quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pinguim à Solta


O nova-iorquino Chris Glover começou cedo. Aos 10 anos cantava num coro gospel, aos 11 já gravava jingles, aos 12 aprendeu a tocar guitarra e entrou de cabeça no punk rock - ainda adolescente montou uma banda e tocou até no lendário CBGB. Com gosto musical bem variado, Glover (fã de country), formou uma boy band que era um "cruzamento de Backstreet Boys com Beastie Boys", segundo o próprio. A partir de uma certa repercussão com o projeto, Chris enviou um CD com suas composições ao rapper Q-Tip do A Tribe Called Quest, que o convidou para uma visita à Interscope. Lá, gravou um álbum que refletia todo o seu ecletismo, mas a própria gravadora não soube exatamente como posicionar o produto no mercado. A partir de 2009, Glover assume o pseudônimo Penguin Prison e começa a trabalhar com remixes - caracterizando-se por apagar todo o instrumental da faixa, deixando somente os vocais e começando do zero. Os trabalhos incluem nomes como Marina & the Diamonds, Goldfrapp e Jamiroquai. 


Com esse know-how todo, Penguin Prison estréia num álbum autointitulado e irretocável. Gravado no estúdio caseiro de Chris e concluído em Londres com o produtor Dan Grech-Marguerat (Paul McCartney e Radiohead no currículo), o disco é uma belíssima coleção de canções pop. Usando sintetizadores analógicos sem gosto de música requentada, Glover abre o disco com a primeira da série de letras sarcásticas, "Don't Fuck With My Money"; acrescentando gemidos "Uh! Yeah!" que evocam Michael Jackson e mostrando que estudou e realmente aprendeu a cantar. "Multi-Millionaire" (que é sobre "...ser rico, mesmo se você não tem dinheiro...", segundo ele) cruza violões, violinos, teclados e guitarras limpas num encontro imaginário entre The Associates e Erasure. "Golden Train" é a faixa que mais se aproxima da disco music no álbum e foi também a primeira a ser composta por Glover para o Penguin Prison. Aqui há o truque infalível e contagiante das palmas na marcação rítmica somadas às quatro cordas grossas do baixo percorrendo uma trilha sinuosa no meio dos sintetizadores e do falsete de Glover. Em meio a tanta sofisticação, "Desert Cold" chega a ser engraçada: os timbres dos teclados são tão manjados que parecem vir daquele Casio Tone Bank da sua sobrinha, mas são pura ironia frente à finésse do refrão. Aliás, os refrãos são um capítulo à parte no álbum e o ponto alto acontece no pop perfeito de "The Worse It Gets". Me impressiona o esmero com que Chris Glover esculpe uma obra-prima de bolso de três minutos onde tudo é pensado para colocar um sorriso de satisfação no nosso rosto durante a execução: o teclado martelado como se Jerry Lee Lewis fosse um artista synthpop, o refrão grudento e o solo ensolarado de guitarra como cereja do bolo no final. Definido por Glover como um álbum "sobre relacionamentos, amor e ódio que você pode dançar", Penguin Prison é um produto pop extremamente bem acabado e feito por um compositor talentoso que praticamente já nasce pronto em sua estréia em disco. Début do ano.

"The Worse It Gets": diamante pop.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Spam, get outta here!