quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ligue Jah

 
Não é o reggae que sumiu, é você que não anda procurando direito. Deixe um pouco de lado essa trip enfumaçada do Bob Marley e (re)descubra dois artistas com álbuns fresquinhos que fazem jus à tradição do melhor do gênero dessa ilha estranha.
 
 
Jimmy Cliff, veteranaço (64 anos), um dos responsáveis pela popularização do reggae (bem antes de Marley). Em Rebirth, Cliff canta como um guri no auge da forma, voz intacta, um dos melhores canários que já apareceram na Jamaica. Seu álbum é de reggae vintage, mas não naquela linha roots/arrastado, cheio de lamentações de volta à Africa e pregações vazias tipo "vamo tacar fogo na Babilônia". Nááá, aqui o lance é emanar boas vibrações, louvar o amor e vislumbrar o futuro com os pés no chão, sem messianismos hipócritas. E lembre-se que Rebirth é um discão de um dos últimos moicanos na ativa: Tosh e Marley já se foram.

"Ship Is Sailing": Cliff bico doce.




 
Cutty Ranks também já não cozinha na primeira fervura. Aos 47 anos e na ativa desde os anos 80, começou a chamar atenção mesmo no começo dos 90 com seu raggamuffin' cru e de linhas de baixo com impacto semelhante ao de um chute no estômago desferido pelo Anderson Silva. Não tem ninguém no mundo que cante como esse negão. Ele despeja o verbo com uma urgência apocalíptica, com aquele sotaque rude boy carregadíssimo. Só que no seu recente Full Blast, Ranks amacia o discurso e manera nos ataques sonoros, de modo que temos mais dancehall e menos raggamuffin' rolando. O que não desqualifica o trabalho, de modo algum. É um disco que funciona tanto na pista de dança quanto no headphone; tem melodias lindas, momentos apaixonados com um Cutty meio sem jeito ("In My Place"), dedo na ferida ("Murderers And Thief"), beats R&B ("My Girl"), participações de luxo (a voz abençoada de Beres Hammond em "Way To Go") e a tradicional metralhadora giratória vocal de Ranks ("Blood Stain"). Absolutamente indispensável.

"In My Place": Cutty Ranks + Hyh Volume
 

2 comentários:

  1. Muito agradecido, Sr. Anônimo. Seria realmente um pena que apreciadores de boa música (nem falo só de fãs de reggae) perdessem esses dois discos... abrass!

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