domingo, 26 de fevereiro de 2012

House Divina


Se Prince resolvesse se tornar um artista de dance music ele provavelmente soaria como "Heaven Only Knows", deep/soulful house da dupla Toni Economides e Matthew Bandy mais o vocalista Rick Collins, no novo projeto Xakosa. Beats borbulhantes correndo juntinho com o baixo num groove minimalista e eficiente.

"Heaven Only Knows": lembra o mini-gênio, não?


Tropicália


Como transformar um hit de dez anos atrás numa coisa completamente nova e superior ao original? Pergunte pro Perseus, esse produtor americano que jogou os vocais de "Foolish" (hit da cantora Ashanti de 2002) numa base ítalo-disco lenta, sexy e refrescante como uma brisa de verão. A estação mais quente do ano, aliás, parece servir de inspiração pro excelente Russian Girlfriends EP, lançado no final do ano passado pelo selo French Express. Dos estilhaços de "Set Adrift On Memory Bliss" do PM Dawn na faixa-título ("Russian Girlfriends") aos timbres caribenhos dos teclados e percussão de "Cool Runnings", isto sim deveria ser a trilha pro verão austral no país do arerê. Sonha, Carlinhos.

Russian Girfriends EP: sexo, suor e samplers.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Technodubismo Cerebral


O produtor de Manchester Mark Stewart acaba de lançar seu novo EP sob o pseudônimo Claro Intelecto, Second Blood EP (saiu em vinil pela holandesa Delsin agorinha em 2012).


Descartando qualquer relação com os clubes (a não ser pela levada da terceira faixa, "Voyeurism"), o EP avança pelo techno instrumental de ambiências dub com grooves secos e mecânicos (a faixa-título) ou caminha lentamente por um túnel inundado por timbres aquosos de bateria ("Heart"). "Voyeurism" ameaça engrenar como dance track, mas o objetivo de Stewart aqui tem muito mais a ver com a contemplação do que com a jogação. Tarefa cumprida com louvor, Mark.

PS.: confira aqui o bom remix do Claro Intelecto para "Leave In Silence" do Depeche Mode (saiu na compilação Remixes 2: 81–11).

"Second Blood": glitch + dub + techno - IDM.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

7 Razões


"7 Days" é o meu R&B número um. Lançada em Julho de 2000 no Reino Unido e em Outubro nos Estados Unidos, foi um sucesso estrondoso. Topo do paradão inglês, entre as dez mais da Billboard. Nada mal pra um cidadão nascido em Southampton, Inglaterra. Invadir assim um mercado conservador como o americano não é toda hora que acontece, ainda mais no R&B, jóia local. É que David - então com apenas 19 anos - mandou bem demais. Com produção do galês Mark Hill, o single é uma gema pop que ajudou a catapultar o álbum de estréia do cantor (Born To Do It) pra lá de 8 milhões de cópias. Aproveitei pra enumerar sete motivos pra "7 Days" ser tão legal:

1) Tem um riff de violão que não tem explicação. É tão, tão grudante que fica difícil se desvencilhar dele depois de ouvir.  
2) A programação de bateria é matadora. Barulhinhos certeiros, sininhos, dedos estalando.
3) O refrão é fácil, extremamente fácil, pra você, e eu e...
4) É uma canção sexualmente explícita na letra, contida na atitude mas que também é um grande estímulo dançante.
5) Serve de trilha tanto pra pista quanto pro ritual de acasalamento.
6) Craig David tem a manha. Faz o tipo "mamãe-passou-açúcar-nimim", mas canta bem.
7) O vídeo é cool, David até se puxa na interpretação. 

"7 Days": haja fôlego.



terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Prafrentex é que se Anda

Belo perfil.
A canadense Claire Boucher é jovem, bonita, canta e toca teclados. Mas não pense em La Roux ou Little Boots, sua encarnação artística Grimes está mais pro terreno de Lykke Li e Laurie Anderson. E apesar de seu debut Visions (4AD) soar vanguardista (mas não pretensioso), o disco pode ser igualmente curtido por quem não está nem aí para as possíveis aspirações que vão além da simples distração auditiva por parte do Grimes. 

 
O que acontece no álbum é uma fusão esvoaçante de Enya com Elizabeth Fraser e de synthpop com IDM, que possibilita tanto vôos experimentais sustentados por vocoders ("Eight") quanto funks de plástico como "Colour of Moonlight (Antiochus)" - que renderia um mashup interessante com "When Doves Cry" do Prince. Pra se entregar de cara, basta ouvir o primeiro minuto da sequência de acordes engrenados de baixo sintético da segunda faixa, "Genesis", ou a canção a seguir, "Oblivion". Os vocais delicados e ininteligíveis (aí está mais um elemento a favor dela) de Claire completam o trabalho. O álbum está cheio de batidas criativas ("Visiting Statue"), timbres esquisitos ("Symphonia IX (my wait is u)"), lindas passagens de pop eletrônico/etéreo ("Nightmusic") e mostra, principalmente, que existem muito mais maneiras de cantar do que você imagina. Uma estréia com o pé direito.

"Genesis": basta um minuto.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Apollo V


Até me animei quando ouvi uns dias atrás "A Deeper Dub", faixa do EP de mesmo nome que precede o quinto álbum do Apollo 440, The Future's What It Used to Be. Infelizmente o álbum não bateu. Aquela banda do bom disco Electro Glide in Blue (1997) e do fantástico single "Ain't Talkin' 'bout Dub" - que fundiu de forma excepcional "Ain't Talkin' 'bout Love" do Van Halen com drum'n'bass - hoje se resume a um electro-rock sem brilho, desses que você encontra em qualquer Pendulum por aí. Ou seja, é mais um sub-Prodigy.

"A Deeper Dub": nem dub nem profundo.

Renovação Necessária

Ano passado o canadense Abel Tesfaye apavorou os fãs de R&B tradicional com sua visão nublada do gênero em nada menos do que três álbuns lançados de forma totalmente independente sob o pseudônimo The Weeknd. Prolífico e criativo, Tesfaye acabou mostrando meio sem querer que existe vida além-Timbaland. Blood Orange e King chegam pra apontar outros caminhos.
 
Dev Hynes é o da direita.
Blood Orange é só um dos vários projetos do texano Devonté Hynes. Colaborador de gente como Chemical Brothers, Florence and The Machine e Basement Jaxx, Hynes tasca um soul oitentista e meloso nesse alter ego. Imagine o Prince produzido por Jimmy Jam & Terry Lewis e estaremos chegando próximo do som encontrado no single Dinner, lançado ano passado.

"Dinner": Hynes bico doce.




King cuidando de suas respectivas retinas.
King é um trio feminino de Los Angeles. Tem por enquanto só o EP The Story (2011) no currículo, mas são abençoadas três faixas, pode acreditar. Vocais raros de se encontrar hoje em dia, soul moderno trabalhado com harmonia e delicadeza. Rendeu (merecidos) elogios do rapper e produtor Questlove do The Roots.

The Story EP: uma melhor que a outra.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Disco Trash

Esperar o quê desse cara depois de uma foto dessas?
Um dos álbuns de dance music mais fuleiros do ano acaba de ser lançado. Trata-se de Disco Crash, do DJ e produtor francês Christophe Le Friant, artisticamente conhecido como Bob Sinclar. Depois de um começo promissor em que Sinclar dividia a autoria do hit de pista "Gym Tonic" com Thomas Bangalter (Daft Punk) ainda em 1998, o DJ foi se aproximando single após single do mainstream até ouvir finalmente as moedas tilintando com o estouro de "Love Generation" de 2005. Daí pra frente, ladeira abaixo. 

 
E o elenco convidado para os vocais ajuda? Nada. Pitbull, Sophie Ellis-Bextor, Snoop Dogg, Sean Paul... todo mundo afim de faturar uns trocados. Que french touch o quê. O lance aqui é Bob diluindo sua house music inofensiva em samples nada inspirados (o riff de sintetizador de "No Limit" do 2 Unlimited em "Tik Tok") ou desperdiçando Sophie Ellis-Bextor na sutil "Fuck With You". E tem mais: Snoop Dogg dando uma chupada no rapper das antigas Tone Loc ("Wild Thing"), "Far L'amore" que parece uma faixa vinda da cabeça picareta do Mister Sam (produtor argentino da Gretchen), a tarantella disco de "Not Gangsta" e o nível de sacarose elevadíssimo de "Rainbow Of Love" e "Life" - daquela leva de canções feitas na medida pra durar um verão (o nosso, por que a Europa a essa altura está com neve até a testa). Bob Sinclar é repetitivo, rasteiro, usa truques baratos e perfumaria high-tech pra seduzir uma manada de adolescentes que vêem nele um semideus bombado das picapes. Sabe o que mais assusta aqui? Todas as doze faixas tem cara de confirmada da Jovem Pan. Será que Disco Crash vai virar um hit singles pack? 

"Rock The Boat": picaretagem reconhecível à distância.