sábado, 30 de julho de 2011

Frequência de Classe


"Mas que raio de blog é esse que não tem informação nenhuma sobre o artista?" Pois é, eu também faria essa pergunta. O fato é que esse vinil que saiu esse ano é tão, mas tão underground, que não consegui descobrir quem é o tal J Kriv, muito menos a senhorita Adeline Michele. A faixa em questão, "Another Night", está totalmente imersa num creme pós-disco circa 1982 e tem aquele baixo sintético e elástico que deixa o groove redondinho. Os teclados forram tudo sem exageros - só pra deixar a vocalista desfilar seu conformismo no refrão "Just another night without your love...", de uma maneira absolutamente classuda e elegante. Só encontrei o B-Side do single (Social Disco Club Dub) no Youtube (mais acelerada), mas a original e o ótimo mix do mestre Greg Wilson são superiores, pode acreditar. De BPM baixo e perfeita pra uma noite de sábado, "Another Night" é classe, pura classe.

J Kriv: ilustre desconhecido comete uma faixa arrepiante:




 

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Entre Elfos e Cangurus



Os australianos do Pnau acabam de lançar seu quarto álbum, e já te adianto: é bem fraquinho. Se você depositava alguma esperança nessa dupla por enxergar neles um Tears For Fears ligeiramente houseificado, o argumento procede - porque o timbre de Nick Littlemore realmente lembra o vocalista das Tias Fofinhas, Roland Orzabal - e também porque o Pnau tem um certo gosto por melodias sintéticas brotadas de seus teclados oitentistas.


O grande problema em Soft Universe é esse clima Neverending Story que permeia o disco (na foto do duo com o unicórnio acima, dá pra entender), onde as melodias são de uma positividade irritante - é tudo tão up e ensolarado que cansa fácil. E os arranjos açucarados contribuem negativamente pra massa desandar na primeira audição. Com uma balada horrenda ("Glimpse"), uso abusivo de efeitos de voz (na apropriadamente chamada "Epic Fail") e um tema de encerramento que parece extraído de um musical chato da Broadway ("Waiting For You"), nada se destaca em Soft Universe. Fica a certeza de que o Miami Horror ainda é uma das coisas mais bacanas no campinho dance/pop que vieram da Austrália recentemente. Corre pro Illumination.

 "Unite Us": Nick Littlemore e Peter Mayes num mundo de fantasia.






sábado, 23 de julho de 2011

Highlander


Não são legais essas bandas que vivem à margem do tempo? Tipo esse simpático grupo acima, o Clan Of Xymox (um dia vou aprender a pronunciar o nome). Para esses adoráveis holandeses com cara de figurantes do Trem Fantasma do Playcenter; tanto faz o preço do dólar, não importa se Oslo está indo pelos ares e muito menos se a seleção de seu país é a atual vice-campeã mundial de futebol: o calendário é um acessório irrelevante.



Isso concede ao Clan Of Xymox o direito de gravar um disco que é exatamente como eles fariam em 1985, época de seu debut epônimo pela 4AD. Certamente em 2011 eles tiram mais proveito da tecnologia, mas nada que faça esse álbum livrar-se do estigma gótico/apocalíptico de um tempo em que se levava isso a sério demais. Se bateu uma certa curiosidade, vale o clic em "My Reality", faixa que abre o recente Darkest Hour. Com seus synths roucos e blips percussivos, periga ser o momento mais interessante entre as dez canções. E se você está se lixando pra esse papo de atemporalidade, ouça "Tears Ago" e encontre nela e no seu riff de guitarra uma companhia perfeita para suas faixas preferidas do Sisters Of Mercy. O resto do disco é aquilo: arrastado, taciturno, sombrio. Já pensou se pega de jeito com a geração Crepúsculo? Improvável.

"My Reality": pop nubladão.




Caverna do Dragão


A Suécia é uma terra fértil no que tange à artistas pop. Aposto que sua mãe não sabia que o Roxette era de lá quando ouvia a dupla nas FMs em 1989. Tem uma vanguarda de respeito também. The Knife é um nome que merece estar em qualquer lista de artistas relevantes na eletrônica atual. Bom, o Little Dragon tenta se equilibrar nos dois terrenos: um pé no chão firme e seguro do Popular, outro no arriscado e pantanoso do Experimentalismo.  


Não que algo aqui nesse terceiro álbum (Ritual Union) soe como trilha de novela das sete do Roxette, nem como as aventuras do Knife no mundo dos ruídos eletroacústicos (Tomorrow, In a Year, do ano passado), mas algum elemento inusual parece sempre rondar boas melodias (os zumbidos irritantes de "Brush The Heat" que destroem o que poderia ser uma canção boa de assobiar, por exemplo). O arranjo preguiçoso de "Little Man" não ajuda, tampouco a percussão caótica da cinzenta "When I Go Out". E quando as coisas ameaçam engrenar, como no par de canções "Shuffle A Dream"/"Please Turn", tem algo que definitivamente não deixa o Little Dragon rodar macio: a vocalista nipo-sueca Yukimi Nagano. Eu só não sei ainda se o problema é a maneira como ela canta (entre distante e entediada) ou se a culpa está no jeitão lo-fi de como sua voz foi gravada - parece seca, perdida e/ou incompatível com o instrumental. Se eu encontrar com o engenheiro de som do Little Dragon, vou dar a dica.

Little Dragon, Yukimi Nagano e a faixa-título: não foram feitos um para o outro. 




terça-feira, 19 de julho de 2011

(Mais) Um Em Um Milhão


O autoKratz é (mais) um duo synthpop no inflado universo pop. David Cox e Russel Crank são ingleses, estão na ativa desde 2008 e assinaram com a prestigiada (?) gravadora francesa Kitsuné, lar de um povo considerável que nada na praia indie/eletrônica e veste camisas xadrez até pra dormir. Estranhamente, eles me parecem meio cafonas pra fazer parte do cast da moderninha Kitsuné.


Porque analisando o som do autoKratz em seu recente Self Help For Beginners, as conclusões tanto podem remeter à coisas bizonhas como o Red Flag (em "Fireflies") quanto aos australianos do The Presets (em "Last Light"). Sintetizadores na linha de frente e com um vocalista bem fraquinho na retaguarda (Cox), a dupla ainda teve a manha de convidar Peter Hook (New Order) pra fazer seu baixo tocado pelos joelhos miar algumas notas em "Becoming The Wraith" - uma faixa até bem simpática, reconheço. O disco todo, no entanto, tem mais baixos do que altos.

Hookie faz sempre a mesma coisa e a gente adora. Adora?




segunda-feira, 11 de julho de 2011

Alice no País das Maravilhas


Não sei se é por causa da postura blasé/drogada de Alice Glass, se é pelo vocoder habilmente manipulado por Ethan Kath ou se é pela bateria humana com muito mais pegada. O fato é que essa versão ao vivo de "Crimewave" é infinitamente superior à de estúdio do álbum de estréia da dupla canadense (Crystal Castles, de 2008). Porque é que eu não consigo tirar os olhos da Alice nesse vídeo?

Alice acertou tudo: do modelito à maquiagem.




domingo, 3 de julho de 2011

Insônia

Sem sono? Seus problemas acabaram. Dá pra garantir ao menos quase duas horas de cochilo sem apelar pros carneirinhos com estes dois lançamentos. In Flagranti e Com Truise estão naquela categoria de nomes relativamente hypados que eu não consigo entender porquê. E pode não parecer, mas são farinha do mesmo saco: seus discos são longas viagens instrumentais e provocam um tédio abissal ao invés de instigar o movimento - o que me parece o propósito de ambos.  


A dupla In Flagranti voa acionando o piloto automático nos ares da space disco com Céu de Brigadeiro: sem turbulências, sem emoção e de uma previsibilidade detectável em qualquer radar. Uns samples de vocais sexy aqui, umas percussões interessantes ali, mas tesão que é bom... imagina o Giorgio Moroder num filme pornô ambientado nos anos 70, com aquele bigodão. Tão sensual quanto uma persiana.  






Já o Com Truise parece ter tido inspiração mesmo na hora de escolher a alcunha, baseado num jogo de palavras com o nome do marido de Katie Holmes. Seu Galactic Melt é um bolo fatiado em dez pedaços rigorosamente iguais: slow disco instrumental de timbres invariáveis de bateria eletrônica e total carência de ousadia na escolha dos synths. Alguma luz na interessante "Futureworld", ainda assim insuficiente para salvar o disco do marasmo:



In Flagranti e Com Truise: dois nomes para não contar na combalida Dance Music safra 2011.