quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Melhor de 2012 - Parte 2: Músicas

Que ano. Foi um tsunami de música boa. Pra música eletrônica/de pista, foi sensacional. Esse Top 25, aliás, é essencialmente desse tipo. O critério? Foram as 25 faixas que eu mais ouvi/toquei em 2012. Simples assim.
25) “Timbuck” > Maestro
24) “Genesis” > Grimes
23) “Costa Rica” > Ticon
22) “Jar Of Love” > Wanting
21) “Simple Song” > Konshens
20) “About You” > XXYYXX
19) “Blue Flame” > Fish Go Deep featuring Tracey K
18) “Let No Shadow Fall Upon You” > Drums Of Death
17) “Running Back To You” > Perseus
16) “Heartbeat (Them Jeans Remix)” > Childish Gambino
15) “How Do You Do” > Hot Chip
14) “My Love” > Finley Quaye
13) “I Will Never Change” > Benga
12) “Affection” > Crystal Castles
11) “Built For Love (Psychemagik Remix)” > Kraak & Smaak featuring Romanthony
10) “Don’t Go” > Justin Martin
9) “The Messenger” > Johnny Marr
8) “Eg-ged-osis (Todd Terje Extended Edit)” > Lindstrøm
7) “Inspector Norse” > Todd Terje
6) “Cerulean” > Simian Mobile Disco
5) “Hour Fortress” > Light Asylum
4) “Signals” > Photek
3) “Bajo Bajo” > I:Cube
2) “Lose Yourself To Jenny” > Kasper Bjørke featuring Jacob Bellens
1) “I Want You Back” > Surkin featuring Todd Edwards

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O Melhor de 2012 - Parte 1: Álbuns

Era isso então, 2012. Foi um ano prá lá de fértil, musicalmente. Se o próximo ano for tão bom quanto este, ficaremos todos muito felizes. O Top 10 Álbuns do And Now limita-se ao campo da eletrônica, dançável ou não. Clique no nome do álbum para ler a resenha. Eis:

 
 













domingo, 23 de dezembro de 2012

Fortaleza Que Não Desaba

 
Crystal Castles mantém um padrão invejável de qualidade com seu terceiro álbum, lançado mês passado. III traz a dupla canadense envolta num clima etéreo-opressivo em 12 faixas produzidas pelo tecladista Ethan Kath, gravadas em Varsóvia e mixadas em Londres.


A fria capital polonesa, com suas muitas catedrais em estilo gótico, deve ter inspirado o duo no saldo final das composições: a temática ao mesmo tempo sacra e profana da faixa de abertura "Plague" ("Virgin cells to penetrate / Too premature to permeate / They fake sincerity / Thy gifts don’t give to me / Now you’ve been annointed / They’ve been asking for it"), é um bom exemplo. "Wrath of God" continua: "Christen them / With paraffin / Sterilize samaritans / Contravene loyal ties". Saber em que contexto Alice Glass canta esses versos, quase soterrada por camadas de synths e ruído, é uma das incógnitas do álbum. Tentar descobrir com repetidas audições é que é o grande barato. Na terna "Affection", Glass sussurra "Without past I can't disappoint / My ancestry", enquanto Kath tira não sei de onde, um dos riffs de sintetizador mais bonitos do ano. A paleta sonora do Crystal Castles em III é diversa, mas a ousadia paga o preço da ojeriza que pode causar quando faixas como "Insulin" põe em dúvida até onde vai o limite do que cabe ou não dentro da música, em si. Ethan Kath explora habilmente esses limites no disco, com timbragens próximas de um mix de Ruído Branco com synths vintage, em que ele pode destruir melodias lindas como a de "Mercenary", o que pode soar tanto divino quanto estúpido. No ótimo electro-funk noise de "Kerosene" e na tranceira "Telepath", linhas de baixo atordoantes reforçam os arranjos, enquanto "Transgender", "Sad Eyes" e "Violent Youth" abrem caminho na pista de dança com timbres mais amigáveis e programações de bateria favoráveis aos quadris. A doce e enigmática "Child I Will Hurt You" encerra III, um dos discos do ano.

A sufocante "Kerosene": perturbadora, como quase tudo em III. 


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Sexta Feira Bagaceira: DJ Cuca


Foi assim: eu tinha 15 pra 16 anos (entre 1990 e 1991) e comecei a cair na nait. A diversão num sábado a noite de cidade do interior era a discoteca: aqui, na prática, significava um salão que trazia equipes de som de cidades maiores pra fornecer luz e som pra molecada. E aquilo era um negócio amplamente democrático. Na pista, rolava desde ítalo-disco até hip-hop. Sem a menor preocupação com mixagens. Era absolutamente normal uma "Enter Sandman" do Metallica trombar com "No Coke" do Dr. Alban. O foco do DJ era agradar todo mundo. Não lembro exatamente do meu debut nessa pista de dança, mas sei que dali pra frente, meus parâmetros sobre música mudaram absurdamente. Eu era um guri que carregava pra todo lado minhas cópias em K7 de um Best Of do Orchestral Manoeuvres in the Dark e Violator do Depeche Mode, e não queria saber de mais nada. Mas por uma pressão natural de amigos, resolvi ver qual era a dessa festa. E então, quando vi a figura do DJ com o vinil na mão lá no fundo do salão, foi como Moisés abrindo o Mar Vermelho pra mim. E era um oceano de sons pra serem descobertos. A partir dali, acid house, rap, reggae, ítalo-disco e disco começaram finalmente a fazer sentido na minha cabeça. E sob um paredão de caixas de som, com aquele grave musculoso pressionando a caixa torácica, fui finalmente convertido à dance music.

 

A Dinamite é uma equipe de baile de Sampa. No comecinho dos 90, rolavam coletâneas em vinil com hits das pistas animadas por esse pessoal; basicamente funk, hip-hop e raggamufin. No volume III, assinado pelo DJ Cuca, somente faixas instrumentais. Cuca - capítulo à parte - começou a discotecar aos 14 anos. Aos 16, já produzia remixes e megamixes para rádios. Talento puro. Ganhou duas vezes o campeonato de DJs organizado pelo DMC aqui no Brasil, chegou em oitavo no mundial. Nada mal. Cuca seguiu produzindo e remixando - já desenhou grooves para gente como Lighthouse Family, Shaggy, Inner Circle, Toni Braxton, Lauryn Hill, Wyclef Jean, Shakira e All Saints. Nesse volume III, Cuca avisa na contra-capa: "Todas as músicas são de autoria do DJ Cuca, feito com computador, sampler, teclado e bateria eletrônica". Nem imagino a qual computador ele se refere no longínquo 1991. Gravado e mixado no Fantastic Voyage Studio - do próprio Cuca - o vinil tem oito montagens com bases e vocais sampleados de clássicos do funk e reggae. A mistura dá um belo caldo. O hit (cult) do álbum é o raggamuffin "Reggae Melody Part I". Bateria e baixo sampleados do clássico dancehall de 1988 "Telephone Love" (J.C. Lodge), e os vocais são uma salada que inclui El General e Cutty Ranks, e mais um monte de vozes que eu não conheço. Bom, fato é que todas as equipes de som, obrigatoriamente, tinham que tocar essa faixa. Porque a reação do público era algo que não se vê mais hoje em dia: gritaria. Me diz em que pista atualmente a comoção toma conta do ambiente por causa de uma música? Se você souber, me convide.

"Reggae Melody Part I": engavetando samples pra rachar o assoalho. 
 


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Disco Synthpop do Ano: Light Asylum



Ninguém veio com algo tão consistente no gênero esse ano quanto o Light Asylum. Empurrando o synthpop à pontapés de volta pro lado escuro que consagrou bandas como Skinny Puppy e Nine Inch Nails, a dupla nova-iorquina formada pelo tecladista Bruno Coviello e a vocalista Shannon Funchess debuta com um disco pesado, nervoso e visceral. A química do duo impressiona: Coviello usa poucos elementos pra construir bases sólidas, melódicas e criativas, mas o grande trunfo do Light Asylum é a cantora Shannon Funchess, negona locaça que incorpora uma Grace Jones electro, ora em ataques de fúria à Douglas McCarthy (“IPC”), ora em momentos de pura paixão à Alison Moyet (“Shallow Tears”). Cantora espetacular (forjada no punk e em recentes turnês com o TV On The Radio), Funchess é de uma versatilidade assombrosa. Ela berra, muda de tom a cada minuto, exibe sua voz potente (na ameaçadora "Sins of the Flesh") e - junto com os sintetizadores disparados tecla por tecla de Coviello - comete a canção mais Yazoo de 2012 ("Angel Tongue").
 

Programações de bateria que remetem à um Nitzer Ebb primitivo ("End of Days", "Pope Will Roll"), ritmos eletrônicos prontos para as danceterias ("Hour Fortress"), efeitos atordoantes (repare no zumbido desorientador de "At Will": a tempestade elétrica é semelhante à devastação que o Klinik causou com "Moving Hands" em 1988) e riffs de teclado memoráveis ("Heart of Dust"), Light Asylum leva de barbada o título de álbum synthpop do ano. Que estréia, meus amigos.

"Hour Fortress": postura gótica, atitude punk. 
 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Happy Birthday To... Gigi D'Agostino


Ih, hoje é o aniversário do Gigi D'Agostino. O italiano farofento faz 45 anos. Detesta? Bom, eu não chegaria a tanto, mas ele tem o dom pra vender disco, pelo menos. Em 1999, seu single "The Riddle" (cover do não menos xinfrin Nik Kershaw) vendeu mais de um milhão de cópias só na Alemanha. D'Agostino também adora um auto-tune ("La Passion", de 2000, por exemplo) e tem uma queda forte pro brega (o que é aquela "L'amour Toujours"?). Seus riffs de sintetizador dificilmente ultrapassam as cinco notas, o que deixa tudo com cara de música de parquinho. Bom, tem uma faixa dele que eu gosto, o single "Bla Bla Bla", de 1999. Nessa, tiro o chapéu pro Gigi. Ele sampleou os vocais de "Why Did You Do It" da obscura banda inglesa Stretch, recortou e colou num contexto totalmente diferente na sua música. Ottimo lavoro, ragazzo!

"Bla Bla Bla": curti a letra.

Segunda Class: XXYYXX


Não, não, meu teclado não está quebrado. XXYYXX é o nome do projeto do jovem Marcel Everett, de apenas 17 anos. Dizer que ele faz música de gente grande é bobagem. Mozart compôs sua primeira sinfonia com oito anos de idade, então isso não me surpreende. Fato é que este ano foi uma babação de ovo impressionante ao redor do nome deste guri nascido em Orlando, na Flórida. Seu álbum epônimo pode ser ouvido na faixa no Youtube, e daqui a pouco deve chegar a um milhão de views. 
 
 
Em XXYYXX, Everett traz um relaxante downtempo de beats beeem preguiçosos ("About You"), vocais adulterados (sem auto-tune, ao menos), graves subterrâneos, temas angelicais ("DMT") e blues eletrônico ("TIED2U"). Pra uma referência mais direta, o trabalho deste moleque guarda alguma semelhança com o Burial do álbum Untrue, entre dubstep e ambient - mas com batidas mais limpas. O hype assusta, mas dá pra ouvir o disco na boa sem se preocupar com o falatório exagerado sobre Marcel Everett. Não tenha dúvida que ele tem talento, mas o cara não reinventa a roda com XXYYXX. Tenho que admitir, entretanto, que é um disco bem feitinho, cheio de texturas, ambiências e informação musical, que não se faz assim, da noite pro dia. Manda o play aí em "About You" e depois a gente conversa.

"About You": um extintor, urgente.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Falar & Soletrar


Quando eu começo a achar que o And One está deixando um pouco de lado as referências beirando o exagero em relação ao Depeche Mode, eles vêm com essa. Mas onde é que o trio alemão arrumou uma KORG KR55 - a mesma bateria eletrônica que o Depeche usou no álbum Speak & Spell, de 1981? No eBay? É ouvir as primeiras batidas de "Shice Guy" e lembrar instantaneamente de "Dreaming Of Me" ou "What's Your Name". E "Perfect Life", então? A exatos 02:56, o solinho de teclado é chupado na cara dura do trecho final da baladona melosa cantada por Martin Gore, "A Question Of Lust" (especificamente, o synth a partir de 03:00 minutos). Tsc tsc.

De interessante mesmo, só o synthpop leve de "Für Zwei" e a fantasmagórica "S.R.Y.", ambas com letra em alemão. No caso de "S.R.Y.", não faço idéia do que o Steve Naghavi declama em tom gravíssimo, mas pelo jeito, boa coisa não é. Tudo isso no novo EP do And One, Shice Guy.

"Shice Guy": bom gosto na escolha da drum machine.


Capim-limão


Roland Voss começou na quebradeira jazzy do drum'n'bass (no debut Drumatic Universe, de 1998), mas hoje seu som é um confortável tech house digno de figurar na compilação Café Del Mar.

Em Gloriette - seu novo EP - as seis faixas são altamente dançáveis, mas com esse calor... melhor curtir numa espreguiçadeira. O chill house de Voss é 4x4, mas por cima dele planam pianos elétricos Wurlitzer, vocais sussurrados pela russa Jane Maximova, synths aconchegantes, bleeps discretos, violões dedilhados. Eu até descreveria com mais detalhes esse EP, mas, opa, tá chegando meu drink, então você vai ter que se virar.

"Reinvented Me": vai mais um Bloody Mary aí?

In Gorbachev We Trust

Fashionistas.
Aposto meu par de MK2 que você não lembra que o Tesla Boy apareceu aqui no blog em 2010, por ocasião de seu debut Modern Thrills.


Pois o trio russo acaba de lançar um single novo, Split. O que dá pra dizer é que eles melhoraram bastante nos últimos dois anos. O som está menos afetado e um tanto mais elegante, mas ainda com a atenção totalmente voltada ao meio da década de 80. Mas não se anime muito. Igual ao Tesla Boy, deve ter umas três mil bandas ao redor deste planetinha, desesperadas pela sua atenção.

Tesla Boy: eles só querem seu carinho. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sexta Feira Bagaceira: Pianonegro


Roberto Zanetti. Nem sei quantas vezes esse nome já apareceu neste blog. Pudera. Produzindo, compondo e arranjando, o cara foi uma figurinha fácil na italo disco e eurodance do meio dos 80 e parte dos 90. Basta citar alguns nomes, de memória: Double You, Ice MC, Alexia, Corona. E os projetos solo? Savage, Raimunda Navarro... e Pianonegro.
 

O Pianonegro teve só dois singles na discografia: o autointitulado de 1990 e In Africa, de 1996. Mas o debut foi fantástico. Com um sampler na mão e uma idéia na cabeça, Zanetti fez o improvável: uniu a obscura disco-cucaracha "Jibaro" de Elkin & Nelson (1974), mais o funk "Jingo" do percussionista cubano Candido (1979), com a batida de "Keep On Movin'" do Soul II Soul. Pronto, hit instantâneo. Foi só dar uma bombada no groove e samplear um côro afro ritualesco que verbaliza uma letra ininteligível pra essa fusão dar certo. Ouvi, uns anos atrás, a versão original desses vocais, lembro que é uma gravação bem underground do começo dos 80, mas quem disse que eu recordo do nome? O interessante aqui é observar a criatividade de Zanetti ao juntar elementos tão díspares num hit bem esquisito para os padrões pop da época. Esse cântico hipnótico aliado à batida moderna grudou fácil na memória dos fãs de dance music e ganhou rapidamente o mainstream, tanto que essa faixa foi até trilha de novela aqui no Brasil (Meu Bem, Meu Mal, Globo) e frequentou tanto bailes black quanto as pistas do jet set. Democracia é isso.

"Pianonegro": maiabél o quê?

 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Andiamo, Kraftwerk!


Será que o ex-Kraftwerk Wolfgang Flür pulou esse episódio na autobiografia Ich War Ein Roboter, publicada em 2000? No vídeo abaixo temos o grupo em 1981, dublando uma versão em italiano para "Pocket Calculator", no extinto programa Discoring (espécie de Globo de Ouro da estatal Rai). É engraçado, vai.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Segunda Class: Gazebo


Paul Mazzolini nasceu no Líbano, filho de um diplomata italiano e uma cantora americana. Será lembrado pra sempre pelo clássico "I Like Chopin" de 1983, mas seu primeiro single é "Masterpiece", lançado um ano antes. Synthpop classudo, "Masterpiece" ajudou a popularizar a emergente ítalo-disco, gênero que rendeu dezenas de hits até a estagnação, por volta de 1987.

"Masterpiece": Mazzolini capricha no olhar 43.


domingo, 9 de dezembro de 2012

Disco Trash


Tarefa ingrata categorizar o som do duo In Flagranti. É um coquetel que mistura disco, electro, funk, rock, mas com um lado obscuro de samples irreconhecíveis, produção sujinha e faixas que soam como demos inacabadas.

 
O recente Dissimilated by-products (Volume 2) segue a lógica chacriniana de confundir ao invés de explicar, já que é uma continuação sem antecessor. Exibe em suas 12 faixas uma dance music sem texturas eletrônicas exageradas, soando como house music pré-histórica com samples enfiados à força nas composições. É assim na insana abertura "All That and a Bag of Chips" e nas baterias toscas de "Gridlock". Sasha Crnobrnja e Alex Gloor exploram os grooves orgânicos nas levadas de violão de "Humdrum", no funk "Autoscopy" e no electro-blues esquisitão de "Allemande". Aliás, esquisitice aqui é qualidade. Na afro-alucinada "Physical Maturity", a dupla lembra as colagens sem limites do Coldcut no final dos 80. Ainda inutilizam a boa linha de baixo de "Lingual Tibulation" com um loop vocal irritante e constroem uma ponte imaginária entre Nova Iorque e Ibiza nas disco-baleáricas "Cognition" e "Cephalalgia". No final das contas, Dissimilated by-products (Volume 2) causa a estranha sensação de estimular a curiosidade de ver no que vão dar as faixas, mesmo com um certo desconforto auditivo. É um prazer mórbido tão difícil de traduzir quanto a música do In Flagranti.

 "Autoscopy": melhor não tentar explicar.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Sexta Feira Bagaceira: A Flock Of Seagulls

 
Coisas do pop. O A Flock Of Seagulls foi formado em 1979 em Liverpool, pelos irmãos Michael Score (teclados, vocais e franja ridícula) e Alister Score (bateria), mais Francis Maudsley (baixo) e Paul Reynolds (guitarra). Não tinha limite pro mau gosto. O nome ("Um Bando de Gaivotas"? Barbaridade...) foi extraído de uma canção do seminal grupo punk inglês The Stranglers, chamada "Toiler on the Sea". A banda vinha de dois singles que nem beliscaram as charts britânicas ("[It's Not Me] Talking" e "Telecommunication", ambos de 1981), e os ingleses começaram a prestar atenção nas gaivotas só a partir de "I Ran (So Far Away)", de 1982: hit mundial. Exceto na Inglaterra, onde alcançou um modesto 43º lugar na parada. Vai entender.   
 

De qualquer maneira, foi suficiente pra animar os rapazes. Apenas um mês depois do lançamento de "I Ran" (Outubro de 1982), Mike Score e sua trupe estranhamente vestida já jogavam outro single no mercado: "Wishing (If I Had a Photograph of You)". Notou que eles adoravam colocar subtítulos auto-explicativos entre parênteses pra nomear as canções, né? Pois é. "Wishing" foi o primeiro single do que seria o segundo álbum da banda, Listen, lançado no ano seguinte. Produzida pelo craque Mike Howlett (OMD, Tears For Fears, Thompson Twins, Blancmange), "Wishing" finalmente entrava no Top 10 em sua terra natal. Li que Score chupou esse riff de sintetizador da guitarra de "Frame By Frame", do King Crimson, e vá lá, é parecido mesmo. Mas que diferença faz? Nesse contexto eletrônico/amargurado de new romantic sofredor, ficou sensacional. Se Phil Spector declarou na época que a faixa era de "tirar o fôlego", porquê Robert Fripp não haveria de ficar orgulhoso com a homenagem? Mike Score - que antes da fama havia sido cabeleireiro - ainda está na ativa com seu Flock Of Seagulls. E, ainda bem, sem a franja.

"Wishing": tapa no penteado.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Mic Twins


Não sei se chega a ser um problema, mas a sueca Karin Park tem um timbre vocal idêntico ao da metade do The Knife, Karin Dreijer Andersson.


O bom electropop de seu recente Highwire Poetry também não se afasta muito dessa praia aí: o produtor do disco é o compatriota Christoffer Berg, que já trabalhou com o próprio Knife, Fever Ray (projeto paralelo de Karin Dreijer) e Yukimi Nagano, do Little Dragon. Ela canta bem, o disco tem boas canções, com grandes momentos de tensão sintética ("New Era"), Björk feelings ("Fryngies") e pelo menos uma candidata a hit em potencial ("Thousand Loaded Guns"). Se você não está nem aí com essas comparações, ou - melhor ainda - não faz idéia de quem seja Karin Dreijer Andersson, recomendo. Pra outra metade, aviso: a falta de personalidade (talvez involuntária) de Karin Park em frente ao microfone, pode atrapalhar a audição de Highwire Poetry.

"Thousand Loaded Guns": boa amostra do pop eletrônico escandinavo em 2012.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Artigo 140, Parágrafo 3º



Tá embaçado pro tio do Tricky. Sem conseguir emplacar mais nenhum hit desde sua empolgante estréia (Maverick A Strike, de 1997, teve dois singles no Top 20 inglês e foi disco de platina duplo), o cantor escocês anda metido em treta com os homi. Em 2003, deu uns tabefes numa ex-namorada. Em Outubro do ano passado, depois de biritar e ingerir codeína num bar de Edimburgo, socou e cuspiu no rosto de uma mulher parada num ponto de ônibus. Justificou ter sido abusado racialmente no pub. Sentenciado em Outubro deste ano à 225 horas de trabalhos comunitários pelas atitutes nada gentis, Quaye não compareceu ao tribunal alegando não ter como pagar o advogado. Resultou em mandado de prisão.   
 


Fora isso, tudo bem com ele. Tanto que até disco novo já tem. Só que a maré ruim de Quaye parece ter refletido no som. 28th February Road tem poucos momentos ensolarados. Um só, pra falar a verdade: a faixa de abertura "My Love". Estranhamente, é o único reggae das doze canções do álbum. Pouco pra um artista bastante identificado com o gênero. De qualquer maneira, a música é linda. O melhor reggae que ouvi esse ano, ponto. Finley tem um timbre muito, muito bom. E versatilidade também. Isso garante à ele descer o tom no blues "With Your Love" e subir na jazzística "Troubadour". Sem malabarismos, com naturalidade. Seria uma pena esse 28th February Road passar batido, porque é um bom álbum de um cara inegavelmente talentoso, tentando se reerguer. Momentos de pura introspecção movidos à voz e violão como a emocionante "After the Fall" e a esperança na letra da sensacional "Shine" falam por si só. Força, Finley.

"My Love": só o amor constrói.  

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Men Without Songs

 
Um revival que definitivamente não vai acontecer: Men Without Hats.

 
Aí já é forçar a amizade. Baita pretensão de um one hit wonder (a razoável "The Safety Dance", no caso) achar que o tempo parou em 1983. Tem gente que faz isso com propriedade: fundindo, misturando, acrescentando sonoridades da época de ouro do technopop, mas com uma cara atual. Já esses canadenses, não. Sem tirar nem pôr, o som deles é um enfadonho e monótono pop eletrônico bobinho, redundante e datado, como sempre foi, aliás. "The Safety Dance" é divertida, vai. Até rola numa festinha flashback. Mas deixa ela lá, pra ocasiões especiais. Love In The Age Of War é o sétimo álbum do Men Without Hats, depois de quase dez anos de silêncio. Dez faixas que entram por um ouvido e saem pelo outro. Total indiferença. Curiosamente, a voz de barítono de Ivan Doroschuk lembra demais a de Andrew Eldritch, dono do campinho no Sisters Of Mercy.
 
"Head Above Water": é daí pra pior.
 

Segunda Class: Adele


Ela não perde o bonde (que tal esse trocadilho, hm? Hm?). Quem mais hoje poderia cantar o tema do vigésimo terceiro - e, dizem, ótimo - filme da franquia James Bond? Lady Gaga? Náá. Tem que ter crasse, fio. Isso sobra na nossa querida Adele Laurie Blue Adkins.



domingo, 2 de dezembro de 2012

Grandes Lábios


 
 
Como transformar a insipidez e os vocais blasé de Lana Del Rey em algo capaz de te transformar no John Travolta por alguns minutos?

 
Quatro faixas retrabalhadas por oito remixadores, um pessoal aí do primeiro escalão (Tensnake, Joy Orbison, Penguin Prison e Fred Falke entre eles), mas o resultado soou mais falso que o lábio superior da Lana. Nem tudo teve foco na pista de dança. A "Video Games" de Omid 16B, a "Born To Die" (duas vezes, por Moodymann e Gemini) e a difícil "National Anthem" de Tensnake, são só visões pessoais dos autores. O resto não ultrapassa o limite da curiosidade. Aproveitadora ou boa de marketing?
 
"National Anthem": Tensnake pisando na bola.

Synth Comedy

 
E assim vai o synthpop 2012. Mal das pernas. Esse aqui eu deixei escapar em Março (data do lançamento do disco), mas descobri a poucos dias e vale o registro. Não que eu tenha gostado, longe disso. Mas é interessante notar como a Alemanha é fertil em bandas do gênero. Bandas ruins, diga-se. Playground Of The Past é o sétimo álbum do trio chucrute, e o primeiro sob o nome Logic & Olivia (antes a banda chamava-se Darkcore). O que temos aqui é uma espécie de sub-Camouflage, se é que isso é possível. René Anke é algo tipo o Cauby Peixoto do synthpop, com seus vocais pomposos e afetados. E olha que eles até tem uns esforços que quase enganam. "Don't Forget", a faixa de abertura, é bem bonitinha com seu bom gancho de sintetizador e ritmo dançante e "The Darkest Night" tem um violino bem encaixado no contexto. O resto é monotonia, creia. A banda tenta soar séria ("Was It All"), mas acaba mesmo é parecendo não habitar este planeta ("Beautiful World"). Eu indicaria à Best Comedy Album no Grammy 2013.

Uma geral em Playground Of The Past: o risco é seu.


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sexta Feira Bagaceira: Bad Boys Blue


"_ Tu curte Pit Shop Boys?"
Levei cinco segundos pra entender que o dono da loja de discos que eu frequentava no comecinho dos 90 estava se referindo à Neil Tennant e Chris Lowe.
"_ Curto, claro."
"_ Pois é... esses caras aqui são muito parecidos!"
Ele segurava uma cópia de The Fifth, um título bem original para o quinto álbum do Bad Boys Blue, lançado em Outubro de 1989. Os Bad Boys originais eram o trio Trevor Taylor, Andrew Thomas e John Mclnerney, baseados em Colônia, na Alemanha, por obra do produtor Tony Hendrik, que criou o grupo. Foram bem populares na Europa e relativamente conhecidos na América do Sul. Mas o som não tinha muito a ver com os Pet Shop Boys, como tentava me convencer o dono da loja. E, claro, isso eu só fui discernir anos mais tarde. Em 1990, pra mim, era tudo igual. Na real, a música dos Bads rivalizava mesmo com a eurodisco melosa do Modern Talking, não com a sofisticação rítmico/melódica dos Pet Shop Boys. As letras também deixavam claro o oceano de distância. Repare no refrão de "You're A Woman", primeiro grande hit da banda: "You're a woman i'm a man / This is more than just a game / I can make you feel so right / Be my lady of the night". Era nessa onda aí: totalmente descompromissada. A letrista do projeto, Karin Hartmann (esposa de Hendrik) não queria nem saber o preço do dólar, o negócio dela eram emoções baratas no banco de trás. Outros hits vieram: "(A World Without You) Michelle", "Hungry For Love", "How I Need You", "Come Back And Stay", "I Wanna Hear Your Heartbeat" (essa até ganhou uma lamentável versão aqui no Brasil, pelos gaúchos da banda Barbarella: virou "Só Uma Canção", sente o drama). Dois membros já partiram desta para melhor (Taylor e Thomas) e o britânico John Mclnerney segue gravando e segurando o nome do grupo.


"Kisses And Tears" é o quarto single do trio, lançado em 1986. Não tem o vigor de outras faixas mais conhecidas do grupo, mas passeia com desenvoltura pela ítalo-disco de Savage e Gazebo, com um refrão tristonho e um apelo dançante de movimentos mais lentos. Quem liga para noções como originalidade e inventividade, se a música do Bad Boys Blue é esse bubblegum technopop grudento e divertido?

"Kisses And Tears": santa ingenuidade, Batman.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Experimentar (Não) É Preciso

 Das duas uma: ou discos de eletrônica experimental faziam sentido pra mim só no século passado ou não tenho mais paciência pra gente que se autoproclama artista antes de qualquer coisa (músico, por exemplo). Nem sei se essa autoproclamação é o caso do francês Quentin Dupieux (Mr. Oizo) ou do americano Dayve Hawk (Memory Tapes) - espero que não - mas seus discos mais recentes são chatos pra cacete.
  

O título Unreleased Unfinished Unpleasant é a melhor coisa dessa compilação de sobras de Mr. Oizo, porquê explica exatamente o que são as 12 faixas: não lançadas, inacabadas e desagradáveis, conforme tuíte do próprio:

Ele podia ter substituído o "prepare seus ouvidos" por "prepare seu saco". E dá-lhe timbres esquisitos, ritmos trôpegos, sequências irritantes. Não admira ele ter disponibilizado de graça essa tranqueira.

"Duck Guts": e esse tecladinho?





Já o Memory Tapes é o cabeçudo da história. Profundo, folkeado, onírico. Três adjetivos que indicam perigo quando reunidos em disco. Cuidado.

"Sheila": oito minutos e meio. Sono.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Segunda Class: Bryan Ferry


Se eu te perguntasse qual é a melhor música dos 80, o que você responderia? Eu afirmo sem pestanejar: pra mim é "Don't Stop The Dance", de Bryan Ferry. Lançada como segundo single do sexto álbum solo do cantor inglês (Boys and Girls, de 1985), a música é exatamente como Ferry: elegante, sofisticada, sedutora. Hoje - aos 67 anos e na ativa - a voz já não é a mesma, mas "Don't Stop The Dance" capta Bryan Ferry no auge. Clássico à prova do tempo.

"Don't Stop The Dance": como o vinho.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Pop Song do Mês: Charlotte Sometimes


Não jogue essa moça na vala comum onde estão Ke$ha, P!nk e Kelly Clarkson. Ela não merece. Jessica Charlotte Poland não usa auto-tune e não grava vídeos com festinhas teen como pano de fundo. Ela toca, compõe e extraiu seu nome artístico do livro infantil homônimo, mesmo tema que inspirou a clássica canção do The Cure. Já é sinal de bom gosto, hm?


Seu EP mais recente - Circus Head - está aí. Com folk ("Second Best"), country ("Paint the Sky"), pop à Shania Twain ("Make Love to a Stranger") e uma marchinha deprê ("Circus Head"), pra mostrar que dá pra ser um pouco mais criativa no que tange aos arranjos do que essas gurias pós-American Idol. E tem "Brilliant Broke and Beautiful", uma delicinha de três minutos e meio, pra tamborilar os dedos. Boa menina.

 "Brilliant Broke and Beautiful": os melhores três minutos do mês.