um Visage circa 1981 e vocais tipo Damon Albarn submerso numa banheira de champagne. Muito mais legal do que qualquer coisa que o Cansei de Ser Sexy lançou até hoje.

"Not Holding Me Down": hit em potencial.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Paisagismo Sonoro



Um dos pioneiros da ambient house e o principal mentor de discos essenciais de eletrônica como The Orb's Adventures Beyond the Ultraworld (1991), Alex Paterson mantem-se ativo com o seu The Orb e o projeto C Batter C, lançado em Novembro.  


Trata-se de um pacote que inclui um DVD com um curta-metragem de 17 minutos chamado Battersea Bunches que narra a história de três crianças que fizeram uma viagem entre Battersea e Greenwich em 1956, na Inglaterra. A jornada foi capturada em Super-8 pela tia das crianças e Paterson (junto com o artista visual Mike Coles) fundiu essas imagens com cenas atuais para criar um apanhado de cenas de forte apelo emocional (e por vezes, surreal). C Batter C traz ainda um livro de 60 páginas com fotos e poemas e um CD com a trilha sonora original, mais sete remixes de artistas desconhecidos (pelo menos pra mim) como Gaudi, HFB e David Harrow. Curiosamente, a faixa mais fraca do disco é a bem humorada "Batter C Bunny's Munching Orbular Marrow Mix" do suíço Thomas Fehlmann, parceiro de Paterson nas produções recentes do Orb. O CD tem coisas bem mais interessantes, como a trôpega "To Battersea With Bunches (HFB Remix)", o dubstep "Brixton Hundreds (David Harrow Remix)" e o deep-techno "Latchmere Allotments (Nocturnal Sunshine Remix)". Não é só pelo fato de eu ser fã de carteirinha do Dr. Alex Paterson, mas vale a pena conhecer C Batter C. Primeiro porque é sempre válido se embrenhar em qualquer floresta cibernética cultivada pelo The Orb e segundo porque Paterson deu uma espiada no passado pra projetar o presente nesse projeto - e decodificou essas imagens em forma de música que ainda desafia rótulos, o que é sempre sinal de relevância.

"Brixton Hundreds (David Harrow Remix)": The Orb embarca no dubstep?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Preto no Branco


Jarle Bernhoft é um cantor, multi-instrumentista e compositor norueguês. Já tem três álbuns lançados e visualmente é algo entre Buddy Holly e Johnny Bravo. Em seu semi-hit "C'mon Talk", o faz-tudo Bernhoft canta como se fosse um daqueles negões do Temptations de 1972 num cruzamento entre soul e folk bem atípico pra quem vem lá dos fiordes escandinavos. A música nem é espetacular, mas o cara tem uma qualidade que anda meio escassa hoje em dia: sabe cantar. Dica do sempre ligado Cris Antunes.

"C'mon Talk": Bernhoft cobra o escanteio e tá na área pra cabecear.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Selling Your Soul


Em 2008 Seal lançou Soul, seu primeiro álbum de covers. O disco era composto por clássicos do gênero (como assim "que gênero"? O soul!) e o resultado foi um estouro: ouro, platina e diamante mundo afora (só na França ficou 13 semanas consecutivas em primeiro lugar, vendendo mais de um milhão de cópias). Alguma dúvida que esse projeto bem sucedido teria uma continuação? Pois aí está Soul 2, e de novo Seal mete a mão na obra alheia sem a menor cerimônia. Se você se considera um entendedor médio de música pop, já é o suficiente pra conhecer mais da metade das músicas do repertório desse álbum. É sério. Mesmo que não seja a versão original. Essas canções de Soul 2 já foram regravadas dezenas de vezes, e Seal - bom cantor que é - até que não faz feio. Mesmo com sua voz semi-rouca ele canta docemente "Ooh Baby Baby", hit de 1965 do The Miracles com Smokey Robinson nos vocais. Do grupo Rose Royce, Seal pescou duas faixas: "Wishing On A Star" (aqui no Brasil a canção foi sucesso na boa versão das Cover Girls) e "Love Don't Live Here Anymore"; de Al Green catou a obra-prima "Let's Stay Together", do Chi-Lites deu uma xerocada competente em "Oh Girl" e do indefectível Marvin Gaye, ousou encarar o monumento "What's Going On". Também, com uma produção gabaritada de dois caras como Trevor Horn e David Foster, até eu lançaria um disco desses. Saca o arranjo de Foster para "Back Stabbers" (original dos O'Jays), que maravilha - dos backings à percussão, das cordas aos metais, um luxo. Já Horn lambuza "Love T.K.O." (Teddy Pendergrass) com um baixo escorregadio e cordas melosas. Tenho certeza que um público muito além dos fãs de Seal vai cair nessa de novo com Soul 2, porque de fato tudo aqui é bem feito e as pessoas não estão nem aí se os originais são insuperáveis. Fora que o programador da Antena 1 vai ter material do Seal pra tocar pelos próximos dois anos.

"Ooh Baby Baby": Seal bico doce.



domingo, 13 de novembro de 2011

Dark de Verdade


O figura com pinta de ator do cast do José Mojica Marins aí acima chama-se Spoek Mathambo. Aos 24 anos, o rapper e DJ nascido em Soweto faz parte da nova geração de artistas africanos entrincheirados na linha de frente da nova música eletrônica daquele continente. Também designer gráfico e ilustrador, Spoek lançou ano passado seu primeiro álbum, Mshini Wam.


Quarto single extraído do disco, "Control" é uma das músicas mais interessantes que escutei esse ano. Primeiro porque a idéia de transformar o clássico "She's Lost Control" do Joy Division numa faixa dance já soa desafiadora por si só e segundo porque o resultado final é surpreendente. Spoek subverteu o original numa house revestida de frequências baixíssimas de grave, ocasionais detalhes afro e vocais perversamente narrados dentro de um vocoder assustador, com alto teor de dançabilidade. O vídeo é outro caso à parte: idealizado pelos fotógrafos sul-africanos Pieter Hugo e Michael Cleary, o clip traz uma sequência perturbadora de cenas de rituais e possessões muito bem interpretadas pelo projeto Happy Feet, um grupo de dança que reúne a molecada local. Nem Wes Craven faria melhor. Eu, hein.

"Control": Ian Curtis dançaria essa?

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Fim do Reinado e a Volta da Monarquia


O Erasure passou a ser uma banda de singles a partir de 1994. Nesse ano a dupla britânica lançou o fraco I Say I Say I Say, e o álbum naufragou com a produção excessivamente digitalizada do admirável Martyn Ware (Human League, Heaven 17). Ou você lembra de alguma coisa de I Say que não seja a orientalizante "Always"? Ainda assim, era mais um disco do Erasure que chegava ao topo do paradão inglês. Pela última vez. Claro que o número de cópias vendidas não serve como termômetro para medir qualidade, mas como Andy Bell e Vince Clarke pareciam ter a fórmula mágica dos três minutos nas mãos durante a segunda metade dos 80 e o comecinho dos 90, foi de se estranhar que o tecno assumidamente pop da dupla começasse a rarear, em troca de composições mais longas ora tristonhas, ora experimentais. O problema é que até mesmo para singles o Erasure parece ter perdido o Toque de Midas. "In My Arms" (1997), "Freedom" (2000), "Breathe" (2004)... dá pra contar nos dedos o que é realmente digno de nota desse período. E eles se intimidaram? Nada. Continuaram lançando discos. Foram oito de 1995 até 2011, média de um a cada dois anos - contando o mais recente, Tomorrow's World, que saiu mês passado. Aqui temos Vince Clarke de novo usando sua coleção de synths de boa cepa para dar um acabamento mais envernizado nas canções e Andy Bell sofrendo nas mãos do produtor Frankmusik, no que tange aos vocais. O cantor está irreconhecível em "Fill Us With Fire" e cai na armadilha dispensável do auto-tune em "A Whole Lotta Love Run Riot". Honestamente, Bell soa muito melhor ao vivo do que nesse álbum (vi um show da banda em Agosto). Você certamente vai ler coisas por aí como "... é o melhor disco do duo desde...", e a gente quase acredita ouvindo refrãos como "Then I Go Twisting" e "Just When I Thought It Was Ending" ou o esforçado single "When I Start To (Break It All Down)". Fato é que o Erasure tem se desafiado constantemente nos últimos 15 anos: como não passar despercebido no meio de tanta música ofertada? Olha, só com um trabalho (ou uma sequência razoável de singles) realmente bom. E isso aconteceu pela última vez em 1991.

"When I Start To (Break It All Down)": softwares na voz.




Já o duo australiano radicado em Londres Monarchy finalmente debutou de forma oficial com Around The Sun. O disco deveria ter sido lançado ano passado, vazou, foi adiado para Janeiro, depois Julho... Com a lista de faixas alterada em relação a 2010, o álbum ganhou a adição das novas (e ótimas) "I Won't Let Go" e "Jealous Guy". Se você passou batido por esse hype em 2010, saiba do que se trata no texto que escrevi pro rraurl. Depois ouça Around The Sun e tenha certeza que o synthpop está em ótimas mãos com bandas como o Monarchy.

"Jealous Guy": o futuro é o passado, baby.



domingo, 6 de novembro de 2011

Música Para Não Ouvir No Verão

 Daqui a pouco é verão no Hemisfério Sul. Três meses de bermudas, biquinis, praia, sol e Ivete Sangalo. Putz, Ivete Sangalo? Há mais de dez anos que a cantora toma conta do campinho nessa época aqui no Brasil, existe distância segura para se proteger desse furacão baiano? Não, não tem. Mas eu não preciso ser cúmplice. Aliás, alguns lançamentos recentes também não se encaixam a algo próximo de um verão perfeito, musicalmente falando. Ei-los:



Artista: Ladytron

O quarteto de Liverpool soltou em Setembro seu quinto álbum, Gravity The Seducer. O synthpop épico tramado pela banda no disco tem várias camadas de gelo... digo, de sintetizadores com timbres mal-humorados (uma faixa chama-se sintomaticamente "Melting Ice", vai vendo) e alguns dos temas instrumentais mais populares na Groenlândia atualmente. Excessivamente melancólico, Gravity The Seducer não tem a menor chance de funcionar naquele seu surrado ghetto blaster na beira d'água.

Fator local: ouça o disco quando visitar Yakutsk, na Sibéria.
Fator de proteção sonar: 30 (médio).

"White Elephant": não, não é cor-de-rosa. É branco.




Artista: Zola Jesus

Apesar do nome, Nika Roza Danilova nasceu em Phoenix, Arizona. Conatus (lançado em Setembro) é o terceiro álbum da moça usando o alter ego Zola Jesus e traz 11 faixas de eletrônica experimental num cruzamento aproximado entre Joy Division e Siouxsie & The Banshees. O disco condensa rock gótico e synthpop, mas é o trabalho vocal inegavelmente bem feito de Danilova que mais chama atenção aqui - mesmo quando ela entoa um cântico ininteligível como em "Ixode". Seus trinados sinistros assustam na mesma medida que fascinam.

Fator local: bom de ouvir em São José dos Ausentes, nunca em Balneário Camboriú.
Fator de proteção sonar: 60 (alto).

"Vessel": filtro verde-esmeralda. E frio.




Artista: Justice

O franceses Gaspard Augé e Xavier de Rosnay acabaram de lançar seu segundo e esperado álbum, Audio, Video, Disco. Tarefa ingrata depois da estréia absurda (Cross fica mais fácil), do longínquo 2007. Passaram no teste? Sim e não. Ouvindo com carinho, o disco não chega a decepcionar. Tem aqueles timbres embolorados semelhantes aos encontráveis em singles (já) clássicos como "Waters of Nazareth" (em "Parade"), mas a diferença é que o Justice agora não engaveta a maior quantidade de distorção possível por metro quadrado como fazia há quatro anos atrás. O foco parece estar num electro-rock setentista/progressivo, cheio de guitarras e que pouco tem a ver com a pista de dança, bicho! O que deixou o som meio sem graça, é verdade.

Fator local: leve uma cópia na mochila na sua viagem para São Tomé das Letras.
Fator de proteção sonar: 15 (baixo).

"Civilization": "_ Corram para as montanhas!"



sexta-feira, 4 de novembro de 2011

1 X 4 = 1


 Está por sair o novo do multi-platinado Snow Patrol, Fallen Empires.

Em Setembro passado, os irlandeses soltaram o single Called Out in the Dark como aperitivo. Acabou rolando também um EP com mais três faixas (totalmente dispensáveis). Fique somente com a faixa título e descarte o resto sem dó. "Called Out in the Dark" - a canção - é um roquezinho salpicado com doses homeopáticas de eletrônica e com uma letra tipo levanta-estádio ("É como se não conseguíssemos nos segurar / Pois não sabemos ir mais devagar / Fomos chamados para as ruas / Fomos chamados para a cidade"). E considerando que hoje é sexta-feira e a faixa tem essa bateria com o chimbau numa levada disco, é perfeitamente justificável dançar ao som de "Called Out in the Dark". Remixes também são bem-vindos.

"Called Out in the Dark": coreografia mais legal desde "Dança da Manivela" do Asa de Águia.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Tangoless


Os órfãos do Gotan Project periga se interessarem pelo Submotion Orchestra. Não que o Gotan - este projeto parido por um argentino, um francês e um suíço - tenha acabado, não é isso... mas você sabe, aquele tango eletrônico renovador e impressionante do trio funcionou 100% no debut La Revancha Del Tango de 2001, 50% no segundo álbum de fato (Lunático, de 2006) e dali pra frente a fórmula ficou presa no próprio tubo de ensaio.  


Buenas, o que os ingleses do Submotion tem a ver com o Gotan? Essencialmente electronica, jazz, dub e uma lona escura feita de trip-hop cobrindo tudo. O diferencial é que o grupo de seis músicos de Leeds passa longe dos ritmos portenhos e tem à sua frente uma vocalista fantástica chamada Ruby Wood. É ela com sua voz de Sade albina quem acalma as linhas de baixo que fazem os alto-falantes tremerem em certos trechos de Finest Hour, álbum lançado em Agosto deste ano. Atual mas não aproveitador, o Submotion encaixa-se confortável no dubstep vigente ("Back Chat") e no drum'n'bass jazzy ("Always"), ao mesmo tempo em que aproveita os músicos que tem pra criar um instrumental emocionante e detalhista como o da faixa título. Pontuado por um trompete onipresente que atravessa quase todas as dez faixas e favorecido pelos vocais de Ruby Wood, o Submotion Orchestra fez um disco de estreia apurado e minucioso, mas com um resultado final cool e extremamente prazeroso de ouvir.

"Suffer Not": tudo no capricho.




quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Boss Em Disco

Depois de uma série de remixes para outros artistas e com faixas do Boss In Drama pipocando aqui e ali desde 2007, o produtor curitibano Péricles Martins conseguiu finalmente organizar tudo em forma de disco, lançado em Outubro. 


Pure Gold é uma boa coleção de pop dançante, e felizmente é variada o bastante pra não se prender somente ao rótulo nu-disco. Por isso mesmo a guitarrinha com levada bossa nova pode surpreender já na segunda faixa, "I Don't Want Money Tonight". "I've Got Tonight" e "Favorite Song" são provavelmente as músicas mais conhecidas do álbum: pós-disco funkeada de baixo exemplar e com cheiro de Chromeo na primeira, french house de vocais vocoderizados aos cacos na segunda. Segundo Péricles, "Disco Karma" (vocais divididos com Christel Escosa) deve ser o próximo single do álbum e a despeito do título, a batida aqui descamba pro R&B ao invés do bumbo reto e do prato sibilante da disco. Com domínio total da produção, Péricles reforçou os arranjos com metais ("Perfect Symphony", "Gravy"), um molho percussivo convincente ("Body Rock") e baixos contagiantes ("Summer Madness"). Ainda mostra que é fã de carteirinha do mini-gênio Prince ("Addicted") e que por tudo isso, os elogios de ninguém menos que Justin Timberlake são mais do que merecidos. Boss In Drama vai ser grande.

"Favorite Song": french house longe da Torre Eiffel.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Guina


O paulistano Pedro Paulo Soares Pereira (Mano Brown, o primeiro da esquerda para direita na foto acima) é o melhor letrista que já apareceu no rap nacional. Seu Racionais MC's também reina absoluto no cenário, desde o começo dos anos 90. O grupo está a anos-luz de qualquer tentativa de rima coletiva que tenha surgido no nosso hip-hop, além de trazer as bases instrumentais de extrema criatividade e bom gosto do DJ e produtor KL Jay. Enquanto em 2011 os rappers Emicida e Criolo levaram juntos cinco dos onze prêmios do VMB na MTV Brasil, os Racionais preparam álbum novo para 2012, com rumores de mudança na formação. Enquanto material novo não chega, vale dar um confere numa das tantas faixas essenciais do quarteto, "Tô Ouvindo Alguém Me Chamar". A música está em Sobrevivendo no Inferno - talvez o melhor disco da banda - de 1997. Aqui a narrativa angustiante de Mano Brown coloca o ouvinte entre tiroteios, sirenes, crime, castigo... e Guina. "O Guina não tinha dó / Se reagir, bum, vira pó" (sic). O clima de suspense criado por KL Jay é perfeito: a base sampleada de "Charisma" do trompetista Tom Browne (1981) é enriquecida com teclados sinistros enquanto bips de monitor cardíaco e batidas de coração fundem-se com a bateria. Arrepiante e genial.

"Tô Ouvindo Alguém Me Chamar": onze minutos de tensão.



"Charisma": Tom Browne brilhantemente sampleado por KL Jay.

sábado, 29 de outubro de 2011

Sheik Your Body


Abraham Orellana é um nome pra se prestar atenção. Mergulhado no mundo dos beats desde 2006, o jovem produtor americano estreou em Junho desse ano com seu Electronic Dream - um título de gosto suspeito, mas com conteúdo pra desfazer qualquer sobrancelha levantada em sinal de desconfiança.


O seu exército de batidas de um homem só atende pelo nome de AraabMUSIK e o instrumento de trabalho está nas fotos acima: o Akai MPC, misto de sampler com bateria eletrônica programável. Com ele, Orellana cria linhas de chimbau que passam na velocidade da luz por cima de bumbos e caixas de ritmos irregulares que lembram um dubstep sem subgrave. O que é curioso na música do AraabMUSIK é a influência do trance, no bom e no mau sentido. Quando erra, Orellana se sai com umas coisas dignas de figurar na trilha do Caldeirão do Huck - como em "Lift Off" e seu riff de sintetizador que é algo rave-nas-areias-de-Camboriú, e que ainda sampleia a farofíssima "Castles In The Sky" de Ian van Dahl. Outros momentos desagradáveis do disco estão no timbre irritante do teclado de "Free Spirit" (também, com esse nome não poderia ser coisa boa) e na definitivamente descontrolada "Underground Stream". Fora esses deslizes, as faixas surpreendem especialmente porque os vocais em todo o álbum são um sonho, eles levitam sobre as batidas como se estivessem reverberando dentro de uma catedral. "Feelin So Hood" (com sample de "So High" do Starchaser) e "Golden Touch" (inspirada no hino "Right In The Night" de Jam & Spoon) são exemplos recomendáveis para entender que a fusão trance/hip-hop não dá besteira nas mãos do AraabMUSIK. Orellana aponta suas baterias pro hip-hop, mas produziu um álbum quase ambient que causa uma sensação de pasmaceira e fascinação diante de vozes delicadas duelando com beats chapados, teclados esparços e samples improváveis de artistas dance mainstream como Jam & Spoon, Kaskade e OceanLab. Será que já inventaram o rótulo trance-hop?
  
"Feelin So Hood": levando o hip-hop para outro plano.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Verde, Amarelo, Azul e Branco


Em 1990 o pop baseado em sintetizadores era rotulado como technopop. Depois apareceram os termos synthpop, electropop e agora parece que o chillwave colocou todo mundo embaixo da asa. Bom, não importa. Em 1990 as coisas eram deliciosamente mais ingênuas. Tanto que o tecladista argentino Marcelo Donolo e o vocalista brasileiro Filippo Crosso - vislumbrando uma hipotética carreira internacional - escolheram os nomes artísticos Mark Rhiley e Phillip Ashley apostando num possível sucesso além fronteiras de sua recém formada banda, o Tek Noir. Ambições à parte, não foi bem isso que aconteceu. Pior: parte da crítica supostamente especializada da época foi impiedosa e simplesmente não deu chance para o Tek Noir respirar. Mesmo com espaço significativo na extinta revista Bizz em entrevistas, resenhas de shows e letras traduzidas, havia jornalistas que riam da nossa versão brasileira do formato clássico duo technopop. Lembro que o Camilo Rocha escreveu certa vez que um Information Society Cover brasileiro existia e já tinha até disco gravado: era o Tek Noir. Maldade. Até porque o Tek Noir nem tinha muito a ver com o grupo de Minneapolis, a não ser o fato de embasar sua música em sintetizadores, samplers e baterias eletrônicas - assim como o InSoc era chamado de "imitação do Depeche Mode" pela mesma revista, e nem era esse o caso. O Information era funky, tinha muito mais James Brown, Kraftwerk e Afrika Bambaataa nas veias do que new romantics brancos e europeus no seu som. A falta de referências (ou de informação) dava nisso. A curta carreira do Tek Noir durou dois discos, Alternative de 1990 e Destination de 1993, e depois disso, nunca mais ouvi falar da dupla Rhiley/Ashley. Alternative tem oito faixas e dois lados bem distintos: o primeiro mais pop e radiofônico, com canções notadamente influenciadas pela acid house ("Beat The Rhythm" e "One Way Or Another" ) e pela música sintética em voga na época (claramente Pet Shop Boys em "Drawings of Sorrow"). Já o lado B do vinil exercita a porção Noir da banda e abraça a EBM pesada de Front 242 e Nitzer Ebb (vocais agressivos, samples, ruídos industriais). O segundo álbum trilha o mesmo caminho. Embora um pouco menos inspirado do que a estréia, segue ainda com faixas bem estruturadas ("The Whole Of The World"), instrumental surpreendente pra uma banda eletrônica brasileira do comecinho dos 90 (a ótima "Falling In My Arms"), bons vocais e um tiquinho mais experimental (a climática instrumental "Twixt Land And Sea" ou a arrastada "Sensibility", por exemplo). Não sei realmente o que faltou pro Tek Noir deslanchar. Ambos os álbuns tem boas faixas, potencial para as FMs, imagem bem cuidada (a capa de Alternative foi fotografada por Bob Wolfenson), parecia estar tudo no lugar. Na época a dupla foi taxada como datada, mas em 2011 com esse tsunami retrô-moderninho, será que o Tek Noir teria alguma relevância?


"Beat The Rhythm": "move and house your body right".



"Falling In My Arms": hit de pista underground.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Electro Bebop


Olha só que coisa fina essa faixa do DJ e produtor alemão Sebastian Weiss, o Sepalot. "Rainbows" saiu em Agosto e é na verdade uma versão atualizada para "Thinkin' It Over", hit de 1968 do cantor americano Del Shannon. Sepalot acertou a mão com esse instrumental mezzo eletrônico mezzo jazz, mas continuo me perguntando onde é que ele arrumou esses vocais maravilhosos e impregnados de soul. Dica do chapa Cris Antunes.

"Rainbows": classuda até a medula.



domingo, 23 de outubro de 2011

Neon Lights


O mexicano Alan Palomo se deu ao luxo de ir pra Finlândia gravar em quatro semanas na geladeira chamada Helsinki seu mais recente álbum como Neon Indian, Era Extraña (lançado em Setembro).


Eleito muso chillwave em sua estréia de 2009 (Psychic Chasms) pela intelligentsia musical nos quatro cantos do planeta, Palomo retorna com um álbum que substitui os samplers do trabalho anterior por texturas sintéticas distorcidas e climão de eletrônica lo-fi, estranhamente nostálgica (no sentido desconfortável da palavra). Toro Y Moi já abandonou esse barco em favor de beats mais safados e maior clareza na produção no seu último EP, e acertou na mosca. Já o Neon Indian fica encoberto pela própria sombra projetada a partir de Era Extraña: entre canções extremamente simplórias como o single "Polish Girl", rocks chapados ("Hex Girlfriend", "The Blindside Kiss") e trips lisérgicas baseadas em execuções contínuas das notas de um mesmo acorde ("Future Sick"), o disco cansa na primeira audição - um pouco por culpa desses vocais extenuados por filtros do início ao fim do álbum. O principal defeito do disco, no entanto, é algo que me parece vir da presunção de Palomo em fazer música do jeito que os seus parcos 23 anos lhe dão na telha, amparado por gente que levantou o polegar pra tudo que ele já fez até agora. Mas ele já fez algo que realmente te instigasse? Comigo ainda não aconteceu.

"Polish Girl": como (tentar) fazer um riff de sintetizador funcionar na marra.




A Drummer Called Boris


Alguma dúvida que o francês Boris Peter Bransby Williams foi o melhor baterista que passou pelo The Cure? Presente na banda de 1984 até 1993, Williams imprimiu um padrão rítmico no som do grupo inglês facilmente identificável, aproveitando-se da tecnologia para extrair efeitos certeiros de baterias eletrônicas e samplers, tanto no estúdio quanto ao vivo.



Esta versão de "Play For Today" foi extraída do vídeo The Cure in Orange gravado na França em 1986 e lançado um ano depois. Capta a banda no auge da forma e talvez com seu melhor line-up: Robert Smith, Simon Gallup, Porl Thompson, Boris Williams e Lol Tolhurst. Aqui, a performance de Williams impressiona. Com a precisão de um metrônomo ele conduz caixa, bumbo, chimbau e ainda encontra espaço para golpear o pad da bateria eletrônica e os pratos de ataque - praticamente um polvo do pós-punk. Perfeição.