terça-feira, 30 de julho de 2013

Savoir-Faire

Dois projetos brasileiros de eletrônica bem distintos: Technique e Pazes.

O Technique botou na cabeça que tem que fazer a música que suas principais referências (New Order, Kraftwerk, Pet Shop Boys e Depeche Mode) não fazem mais, porque não podem (pelo esgotamento da força criativa) ou não porque não querem (pela tendência natural da busca pela evolução do som). Vai saber. Pra isso, a banda usa de todos clichês disponíveis no seu álbum Memorizer (saiu no começo do ano): resgata aqueles vocais blasé do technopop europeu dos 80 pra discursar sobre temáticas pueris, com letras tão constrangedores que mais parecem os títulos das novelas mexicanas que o SBT exibe à tarde em sua programação ("The Price Of Lies", "Empty Eyes", "Book Of Life"). O instrumental não difere muito do que o Tek Noir fazia em 1990, com a diferença fundamental que a dupla mezzo argentina mezzo brasileira não dispunha de um décimo da tecnologia que o Technique tem em mãos hoje, e conseguia resultados incomparavelmente melhores. Enquanto o synthpop de bandas como o Technique não se desvencilhar desse excesso de referências óbvias e se recusar a olhar pra frente, o que teremos é mais e mais grupos empilhados num terceiro escalão imaginário desse tal futurepop - que tem na Alemanha um berçário fértil e aparentemente, inesgotável. 

"The Price Of Lies": os oitenta, ainda.




Já o Pazes (representado pelo paulistano Lucas Frebraro) acena como uma boa promessa da música sintética nacional. Seu EP Sleeping Dolls acabou de sair, e não abdica de noções como criatividade e acessibilidade pra montar faixas como a espetacular "Frozen", com os vocais atmosféricos da turca Biblo. Pisando com cuidado no terreno dark, a música de Frebraro tem um gostinho melancólico, mas com seus beats engenhosos, pode virar hit de pista facilmente ("Burn Out"). Boa, garoto.

"Frozen": etérea.


Oi


Graças à nossa mui estimada operadora, fiquei cinco dias sem Internet - por consequência, sem posts no blog. Retomamos atividades.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Quarta do Sofá: Sinéad O'Connor


Composta originalmente por Prince, "Nothing Compares 2 U" apareceu em 1985 no autointitulado álbum do The Family - projeto paralelo do baixinho - e passou despercebida até ser regravada e lançada como um dos quatro singles do segundo disco da irlandesa Sinéad O'Connor, I Do Not Want What I Haven't Got, de 1990.

Produzida por Nellee Hooper (Soul II Soul, Smashing Pumpkins, U2), "Nothing Compares 2 U" foi um sucesso absurdo, número um nas charts de onze países. Lenta, orquestrada e com os vocais potentes de O'Connor, a faixa ganhou notoriedade também pelo vídeo em que a cantora se debulha em lágrimas, que rolam pelos seus grandes (e lindos) olhos azuis.

E, pelo que li na época, Prince ficou puto com o sucesso da versão de Sinead O'Connor. Tsc tsc.

"Nothing Compares 2 U": tears roll down.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Good News / Bad News


Boas e más notícias. A boa é que o Cut Copy lançou single novo. De uma maneira inusitada, diga-se. No Pitchfork Music Festival em Chicago, neste fim de semana, apenas 120 cópias foram prensadas durante o evento para distribuição aos fãs.


A má notícia é que a faixa "Let Me Show You" (o single não tem lado B) é fraquinha, um electropop de levada dançante, mas um tanto sem graça. Tomara que seja só a pior música do novo álbum dos australianos, programado pra Setembro. Depois do decepcionante Zonoscope, de 2011, o Cut Copy ainda parece bem longe daquela banda inspiradíssima dos dois primeiros discos (50% em Bright Like Neon Love de 2004 e 100% em In Ghost Colours de 2008). Mesmo com a qualidade sofrível do áudio, dá pra sacar como é a música no vídeo abaixo, do cara que ficou com a cópia número 73.

"Let Me Show You": sem empolgação.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Segunda Class: James Blake


 Com uma voz que sugere um elo perdido entre Aaron Neville e Antony Hegarty, James Blake fez de Overgrown um álbum inteirinho de soul high tech, salpicando batidas R&B e explorando as baixas frequências típicas do dubstep. 

Produzido em parceria com o pai da ambient music, Brian Eno, este é o segundo disco de Blake, e um dos melhores do ano.

Sensível, feito com arte e delicadeza e emotivo sem ser piegas, Overgrown é a trilha perfeita pra uma noite gelada de inverno.

"I Am Sold": neo-soul?

domingo, 21 de julho de 2013

B-Better


Primeiro single de Gui Boratto desde 2011, Too Late saiu dia 15 de Julho pela alemã Kompakt, num doze polegadas com duas faixas e em formato digital com uma versão alternativa (dispensável) para a faixa título.


"Too Late" é um pop house que evidencia o bassline engrenado e os vocais de quatro frases da esposa de Boratto, Luciana Villanova. Já o lado B "We Can Go" supera a faixa principal. Techno de bumbo pesado, arpejo notável de sintetizador e frases soltas com uma dramaticidade muito peculiar à clássicos do new beat como "Russian Roulette" (Zinno), "Too Nice To Be Real" (T 99) e "Cocaine" (The Maxx).

"We Can Go":
we choose to go to the dance floor.

sábado, 20 de julho de 2013

Caras Novas: Daley



Promissor esse moleque. 23 anos, inglês de Manchester, cantor e compositor, Gareth Daley chamou atenção no finalzinho de 2010 com o ótimo single "Doncamatic", do Gorillaz. Além de ser um dos compositores, Daley ainda cantou na faixa. De lá pra cá, o mancuniano já lançou dois EPs, gravou com Jessie J e finaliza seu álbum de estreia Days and Nights, com produção de Bernard Butler (ex-Suede) e Pharrell Williams, ainda sem data de lançamento.



Seu novo EP chama-se Songs That Remind Me Of You, três faixas de R&B finíssimo, tão legais que dá até pra perdoar o auto-tune em "Glitter Haze".

Seu primeiro EP (Those Who Wait, do ano passado) já vendeu mais de 150,000 cópias via iTunes, e desta vez Daley resolveu disponibilizar Songs... de graça. É só dar um rolê no site http://daley.tv/ e baixar sem culpa. Vale a pena.

Só uma coisa: a música é ótima, mas esse cabelo... tem que ver isso aí, Daley.

"Songs That Remind Me Of You": K7 rules.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Appalektor


Saiu o vídeo pra uma das melhores faixas do ano, "Bad Kingdom", do Moderat.

Resenha pro álbum do trio, aqui. Vídeo, abaixo:


OoOOoh Não!


Sério que um dia tu acreditou num subgênero de eletrônica chamado witch house? Na real, nem sei se chega a ser um tipo de música, porque é algo que já nasceu meio morto, ou pelo menos com expectativa de vida bem baixa. Me parece mais um rótulo que abriga outras tags, como drone, shoegaze, post-industrial, synthpop, dark wave e afins. De qualquer forma, tem artistas que ainda apostam no formato, prontos pra tentar te pregar uns sustos.


Without Your Love é o debut do projeto-de-um-homem-só oOoOO (meu teclado não travou, o nome é esse mesmo), encabeçado pelo americano Chris Dexter. Ele grava desde 2010, e até agora só havia lançado EPs (foram três).

O disco é obviamente lento, arrastado, com eventuais vocais aparecendo espalhados meio aleatoriamente, tudo sussurrado perversamente pra fazer as 11 faixas soarem com o dobro do veneno. Chega a ser bonitinho na faixa-título, mais próxima do formato canção, assim como "Stay Here" e "On It". Interessante nos beats de hip-hop e nos recortes de samples das vozes em "The South", desengonçado na batida torta de "Misunderstood" e usando insistentemente o efeito de chiado de vinil (herança do trip-hop?), Without Your Love tem sintetizadores lúgubres próprios ao estilo, mas assusta menos que a fatura do seu cartão de crédito.   

Só lamento muito não ter uma cópia em vinil pra girar a faixa "Crossed Wires" ao contrário e sacar se tá rolando uma sessão de blasfêmia gratuita.

"Without Your Love": momento ternura.
 

 Já o I†† (Eye Double Cross, se liga na representação gráfica) é o fim da linha. Anti-música, o som de um túmulo sendo lacrado. Imediatamente menos acessível que o disco do oOoOO, seu recém lançado IAO (é o da capa simpática acima) me impressionou. Sem melodia, sem letra, sem canções - só ruídos desconfortáveis, sintetizadores pantanosos, marteladas em sinos, cânticos abafados. De coisas inaudíveis como a apropriadamente chamada "drønescape" (quase sete minutos de distorção sintética e percussão ritualística que não vão à lugar nenhum) até a realmente incômoda "s†regheria", as nove faixas do álbum são estranhamente sedutoras pela atitude masoquista que causam: ouvir até o fim pra ver no que vai dar esse clima opressivo todo. Não recomendo colocar no carro pra escutar na praia com os amigos. Poucas chances de aprovação da galera.

"høspi†al": nada fácil.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Quarta do Sofá: Robin Gibb


Vocal cristalino, uma jamanta de sintetizadores e um refrão matador: era a receita de "Like A Fool", pop perfeito lançado como single em 1985, por Robin Gibb.

Sabe aquela época que tocava música lenta em boate? Não?

Eu sei.

"Like A Fool": sei como é, Robin.

terça-feira, 16 de julho de 2013

O Império Contra-Ataca


Reserva supera titular: o Empire Of The Sun é um projeto paralelo que ofuscou as bandas efetivas dos dois integrantes, Luke Steele (The Sleepy Jackson) e Nick Littlemore (Pnau). A união dos australianos rendeu dois álbuns, o bem sucedido Walking on a Dream (2008) e o recém lançado Ice on the Dune.


Se você curtiu o pop de sonhos do primeiro disco, não tem motivos pra se decepcionar com o segundo. O primeiro single, "Alive", assustou um pouco - o duo exagerou tanto no clima Caravana da Coragem que parece que são Ewoks nos backing vocals, não um coro de crianças.

Mas Ice on the Dune tem coisas bem melhores que isso. A incrível "Awakening" - com sua síntese Bee Gees/italo disco - por exemplo. É um refrão memorável (cantado com o falsete impressionante de Luke Steele) em cima de uma batida lenta, bleeps eletrônicos e foguetes sintetizados passando de um canal para outro. "I'll Be Around" fica sob as asas da chillwave com sua guitarrinha lânguida e vocais carregados de efeito. "Old Favours" tem um loop meio enjoado, mas com um remix pra aparar os excessos, pode funcionar bem na pista. "Disarm" é outra boa canção pop que merece atenção: capta o Empire Of The Sun flertando mais diretamente com o synthpop, base de boa parte do som do grupo. Finalmente, uma das melhores faixas do álbum, a magnífica "Celebrate", traz três minutos de pop eletrônico dançante, com produção ampla, sintetizadores luxuosos e uma mãozinha de Daniel Johns (Silverchair) na composição.

Sem cabecices, politizações ou experimentalismos, Ice on the Dune é rock eletrônico e dançável sem ranço oitentista, dos melhores da fértil safra australiana recente.

"Awakening": na minha listinha "Melhores Músicas 2013".

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Segunda Class: Karen Souza


Não, a despeito do nome, ela não é brasileira. Amante de Chet Baker, Sarah Vaughan e Frank Sinatra, Karen Souza nasceu na Argentina e começou a chamar atenção no projeto Jazz and the 70´s, série de três volumes iniciada em 2008 que compilava covers de vários artistas para clássicos da década do lurex. 


Com a boa aceitação de Jazz and the 70´s, Karen lançou em 2011 o álbum Essentials, e continuou na onda de transformar canções improváveis como "Personal Jesus" (Depeche Mode), "Tainted Love" (Soft Cell) e "Creep" (Radiohead) em versões piano bar. 


No final do ano passado, a loira lançou Hotel Souza, e de cara, uma mudança significativa: das onze faixas, oito são originais (compostas por Karen e colaboradores) e apenas três, covers.

Seu registro é baixo, semi-rouco, quente, sexy. Femme fatale. Linda. Domínio completo da voz, sem exibicionismo, limites respeitados. Segurança.

Sua música é perfeita pra qualquer dia, mas como a segunda é classe, hoje é especial.

Ô Karen...

Linda.

"Personal Jesus": me deixa ser o teu, pessoal e intransferível, Karen.

sábado, 13 de julho de 2013

Campanha


Joe Goddard, cai fora do Hot Chip. Sério. Tu és o único com talento no meio desse quinteto. Teus singles solo e teu álbum com o 2 Bears são melhores do que as coisas que esse chip gelado tem lançado ultimamente. E as (poucas) faixas legais da banda, tenho certeza que são obra tua. Teu timbre elegante de voz é infinitamente melhor que esse chororô insuportável do Alexis Taylor. E além de cantar; tu produz, toca, compõe e tem um tino de pista afiado. Então pra que queimar teu filme? 


Olha esse single novo dos Chips, Dark & Stormy. Que tristeza. O que é essa faixa título? Indietrônica depressiva? E "Jelly Babies"? Qual é a necessidade daquele sax atonal e irritante lá no meio da música? Bom, nada supera a extravagante "Doctor". Aí, a maionese desanda de vez. Preguiçosa (no sentido pejorativo mesmo), tosca, sonolenta, pseudo-tropical.

Joe, vai por mim. Esquece o Hot Chip. Tu não precisa desses caras. Te tranca no estúdio pra gravar house music redondinha como a do teu single mais recente, e vai ser feliz.

"Dark & Stormy": sem luz no fim do túnel.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Locomía

 
Olha, isso é muito ruim. Gosto do pianinho e do baixo. Todo o resto - todo mesmo, dos vocais ao visual - é lamentável. Essa "Locomía" tocou até dizer chega em 1990. Sei lá. Tô envergonhado.

"Locomía": Disco Ibiza Loco Mia.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

We're Up All Night To Get Money



 Nile Rodgers não perdeu tempo. Bastou o Daft Punk trazer à tona pros anos 2000 o genial guitarrista do Chic, que já rolou mais uma coletânea - a décima sexta do grupo. Bastante pra uma banda que tem metade desse número de álbuns de estúdio. O subtítulo da compilação, inclusive, pega uma carona num trecho da letra do megahit "Get Lucky" da dupla francesa, que Rodgers participa ("We're up all night to get lucky").


 Mas que diferença isso faz quando a música aqui nesse CD duplo é fantástica? Nile Rodgers Presents the Chic Organization: Up All Night cata o melhor da produção do Chic, e não só pra sua banda titular, mas também para medalhões como Diana Ross, Carly Simon, Debbie Harry e suas protegidas do Sister Sledge. Como tudo de bom que a banda fez só caberia num box com 10 CDs, ficaram de fora nomes como Duran Duran ("Notorious"), David Bowie ("Let's Dance"), INXS ("Original Sin") e mais um monte de gente, mas justifica-se pelo fato das faixas escolhidas cobrirem o período 1977 - 1982, em que Nile Rodgers e o baixista Bernard Edwards assinavam as produções como The Chic Organization.

Entre várias versões extended e itens exóticos como um pseudo-sambinha com o galã da menopausa Johnny Mathis ("I Love My Lady"), dá pra sacar as fontes de vários samples. O mais famoso, claro, é o baixo com refrão de 20 notas de "Good Times" (que serviu de Queen à Gabriel o Pensador). Mas dá pra entender também que "Lady (Hear Me Tonight)" do Modjo (hitaço de 2000) chegou no topo de várias charts escorada em quase toda base de "Soup For One".

Obrigatório.

"Everybody Dance (12' Version)": maior e melhor.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Quarta do Sofá: Kenny Rogers


Eyes That See in the Dark de Kenny Rogers foi lançado em 1983 e vendeu impressionantes 15 milhões de cópias. Não só pelo country de Rogers ser imensamente popular nos Estados Unidos, nem porque as baladas espalham quilos de açúcar pelo disco, mas principalmente porque por trás desse álbum tem a composição, produção e execução dos gênios pop do Bee Gees.

"You And I" é minha preferida. Foi escrita originalmente pelos Gibb para Marvin Gaye gravá-la como um R&B, mas acabou na voz semi-rouca de Kenny Rogers. Hit mundial. "Na-na-nas" como os desse backing aí não cabem mais na música atual. Você me entende.

"You And I": eu, você, nós dois.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Drumba Cazaque


Não conheço nada da cena musical do Cazaquistão - aliás, não sei nada sobre o Cazaquistão. Só sabia que o hoje país independente já foi uma república soviética, antes do figuraça Boris Iéltsin começar a implodir o estado socialista no comecinho dos 90. 


Deste desconhecido local, temos o músico, produtor e DJ Alexey Fuifanov: 22 anos, grava drum'n'bass como Command Strange desde 2008, já tem dois álbuns lançados e uma pancada de singles e EPs (mais de 30 em vinil). O cazaquistanês tem moral e frequenta o case de gente como LTJ Bukem, Goldie, Marky, Fabio, Grooverider e EZ Rollers, a nata. Dirty Music EP é seu lançamento mais recente, saiu mês passado nesse doze polegadas da capa acima.

As quatro faixas de Dirty Music nem impressionam pela inovação ou originalidade, mas sim pela eficiência. É liquid funk melódico com ótimo potencial de pista e um fator decisivo para minha aprovação: os graves fazem tremer a porta da minha estante aqui na sala.

"Dirty Music": velocidade ritmada.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Segunda Class: μ-Ziq


Mike Paradinas tem tudo pra se tornar o Kenny G do IDM. Depois de seis anos sem gravar como U-Ziq, o britânico retoma o projeto com o recém lançado Chewed Corners.

Sintetizadores trance, baterias comportadas, melodias fofinhas, timbres amigáveis...

OK, nem tudo no álbum é essa groselha toda. "Christ Dust", por exemplo, tem um arpejo que aparece como um helicóptero atravessando a música. "Monyth" carrega na tensão, "Tickly Flanks" exagera nos rufos de percussão e "Wipe" tem um synth meio derretido.

Em compensação, "Smooch" é ambient com coros Mellotron, "Houzz 10" é techno diluído e "Feeble Minded" exibe synths que parecem ter saído de um disco do Jean-Michel Jarre de 1984.

Pô, quando os caras curram a eletrônica e entregam uns monstrengos tipo o último do Autechre, nego reclama. Quando o cidadão facilita as coisas pro ouvido, reclama também? Nada disso. Não tô reclamando. Gostei muito de Chewed Corners. Só não espere ouvir algo como o drill'n'bass alucinado de Lunatic Harness (1997), que não vai rolar nesse álbum.

Mike Paradinas vir com um disco tão gostoso de ouvir também é uma forma de esquisitice.

"Mountain Island Boner": Paradinas in love.


domingo, 7 de julho de 2013

Caras Novas: Maribou State


Vale a pena conhecer o trabalho da dupla inglesa Maribou State.

Chris Davids e Liam Ivory começaram a chamar atenção ano passado com a impressionante "Olivia", bass music de percussão detalhista e vocais emprestados de "No More Drama", de Mary J. Blidge:



O duo lançou EP novo mês passado. Tongue EP traz duas faixas inéditas, "Tongue" e "Larks Rise", mais três remixes para a faixa título.


A produção continua de encher os ouvidos.

"Tongue" entrelaça cordas e sintetizadores a ponto de eu não saber mais o que é orgânico e o que é sintético, e valoriza a voz de Holly Walker com várias sobreposições e efeitos:



"Larks Rise" é um tema sem letra e tem mais cara de verão, com órgão, piano e teclados duelando com os vocais de Holly Walker em vocalizes sonhadores:



Olho neles.

sábado, 6 de julho de 2013

Goddard Solo


Joe Goddard é o vocalista aceitável do Hot Chip. O insuportável chama-se Alexis Taylor. Produtor exímio, Goddard volta a se concentrar nas ideias que não cabem no electropop de sua banda titular, nem da reserva (The 2 Bears).


O EP Taking Over saiu no finalzinho de Junho e traz quatro faixas que reafirmam o talento deste simpático britânico de tecido adiposo deveras desenvolvido.

Meus ouvidos decretaram empate técnico no quesito "melhor música do EP". Não consegui decidir entre a lenha queimando com vontade já na abertura com "Step Together", ou a deep "She Burns".

"Step Together" foi realizada em parceria com o DJ e produtor (e um dos pioneiros da cena house alemã)
Boris Dlugosch. Tem um piano que soa realmente como piano e não como um Casio Tone Bank, o vocal contido de Goddard, firulinhas agradáveis de sintetizador e uma programação de bateria simples e eficiente.


Já "She Burns" é mais gostosa de ouvir, em parte pelos vocais dedicados da desconhecida (pra mim)
Marla Carlyle. Baixo carregado de reverb e teclados que preenchem o ambiente no segundo plano servem de moldura pra boa voz da moça.


"Bassline '12" é um interessante exercício instrumental, com timbres de baterias eletrônicas de bolso e synths electro. O EP encerra com a faixa título meio indie/desolada, com sua guitarrinha tristonha e batida dançante que não instiga a levantar do sofá. Pra quem andou fazendo covers de Vampire Weekend e Joy Division recentemente, não é de se estranhar.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Army Of Lovers


Se você não acompanhou a trajetória do Army Of Lovers de 1987 até agora, saiba que não perdeu muita coisa. O erotismo burlesco e o pop dançante de altíssimo teor camp está bem representado na recém lançada coletânea Big Battle of Egos, que compila 16 faixas dos 26 anos de carreira do grupo sueco. Mas o que realmente vale a pena, caberia num EP. A saber: a boa italo-disco "Signed On My Tattoo" (uma das quatro inéditas presentes no álbum), a refrescante "My Army Of Lovers" (digna de figurar em alguma edição da série Café Del Mar), a house "Ride The Bullet" e a melhor da leva, a ótima "Obsession".


O single "Obsession" foi lançado em 1991, foi bem nas paradas europeias, mas não chegou nem perto de ser popular na Inglaterra ou Estados Unidos, ficando praticamente restrito à execução nos clubs. Aqui o Army Of Lovers acerta um belo refrão (sussurrado pelo vocalista Alexander Bard), usa uma base vocal em staccato inspirada em "O Superman" de Laurie Anderson e garante que os pés se movimentem na pista com um corpulento groove Soul II Soul. Não foi o maior hit da banda ("Crucified" mantém o posto), mas com certeza é sua melhor música.

"Obsession": sexy e cafona.
 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Marky 4.0


Dias atrás o paulistano Marco Antonio Silva - o DJ Marky - completou 40 anos de idade (e 23 de cabine). Pra relembrar sua trajetória, Marky mixou 78 faixas clássicas do seu case. Tem desde o soul/funk dos comecinho de carreira, passa por house e techno e chega no hardcore techno do início dos 90. O mix ameaça sair dos trilhos nesse ponto, porque a desconstrução rítmica é tamanha nesse período, que algumas músicas simplesmente não cumprem o principal objetivo de uma dance track: ser dançável. No finalzinho, Marky acerta a mão e faz um mini set de drum'n'bass (Omni Trio, E-Z Rollers, LTJ Bukem, Random Movement, Calibre), gênero adotado pelo DJ e que o levou ao estrelato. Vale ouvir:
 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Vovô Dos Samplers

 
Parece bobagem, um detalhezinho que quase passa batido, mas quantas milhares de vezes você já ouviu estes milésimos de segundo orquestrados pontuando faixas de eletrônica?



O australiano Fairlight CMI foi primeiro sintetizador polifônico de amostragem digital, disponível no mercado em 1979. Um mercado restrito, digamos. Herbie Hancock e Stevie Wonder compraram seus exemplares em 1980 pela merreca de US$ 27,500 cada. A série IIx (do vídeo acima), lançada em 1983, incorporou a linguagem MIDI, e era possível armazenar a biblioteca de sons nos falecidos disquetes de 8 polegadas - uma mídia que, todos sabemos, nunca dava problema.
De
Afrika Bambaataa à Pet Shop Boys, passando pelo Art Of Noise - um dos grupos que melhor explorou o instrumento - o Fairlight fez a cabeça dos incansáveis sampleadores dos anos 80. Clássico. 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Segunda Class: Agnetha Fältskog



Nunca aprendi a pronunciar o nome de Agnetha Fältskog. Uma das vocalistas desta instituição chamada ABBA (a outra era Anni-Frid Lyngstad), Agnetha não lançava um álbum de material original desde 1987. A é o quinto disco gravado em inglês pela cantora (os outros são em sueco), dos dez que ela totaliza solo.

Pule algumas faixas com excesso de sacarose ("The One Who Loves You Now", "Past Forever", "I Keep Them On the Floor Beside My Bed"), e sobram boas canções pop: baladas meia-luz evocando a candura de um Carpenters munido de baterias eletrônicas e produção apurada ("I Was a Flower", "Bubble"), ou um soft rock próximo da perfeição técnica do Fleetwood Mac ("I Should´ve Followed You Home", "Perfume In the Breeze"). Pra quebrar o gelo nórdico, ela ainda arrisca uma disco que não faria feio no catálogo de sua ex-banda ("Dance Your Pain Away").

O melhor de tudo, no entanto, é constatar que aos 63 anos, a voz de Agnetha Fältskog está inacreditavelmente intacta. Limpa e cristalina, como se fosse 1978. E pra começar a semana, A cai bem.

"Dance Your Pain Away": disco elegante.