domingo, 30 de setembro de 2012

Disco Savoureux


 
Acabou de sair By Your Side, debut de Breakbot (o largadão aí acima). O francês Thibaut Berland grava pela Ed Banger - o que é sinal de alguma credibilidade - e a lista de artistas bacanas remixados por esse tiozinho é bem relevante, dá uma espiada


O recheio de By Your Side é bem mais apetitoso do que a capa. Pós-disco aconchegante, electro-funk sossegado, grooves macios, pianos Wurlitzer, boas harmonias vocais, ritmos disco. Ás vezes até descamba pra um indiezinho Tahiti 80/Phoenix, mas nada que tire o foco setentão do álbum. Bem agradável. De lambuja, o hit "Baby I'm Yours", do ano passado:
 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Sexta Feira Bagaceira: Kon Kan

 
"_ Hey, vamos dançar!"
"_ Ah, eu não sei.."
"_ A única coisa que você tem que fazer é mover os seus pés."
"_ Que música é essa que tá tocando?"
"_ Eu não te entendo!" 
"_ 'Eu não te entendo'? Eu não entendi".
 
Porque cargas d'água o músico, compositor e produtor Barry Harris resolveu incluir esse diálogo em português na abertura da versão Club Mix de "I Beg Your Pardon" eu não sei, mas em 1989 todo mundo que ouvia FM ou frequentava alguma danceteria parecia saber o texto na ponta da língua.

 
O single (lançado em 1988) foi o debut da então dupla canadense Kon Kan - nome extraído das palavras Can(adian) Con(tent), regulamentação de rádio que obriga as estações locais a transmitir 30% de música produzida no Canadá. Hit dos dois lados do Atlântico, "I Beg Your Pardon" está no álbum de estréia do duo, Move To Move. A faixa empresta (e devolve em outro contexto) os sintetizadores de "Call Me" (da italiana Ivana Spagna), tem um sample de "(I Never Promised You a) Rose Garden", hit de 1971 da cantora country Lynn Anderson (o trecho "Smile for the while and let's be jolly / We shouldn't be so melancholy / Come along and share the good times while we can"), mais amostras dos grupos G.Q. ("Disco Nights", 1979) e Silver Convention ("Get Up and Boogie", 1976). Esse pacote de referências veio numa embalagem house não muito original, mas de eficiência comprovada. O vocalista Kevin Wynne caiu fora pouco depois, e o Kon Kan de Harris ainda lançaria dois álbuns (o segundo, Syntonic, teve relativo sucesso aqui no Brasil), antes de acabar. "I Beg Your Pardon" segue como identidade sonora do grupo, identificável já nas primeiras socadas do bumbo robusto da canção.

"I Beg You Pardon": "_ A única coisa que você tem que fazer..."


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Pop Song do Mês: Catcall

 
"Satellites", single da australiana Catcall (Catherine Kelleher) saiu em Outubro do ano passado, mas só fui conhecer umas semanas atrás porque ela está no playlist de uma rádio que ouço direto. Nunca é tarde. É uma (synth)pop song no formato clássico dos três minutos e meio que parece ter sido estudada à exaustão pra nada dar errado: vocais, ponte pro refrão, refrão, batida acessível, melodia, o violão em 02:20... uma maravilha. Mais dessas por favor, Ms. Kelleher.

"Satellites": na mosca.


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Segunda Class: The KLF

 
Segunda feira é dia de tirar o pé do acelerador. Deixar o som baixinho, iluminação fraca.
 
 
Pra colaborar com o clima, temos Chill Out (capa acima), do KLF. Foi o primeiro álbum pensado e concebido para o descanso pós-gandaia dos ravers. Lançado em Fevereiro de 1990, é provavelmente o primeiro disco de ambient house da história. E foi um marco. A inclassificável coleção de 14 faixas concebidas por Jimmy Cauty e Bill Drummond narra uma viagem noturna de trem, partindo do Texas e chegando à Louisiana (detalhe: eles nunca estiveram lá, até a data), em meio a samples de pastores ensandecidos, transmissões radiofônicas, rebanhos de ovelhas e sintetizadores etéreos, além de trechos de Fleetwood Mac, Elvis Presley, 808 State e Van Halen, entre outros. Já li em alguns lugares que o álbum foi gravado num take só, com a dupla inglesa disparando samples e tapes pré-gravados, mas honestamente, não dá pra acreditar. O que eu posso afirmar é que Chill Out é um dos melhores discos que já ouvi na vida, fácil. E o KLF, uma banda que está no meu Top 10 eterno.
 
"Wichita Lineman Was a Song I Once Heard": aperte o cinto.


domingo, 23 de setembro de 2012

Rosa de Plástico


O sexto álbum do Four Tet não é exatamente uma novidade: das oito faixas, seis já haviam sido lançadas como single.

 
Ainda assim, Pink é obrigatório se você quer saber a quantas anda a eletrônica relevante deste 2012. "Lion" e "Peace For Earth" (as duas inéditas) mantém o padrão de qualidade das produções do britânico Kieran Hebden. "Lion" cresce aos poucos; é didática ao mostrar como ir preenchendo a estrutura da canção a partir de um esqueleto percussivo até deixá-la no piloto automático e percorrer um caminho de sombras provido pelos sintetizadores, enquanto encara uma chuva de xilofones no final da viagem. Já "Peace For Earth" é uma cápsula ambient techno que flutua na placidez estratosférica e depois volta à terra fragmentada em dezenas de pedaços flamejantes. Poético, não? Mas a sensação é essa mesmo. Four Tet é mestre em suscitar emoções e criar paisagens fictícias como essas através de sua música, sem resvalar para a eletrônica experimental incoerente ou o transcendentalismo barato. Satisfação garantida.

"Lion": lição de eletrônica.


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Amour, Imagination, Rêve

 
Hoje choveu mais de 200 milímetros na região sul do Rio Grande do Sul, onde moro. Ou seja, caiu de balde o que normalmente levaria dois meses pra acontecer.


Tava ouvindo "Le Soleil Est Près De Moi", single de 1997 do duo francês Air, e pensando em como essa faixa - a despeito do título - cai bem pra dias chuvosos como hoje:
 

domingo, 16 de setembro de 2012

Xerocadas Geniais

Shadow (a frente): escritório desorganizado.
DJ Shadow vai gravar mais 38 discos e nenhum vai chegar aos pés do seu debut Endtroducing....., de 1996. Era o tal momento mágico do artista, Toque de Midas, auge da inspiração.
 

Beleza, mas como é que ele grava um disco fundamental como esse, assim, de cara? Bueno, o californiano Joshua Paul "Josh" Davis vinha desde o começo dos 90 azeitando a máquina (no caso, o sampler Akai MPC60), até chegar na mistura perfeita de rap, funk, jazz e psicodelia de Endtroducing..... Esse processo todo agora pode ser descoberto através do lançamento mais recente de Shadow, Total Breakdown: Hidden Transmissions From The MPC Era, 1992-1996. A coletânea compila exatamente as faixas não lançadas no período pré-Entroducing (há registros de 25 segundos até sete minutos), e dá pra ter a exata noção do trabalho paciente de Davis com uma mão nos toca-discos e a outra no MPC.
 
"Affectations": quase no ponto. 


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sexta Feira Bagaceira: Ice MC

 
Ian Campbell Esquire: ICE, sacou? A parceria com o produtor mezzo picareta italiano Roberto Zanetti (Savage, Pianonegro) pegou a fase áurea do hip-house (1989/1990) e transformou isso em um álbum e alguns singles de sucesso - "Cinema", entre eles.
 

Mas qual era a graça de ouvir um monte de nomes de atores famosos (John Wayne, Eddie Murphy, Alain Delon, Mickey Rourke, Woody Allen, Sean Penn, Marilyn Monroe, Whoopi Goldberg...) berrados sob uma base house xinfrin? Hããã... o frescor da novidade, talvez? Os elementos eram manjados, mas juntos numa canção, sei lá... quantas vezes você dançou com alguma outra faixa anterior de idéia parecida? Eu achei que era original, pelo menos. Aliás, em 1990, qualquer coisa que tivesse um sintetizador (pra mim) era novidade. E o britânico Ice MC era carismático. Sabia da fuleiragem do seu som, mas interpretava bem o papel de arauto da então novíssima dance music européia - nova no formato, mas pilhada do underground da cena de pista americana (house e rap). Vai saber se não foi por essa cafonice assumida que Danny Boyle incluiu sua "Think About The Way" (de 1994) na trilha do estupendo Trainspotting? E aqui no Brasil ainda foi trilha da novela Barriga de Aluguel. Imagina a superexposição de "Cinema", durante 10 meses martelando em cerca de 50% dos televisores ligados na faixa das seis da tarde no Brasil. Ice MC foi um sucesso tremendo do crossover rádios/pistas, até cair no ostracismo pós-eurodance da segunda metade dos 90. Mas "Cinema", esse clássico do hip-house farofa, ficou pra posteridade.

"Cinema": Uh! Yeah!
 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Lenda Viva


Pra você que acredita em elfos, duendes, políticos, Boitatá, seleção do Mano Menezes, Papai Noel e nos pastores da Record; você que acredita que algum dia vai entender alguma mulher, que vai entender como funciona o mercado de commodities ou você que acha que algum dia vai usar a Fórmula de Bhaskara para alguma coisa. Você que não perde o Zorra Total e a Turma do Didi; você que usa pochete; que combina as cores do sapato com o cinto, a bolsa, brinco, colar, esmalte de unha, relógio... você. Vo-cê.

 
Este The Midsummer Station - novo álbum do Owl City - é pra você. Vai com fé.

"Shooting Star" e o vídeo certeiro: pop vira-lata.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Happy Birthday To... Moby

 
Richard Melville Hall, nascido em 11 de Setembro de 1965. Um dos artistas-chave da dance music/eletrônica dos 90, e ainda relativamente interessante nos 2000. Anda meio devagar ultimamente. Seu álbum mais recente (Destroyed, do ano passado) é muito mais pro descanso pós-gandaia do que pra derreter sob luzes frenéticas. Meio ambient, meio melancólico, meio chato. Logo o Moby, craque das pistas. 47 anos hoje. Hora de dar uma sacudida, Sr. Richard.

"One Time We Lived": a última grande canção de Moby, lá de 2009.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Disco Certo Na Hora Errada

 
Confusão: semana passada apareceu na rede disco novo do AraabMUSIK, uma continuação natural de seu bom Electronic Dream, lançado ano passado. Algumas horas após o ocorrido, o jovem por trás do projeto, Abraham Orellana, tuitou: "Electronic Dream 2 não está saindo ainda". O fato é que a música soa realmente como AraabMUSIK, mas se era pra ser esse o tracklist ou esta a capa do álbum, eu não sei.
 

O que vale aqui é o aconchegante mix de dubstep com hip-hop instrumental - e trance, que tinha tudo pra ser um estranho no ninho na mistura, mas acaba deixando a música de Orellana com um aspecto mais quente e colorido. E vem tudo costurado faixa a faixa pelo sample da voz rouca feminina "you are now listening to Araabmuzik", igualzinho ao disco passado. Isso pra uma segunda feira é melhor que massagem.

"We Just Deeper": sample dos vocais de "As The Rush Comes", hit trance do Motorcycle.
   

domingo, 9 de setembro de 2012

Mais Influentes Do Que Ricos


 
Imagina a surpresa da dupla Rob Smith e Ray Mighty ao acordar numa manhã de Janeiro de 1990 e ver a americana Sybil no sexto lugar da parada inglesa com o single "Walk On By" - cover da canção imortalizada por Dionne Warwick e composta pela dupla Burt Bacharach (arranjo) e o recém falecido Hal David (letra). A história é a seguinte: a versão de Sybil é coincidentemente parecida com a que a dupla de Bristol havia gravado dois anos antes: baixo de reggae, batida de rap, vocais soul - só era um tiquinho mais pop, com a adição de uns teclados açucarados e backing vocais. E lá foi a Sybil pro alto do paradão enquanto Smith e Mighty não alcançaram nem o Top 40. Frustrante, não?
 
 
Bom, felizmente, eles não se abateram. O cruzamento de hip-hop com dub que foi um dos pilares do trip-hop inglês teve em Smith & Mighty um dos seus pioneiros - tanto que produziram o primeiro single do Massive Attack, "Any Love", de 1988. A dupla ainda está na ativa e acabou de lançar uma coletânea que cobre o período inicial da sua carreira, The Three Stripe Collection 1985 - 1990. Ouvindo hoje dá até pra achar os beats meio secos e os arranjos econômicos, mas se atualmente nós temos um cara como o Burial fazendo discos incríveis, pode ter certeza que uma parcela dessa inspiração passa pelos singles de Smith & Mighty.

"Walk On...": apropriação indébita de idéias.  



Happy Birthday To... David Stewart



Assim como Neil Tennant do Pet Shop Boys, quando a banda de David Stewart estourou ele já passava dos 30 anos. A partir de Sweet Dreams (Are Made of This), segundo álbum do Eurythmics (lançado em Janeiro de 1983), o grupo nunca deixou de frequentar o Top 10 britânico a cada novo disco. Então não é de se espantar que hoje o cara complete 60 anos de idade. Pop stars envelhecem também, fazer o quê? Mas fora a baita contribuição para o bom pop desse hoje senhor nascido em Sunderland, Inglaterra; fora a penca de hits, fora a fama, grana, fãs em todas as partes do mundo, fora tudo isso, o mais importante é a pergunta que fica: ele pegava ou não pegava a Annie Lennox?
 
Duas coisas que vão deixar saudades: Top Of The Pops e Eurythmics.


sábado, 8 de setembro de 2012

Drop The Bomb

 
 
Tim Simenon foi um dos heróis da primeira geração acid house britânica. Em 1987 - com pouco mais de 500 libras - prensou em vinil um engavetamento de mais de 70 samples chamado "Beat Dis", hit underground. Depois de assinar com o extinto selo de dance music Rhythm King, a distribuição e divulgação mais organizadas levaram o compacto ao número dois no paradão inglês um ano mais tarde, trazendo consigo uma leva de novos artistas com o smiley grudado nas capas ("Doctorin' the House" do Coldcut e "Theme From S-Express" do S-Express seguiram "Beat Dis" rumo ao Top Dez britânico). Produtor influente e aluno aplicado, Simenon trabalhou com gente tão diversa quanto Depeche Mode, Neneh Cherry, David Bowie e Sinéad O'Connor e ainda ajudou a definir o que seria o trip-hop em singles como "Winter In July" (1991) e o breakbeat de bandas como o Prodigy com o lado mais agressivo do seu subestimado álbum Unknown Territory, também de 1991. Para entendermos parte desse processo, temos do Bomb The Bass o recém lançado Rare and Unreleased, uma compilação que se auto-explica pelo título. Indispensável.   
 
 
A fantástica "Black River" (com vocais do ex-Screaming Trees Mark Lanegan), aparece numa versão demo em Rare and Unreleased. Impressiona a qualidade da demo (que mais parece o produto final, sem nada pra ser melhorado) e o resultado arrepiante da versão que foi pro álbum "Future Chaos" (2008), no vídeo abaixo: 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Napalms Voadores


Steven Ellison (Flying Lotus) encontra o coletivo californiano de rap Napalm Clique para uma jam eletrônica, com resultado irregular. De bom, tem a trip enfumaçada e sossegada de "Let It Ride" e a renovadora fusão techno/hip-hop de "High". Mas na sujinha "Right & Exact" e na confusa "This Is For The...", o nível de THC passa do limite tolerável e é provável que a fumaça tenha encoberto os botões da mesa de som.

Flying Lotus & Napalm Clique: acende, puxa, prende, passa...

Pop Mignon

 
Susanna Hoffs sempre foi minha Bangle preferida. Pequenininha, lábios generosos, e segurando aquela Rickenbacker... nossa. Ah sim, e ela canta bem, quase esqueço.
 

  Ela lançou há pouco, de forma independente e digital, um EP que é um docinho pop. Mais ou menos como ela. Some Summer Days tem cinco canções tipo fogueira e violão, juntando folk e country com melodias bubblegum num fim de tarde praieiro. Título mais do que apropriado.

"Raining": lenha na fogueira.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

No Doubt


Duvido que alguém compre um CD do Animal Collective e ponha pras visitas escutarem na sala. Duvido que alguém ponha o CD do Animal Collective pras visitas escutarem na sala - e todos que gostarem do que estão ouvindo - não estejam sob efeito de alguma substância entorpecente. Duvido que alguém que diga que o Animal Collective é sua banda preferida não esteja fazendo isso só pra parecer cool. Duvido que alguém que seja cool goste realmente de Animal Collective. Duvido que alguém entenda as letras do Animal Collective. Duvido que o próprio Animal Collective entenda as suas letras. Duvido que exista hoje em dia alguma banda pseudo-experimental e neo-psicodélica mais chata e inaudível que o Animal Collective.

 
Tudo isso em Centipede Hz, novo álbum do Animal Collective.

"Today's Supernatural": paciência, muita paciência.



Coisas Que Eu Não Entendo: Crookers


Alguém pode me explicar qual é a graça do som do Crookers? O que seria a proposta musical da dupla, uma filial carcamana do Diplo?

 
Acabei de ouvir o novo single do Crookers, Bowser. Uma colagem neurótica de samples de arremedos vocais com um tamborzão quase funk carioca na base ("Bowser"), um riff de sintetizador tipo tema de parque de diversões ("Trillex") e um hip house de fazer Turbo B cair na gargalhada ("Turn The Lights On"). E é isso aí. Direto pra lixeira.

"Turn The Lights On": hip house risível.


Happy Birthday To... CeCe Peniston


Cecilia Veronica Peniston, a voluptosa CeCe Peniston. 43 anos hoje. Mesmo que ela tenha tido outras quatro faixas em primeiro lugar na parada Hot Dance Club Play da Billboard, não tem jeito: é por "Finally" que ela vai ser eternamente lembrada. O single já vendeu mais de três milhões de cópias mundo afora, desde que foi lançado, em Agosto de 1991. One hit wonder? Acho que sim. "Finally" foi mesmo a única canção da moça que frequentou o mainstream. Mas que hitaço.

"Finally": entupindo pistas há mais de 20 anos.


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Injeção Eletrônica


"Hyper Lust" - single do duo techno Motor - nem é grande coisa. O som não tem espaço pra melodia, é pesado, sombrio, gelado. E os remixes? Pfirter não deixa nenhuma referência do original, apagando tudo e reconstruindo a canção. Já a versão de Monoloc coloca Billie Ray Martin numa cadeira elétrica e aplica uma série de 220 volts nos calcanhares da moça. 

 
O grande trunfo da dupla é trazer à tona a ótima Billie Ray Martin. Ela foi vocalista do extinto Electribe 101, projeto que cravou um single memorável em 1988, chamado "Talking With Myself". Em carreira solo, estourou "Your Loving Arms" em 1995 - hit mundial. Bom saber que ela ainda está na ativa.

"Hyper Lust": abaixo do que essa mulher pode render.
 

Motor feat Billie Ray Martin - Hyper Lust (Original Mix) by dpmhiaddict

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Anglo-Italianos


Luca Cazal e Sebastiano Properzi: com esses nomes fica fácil imaginar de onde eles vem. Curiosamente, seu projeto Luca C & Brigante foi formado na Inglaterra, em 2009. Já remixaram, produziram ou se envolveram de alguma maneira com nomes como Ali LoveRóisín Murphy (ex-vocalista do Moloko), Richard Norris (Time & Space Machine) e Andrew Weatherall, além de editar alguns singles e EPs próprios.
 

Tomorrow Can Wait é um single que saiu em Agosto e traz o vocal de Robert Owens, um dos caras que estava na sala de parto quando a house music nasceu. A versão original nem chega a ser o hit de pista que você pediu à São James Brown, mas é a melhor de ouvir: deep, hipnótica, vocal grave... Já sobre os remixes, é o Art Department quem desenha a linha de baixo perfeita pra tornar "Tomorrow Can Wait" uma faixa um tanto mais rebolativa. E eles ainda borrifam uns teclados e salpicam umas percussões pra deixar o ambiente no ponto pra voz incrível do Owens dizer que, sim, o amanhã pode esperar. Meio jamesbondiano esse título, hm?

"Tomorrow Can Wait": essa voz do Owens...



segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Bebop Germânico


O De-Phazz é cria do produtor alemão Pit Baumgartner; uma fusão de jazz e música eletrônica que não dispensa soul, lounge, música latina e house music em sua fórmula.


Puristas costumam torcer o nariz para bandas nu-jazz como o De-Phazz, porque dizem que a precisão matemática dos beats sintéticos acaba com a espontaneidade e improviso, inerentes ao jazz. Besteira. Seu mais recente disco, Audio Elastique, é mais uma coleção refrescante de temas cool embalados por flautas ("What's The Word For Memory"), pianos sinuosos e trompetes em surdina ("Our Relationship"), sax ("Dog Run") e até uma faixa cantada em alemão ("Manner Die Pokale Kussen"). Pra uma segunda feira que pesa uma tonelada, Audio Elastique desce macio e relaxa.
 
"Our Relationship": clima de filme do Humphrey Bogart.

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domingo, 2 de setembro de 2012

Dia do Indie

 

Quando as palavras "indie" e "eletrônica" unem-se pra identificar o tipo de som de determinado artista, minha sobrancelha esquerda levanta involuntariamente em sinal de desconfiança. Entrar nessa onda - que deve ter alguém tipo o Stereolab como precursor - pode ser uma ótima desculpa pra justificar falta de intimidade com os instrumentos e explicar um som que aprecia New Order e sintetizadores vintage ou curte funk e jazz de boa cepa mas não despreza artistas cult experimentais tipo Can e Neu!.
 
 
Pois o Beat Connection (nome extraído de uma faixa do LCD Soundsystem) pode bater no peito e assumir o rótulo indietrônica, para o bem. Só que em seu álbum de estréia The Palace Garden, há um tratado de não-agressão na música. Esqueça experimentalismos egoístas de gente que faz arte e deixa a música de lado. As 12 canções aqui fluem com uma leveza e sensibilidade pop encantadoras, num som que passeia de mãos dadas com Postal ServiceToro Y Moi. A dupla (agora quarteto) de Seattle fez um disco inteiro de melodias acolhedoras e apoia-se na eletrônica não como uma bengala, mas como um elemento fundamental nas composições. Basta ouvir o belíssimo trabalho instrumental já na segunda faixa ("Palace Garden, 4 Am"), com sintetizadores bem colocados, linha de baixo empolgante e refrão ensolarado. E as lições de bom gosto continuam com as baterias eletrônicas fornecendo a base dançante de "Saola", a melancolia contida entre palmas e guitarras discretas de "Invisible Cities" e os vocais pequenininhos de Chelsey Scheffe quase soterrados pelos sintetizadores de "Think Feel" (numa imaginária conexão direta com o Other Two, projeto paralelo de Stephen Morris e Gillian Gilbert do New Order). E o Beat Connection ainda é eclético o suficiente pra compor canções cheirando à ares baleáricos, numa levada despretensiosa emoldurada por violões, cowbells e vocais em falsete na ótima "Other Side of the Sky", subverter a italo-disco, tocada em slow motion na instrumental "Trap House" e encerrar com a mistura perfeita de disco music e indie rock de "En Route". Depois do promissor EP Surf Noir de 2010, The Palace Garden é um debut com poucas arestas para aparar, de uma banda que é uma das boas surpresas desse ano. Não perca.

"Palace Garden, 4 Am": encantadora.
 

Dance Hall Days


Quando os estúdios jamaicanos descobriram o sampler lá no meio dos anos 80, o baixo e a bateria ganharam um novo sentido no reggae. Foi nessa época que surgiu o movimento dancehall - espécie de subdivisão do reggae com farto uso de batidas digitais, sintetizadores e linhas de baixo nunca imaginadas até então. 


Mark Anthony Myrie - o Buju Banton - começou a gravar nesse período, e estabeleceu-se como um dos principais artistas do gênero. Saiu agorinha uma coletânea que cobre parte desse período (The Early Years Vol. 2 - The Reality Of Life). É a segunda compilação que vasculha o extenso catálogo de Banton e serve pra apresentar o trabalho do jamaicano à novas audiências e também aos fãs que não devem ter disco novo dele tão cedo: Buju foi condenado pela justiça americana à dez anos de prisão (que ele cumpre até 2019), acusado de tráfico de drogas e posse de arma de fogo. Bom, tretas à parte, o cara é bom de microfone, inegavelmente, e aqui você encontra várias daquelas linhas de baixo gravíssimas que caracterizam seus principais hits. Sei, ele também tem uma postura homofóbica condenável, mas nesse caso, o que sai das caixas e o poder dessa música em induzir ao movimento é o que vale. É um argumento bobo, mas não é porque eu gosto de, por exemplo, Rage Against the Machine, que vou sair tacando fogo em tudo.

"Want It": Twiggi acalma a fera. 
 

sábado, 1 de setembro de 2012

Sem Comparação


Mais trumpetes e mais daquele pop ensolarado do Capital Cities, desta vez com um cover bem simpático de "Nothing Compares 2U"


A música foi escrita por Prince que a gravou em seu projeto paralelo The Family, em 1985. Mas a faixa só foi estourar mesmo na voz da cantora irlandesa Sinéad O'Connor, em 1990. A versão do Capital Cities ficou assim:



Nothing Compares 2 U by Capital Cities

Picardias Estudantis


Formado pela dupla Logan Takahashi e Nick Weiss no Oberlin College em Ohio, o Teengirl Fantasy soltou agora em Agosto seu segundo álbum, Tracer.  

 
Eu que perdi o debut 7AM de 2010, devo corrigir isso rapidinho e por tabela, porque Tracer tem tido boa rotação no meu player há coisa de duas semanas já. Nas dez faixas do disco, o duo experimenta muito mais do que se acomoda com fórmulas prontas ao mesmo tempo em que mostra que também sabe jogar o jogo, como se vê na house "Do It" (com vocais do bom Romanthony). Ás vezes a ousadia compensa no que deveria ser a cara do pop de hoje, mas ainda assusta um pouco pelos arranjos complexos ("EFX", "Mist of Time"). Composto em sua maioria por temas instrumentais que sugerem uma ambient house versão 2012 ("Vector Spray", "Timeline"), Tracer é um bom disco de eletrônica porque se mantém acessível mesmo sem ligação com o pop e ainda se afasta do rigor eletrônico/abstrato de certas bandas incensadas por aí. Vale o confere.

"EFX": a Jovem Pan tocaria essa?


Visão Não Muito Além do Alcance



Entra ano, sai ano, e o De/Vision continua lançando álbuns redondinhos. Não espetaculares, mas satisfatórios. Talvez a busca frenética pelo bastão que o Depeche Mode largou em 1990 (no álbum Violator) tenha finalmente acabado, porque no novo Rockets & Swords não tem nada assim tão xerocado dos ingleses como é possível encontrar em trabalhos anteriores do duo alemão.



 

 O que parece ter faltado no disco é um single forte - em Popgefahr, disco de 2010, tínhamos "Rage" na linha de frente - mas em Rockets & Swords nenhuma canção salta aos olhos. Candidatas seriam a faixa de abertura "Boy Toy", que tem uma levada OK mas deixa o pique cair um pouco no refrão sussurrado, enquanto "Superhuman" convence pela bela orquestração sintética, mas tem paradas não muito estratégicas e carece de mais apelo pra caber num compacto. Mas a homogeneidade das 12 faixas compensa. O melhor aqui é a produção cristalina, aliada aos vocais melodiosos e seguros de Steffen Keth (acompanhe o bom trabalho do vocalista em especial na climática "Beauty of Decay") mais o instrumental cheio de recursos do tecladista Thomas Adam, que preenche os arranjos com soluções interessantes (guitarras em "Brotherhood Of Man", ruídos e estalos que vão formando a base percussiva de "Want To Belive", os timbres retrô dos synths de "Bipolar"). Só acho que a dupla poderia investir mais em músicas como "Kamikaze", pra mim a melhor do disco. Com letra em alemão, levada irresistivelmente dançante e refrão do tipo chamada/resposta, "Kamikaze" seduz não só pela simplicidade da batida e pela economia certeira dos sintetizadores, mas principalmente pela elegância do sotaque - em geral eu acho um tanto ameaçadoras canções cantadas no idioma de Goethe, mas esta aqui está perfeita; é uma espécie de elo perdido entre Falco e Kraftwerk e é uma prova que o De/Vision talvez pudesse voar mais alto se acreditasse na autenticidade do idioma como uma arma na mão pra se destacar no rebanho eletrônico do pop atual, que cresce desordenadamente.

"Kamikaze": alguém entendeu a letra?