segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Segunda Class: T-World


T-World é o nome do projeto dos islandeses Biggi Veira e Herb Legowitz, no começo dos 90 - que depois se transformaria no Gus Gus, em 1995. Oficialmente, a dupla registrou apenas um single em 1994 ("Anthem"), e gravou mais algumas faixas que saíram nessa compilação acima, Gus Gus Vs. T-World, lançada em 2000 pela 4AD. Em sete faixas instrumentais, Veira e Legowitz exploram breakbeat ("Purple"), techno ("Esja", "Rosenberg", "Northern Lights") e downtempo ("Earl Grey"). Mas é no baixo subterrâneo e nos arpejos de "Anthem" e no clima congelado pelos sintetizadores do ambient techno "Sleepytime" que o T-World projeta o próprio futuro. Que seria brilhante, anos depois, com o coletivo Gus Gus.

"Anthem": techno glacial.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Disco Drum'n'Bass do Ano: Rudimental


A foto acima diz muito sobre o meu disco preferido de drum'n'bass em 2013. Tem um pouco de cada gênero dessas prateleiras reviradas em algum sebo pelo quarteto inglês Rudimental em seu debut Home, que saiu em Abril.


E que estreia. Seis singles foram extraídos do disco - que também chegou ao número um na parada inglesa, números que endossam a aceitação do som criado pelo grupo. A mágica aqui consiste na fusão de ritmos e texturas eletrônicas não pasteurizadas com uma vibração de forte apelo emocional - providenciada pelos órgãos Hammond, metais, cordas e, principalmente, por um senhor time de vocalistas convidados. É soul music moderna, embasada no difícil equilíbrio entre instrumentos acústicos (e não em samplers) e programações.

O drum'n'bass aparece em suas várias ramificações, do jungle enlouquecido de "Give You Up" até os beats atmosféricos de "Powerless" (esta com uma magistral sessão de cordas e vocais impressionantes da britânica Becky Hill):



Liquid funk acessível e radiofônico, "Waiting All Night" foi um dos singles número um de Home, no Reino Unido. Mais uma grata surpresa ao microfone, a cantora e compositora Ella Eyre tem apenas 19 anos, mas cantou com o desembaraço de uma Adele num hit com alto potencial de pista e um explosivo arranjo de metais:



A ótima Emeli Sandé canta em duas faixas, no soul pop "Free" e na dramática "More Than Anything", com backing vocals de elevação quase espiritual:



Outro single número um na Inglaterra, a popíssima "Feel The Love" aparece em duas versões na Deluxe Edition de Home: o bom soulful house do mix "Rudimental VIP" e o liquid funk original - que quase se perde entre um riff ordinário de sintetizador e uma batida que lembra um Pendulum genérico. Felizmente, a boa linha de baixo (de quatro cordas, mesmo) e o solo de trompete aliviam um pouco o apelo excessivo da faixa:



Pra quebrar o ritmo incessante das baterias, o Rudimental ainda investe em outras frentes, com resultados convincentes: downtempo regueiro que se transforma em house caribenha na deliciosa "Hide", soul encharcado de órgão Hammond em "Home", o R&B de "Hell Could Freeze", o dub de baixíssimas frequências de "Solo" e a house music elegante de "Baby" e "Spoons".

O Rudimental consegue com seu álbum de estreia um feito perseguido à exaustão: ser muito bem sucedido artística e comercialmente, focado num gênero que não é pop por excelência, como o drum'n'bass.

Com uma produção esmerada, arranjos brilhantes e vocais de tirar o fôlego, Home não é só o melhor disco de drum'n'bass de 2013, é um dos melhores discos lançados nesse ano.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Deblanc


A Italo-Disco produziu uma tonelada de bons singles, até ser ofuscada pela Italo-House no final dos 80. OK, era tudo muito pop e meloso, mas dessa linha de montagem de hits, saíram coisas memoráveis, como "Mon Amour", creditado a um tal Deblanc.

O single é de 1987, o segundo e último do projeto dos produtores Riccardo Persi e Maurizio Preti, que se dividiam em dezenas de outros grupos (alguns conhecidos, como o Kano, um dos precursores da cena Italo e Sueño Latino, ambient house carcamana, do hit de mesmo nome, de 1989).

"Mon Amour" peca pela letra ("I need your lovin', Mon Amour / It's magic when you, tell me babe
'Cherie, Je t' aime'"), mas tem a favor uma base muito bem montada de percussão e sintetizadores. A cereja é um incomum violino ajudando na melodia. Foi hit moderado por aqui graças ao selo da Sony Music destinado à dance music no Brasil, o Stiletto, que lançou a faixa em 1990, no volume 3 da série "The Best Of Eurodance".

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Ordinary Party


Kele Okereke periga chamar mais atenção com seu novo EP Heartbreaker porque ele é o vocalista do Bloc Party que abraçou de vez a dance music e não exatamente por causa das três faixas do disquinho.


O conteúdo é uma deep house competente e, vá lá, eficiente, mas que não ultrapassa a temperatura do corpo. E tem gente do Azerbaijão ao Zimbábue fazendo esse som aí. O que faria Kele afastar-se da manada com essa dance genérica?

"Heartbreaker": 37 graus Celsius.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Quarta do Sofá: Chris Isaak


Uma das guitarras mais libidinosas da história, "Wicked Game" é o primeiro e maior hit de Chris Isaak (só no mercado americano, o single de 1989 vendeu mais de 500 mil cópias). Com sobrancelhas arqueadas numas de canastrão tipo James Dean do rockabilly, Isaak contracena no belíssimo vídeo em preto e branco com a modelo dinamarquesa Helena Christensen, na época com 21 anos e mais bonita que a realidade.

"Wicked Game": "...nobody loves no one".

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Segunda Class: Phonique


Kissing Strangers, álbum de 2010 do alemão Michael Vater (Phonique), é ruim que dói. Mas no meio de tanta dance xinfrin, tem uma pérola que não merece estar nesse disco. A terceira faixa, "Amy's Heart", é sensacional. Vocais em falsete por um tal Ruben Scheffler, a música é um reggaezinho totalmente eletrônico, com uma percussão fragmentada que parece gravitar em torno dos sintetizadores de timbres agradáveis e fluidos. Maracujá sonoro.

"Amy's Heart": para ascender.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Disco Synthpop do Ano: Mesh


Mesmo cambaleante e repetitivo nos últimos tempos, o synthpop sempre vai ter cadeira cativa aqui no blog. Comecei a me interessar por música ouvindo passivamente o A-ha no meio dos 80, que me levou a conhecer Orchestral Manoeuvres in the Dark, depois Erasure, Pet Shop Boys, New Order e Depeche Mode.

Foram poucos álbuns bacanas do gênero em 2013, praticamente nada de bandas novas com discos relevantes. Os melhores lançamentos foram dos medalhões acima. O blues sintético do Depeche Mode em Delta Machine, a agradável visita do OMD ao seu próprio catálogo em English Electric e o retorno dos Pet Shop Boys à música de pista em Electric.

E teve o Mesh.


O Mesh parece ter nascido pra ser coadjuvante. Desde sua fundação (1991, em Bristol, Inglaterra), nunca teve um hit memorável ou um disco inesquecível. Mas tem dois bons motivos pra merecer sua atenção: primeiro, eles não imitam o Depeche Mode - coisa que 90% dos grupos emergentes da cena alemã, por exemplo, fazem. Segundo, o Mesh não é retrô. Não soa como um cópia caricata de artistas new romantic do começo dos 80 (penso em La Roux enquanto escrevo isso).

Automation Baby é o sétimo álbum do Mesh. Saiu no começo do ano, e é mais uma coleção de faixas a ser ignorada pelas paradas (exceto na Alemanha, onde concentra-se o maior público do grupo). Afora o sucesso comercial (de importância questionável), o disco firma-se como o melhor e mais equilibrado de sua carreira; é a consolidação da fórmula technopop em 14 faixas, desde a inflexibilidade da dupla no uso do sintetizador como instrumento principal até as composições que resumem o estilo: tudo aqui é pop e eletrônico.

 Mark Hockings (vocais, guitarras, teclados e programações) e Richard Silverthorn (teclados e programações) são muito bons de melodia. Não há uma faixa que não tenha um bom gancho, seja um refrão, seja um riff. O single mais recente, "Adjust Your Set", é uma boa amostra. Sustentando as estrofes com uma batida robusta, ela vai crescendo devagar com timbres sombrios, até culminar no ótimo refrão de tons mais otimistas:



Faixas cativantes e dançáveis como a abertura "Just Leave Us Alone" (esta com guitarras quase escondidas no arranjo) passam longe de meros arremedos saudosistas. Aqui o Mesh celebra o presente (note como casou bem com a faixa a inserção de um bass drop típico de dubstep, há exatos 03:18 da canção), sem deixar de lado a raiz electropop e sem se deixar seduzir de forma gratuita por sons que estão pegando atualmente, a dupla não perde o foco no futurismo da sua música:



Em andamentos mais lentos e pesados, o Mesh também se sai bem, especialmente valorizados pelos vocais enérgicos de Mark Hockings e pelas construções eletrônicas épicas - mas não pomposas ou grandiosas - da dupla. Mesmo em composições de estrutura mais complexa como "This Is The Time" (com toques de industrial), a base é contida, os elementos combinam-se entre si sem os exageros que sintetizadores mal pilotados poderiam causar:



"Flawless" é outra composição dedicada exclusivamente aos sintetizadores e à batida pesada e dançante - synthpop clássico - que explode num excelente refrão pop (e ele é exatamente como o nome da faixa: sem defeito):



 "The Way I Feel" é a única música em que um instrumento acústico (o violão, no caso) se sobressai, rivalizando com uma bela sessão sintética de cordas e dramáticos coros celestiais, numa balada honesta e harmoniosa: 



Automation Baby ainda tem outras boas faixas ("Taken For Granted", "Born To Lie", "You Want What's Owed To You"), que, sem cabecices, politizações vazias ou pretensão, suprem perfeitamente o fã carente de pop eletrônico redondinho, bem produzido e com vários refrões bons na manga, como esse oferecido pelo Mesh.

Synthpop puro, cabeça erguida e olhando pra frente, nesse ano ninguém fez melhor.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Magic Marmalade


Teria sido 1991 o melhor ano para a dance na história da música? Não tenho a resposta, mas é tanta, tanta coisa boa que apareceu nesse período... simplesmente imensurável.

O Magic Marmalade foi um projeto italiano, ativo entre 1991 e 1995. Foram oito singles, do debut hip-house certeiro de "Everybody Get Up", até a eurodance já sem fôlego do último 12" do quinteto de produtores, "Morning Sun" (que chupa o refrão de "True Faith", do New Order).

"Everybody Get Up" é uma amostra de quão criativos eram os sampleadores dos 90. Com a batida de "Get Busy" (de um dos pioneiros da cena hip-house, Mr. Lee) e o refrão construído com os vocais de "System Of Survival" (Earth, Wind & Fire), o Magic Marmalade emplacou um hitaço nas pistas de então. A única coisa que eu não sei, é de onde eles tiraram esses metais. Se você tem o dom, me deixe ficar sabendo.

"Everybody Get Up": nem precisa pedir duas vezes.

Avicii e o Pé De Feijão


A ideia era boa. Não propriamente nova, mas boa.


A sacada do novo queridinho das pistas, o sueco Avicii, no seu debut True, era fundir uma sonoridade country/folk com beats e texturas eletrônicas. Vejo duas boas razões pra isso: ou é uma tentativa de fugir da vala comum que se tornou a dance super exposta de hoje em dia, ou é uma maneira de aumentar sensivelmente o nível de popularidade baseado numa fusão populista de dois gêneros desgastados, fazendo-os soar como uma coisa nova, fresquinha. E olha, teria funcionado melhor, se Avicii não usasse sua habilidade na produção pra criar bases manjadas, distorções sintéticas típicas do trance mais rasteiro, progressões de acorde primárias, fogos de artifício sonoros. São pilhas e mais pilhas de clichês amontoados, desperdiçando o que poderia, talvez, ter soado digno musicalmente (difícil), se a busca frenética pelo próximo hit (fácil) que vai deixar o povo suarento da Tomorrowland de mãos pra cima, não tivesse posto tudo a perder.

Não precisa ouvir mais do que a faixa de abertura, "Wake Me Up", pra entender. Uma espécie de Billy Ray Cyrus da EDM canta sobre a levadinha simpática de violão tocada por Mike Einziger, do Incubus (sério!), e a coisa parece que vai dar liga... mas Avicii não se contém. Atropela a canção com um riff de sintetizador que parece tema de festa junina eletrônica. A mesmíssima coisa em "You Make Me": marcação forte de piano destruída por um riff de teclado de uma nota só, repetida até passar do limite do suportável. "Hope There's Someone", "Dear Boy", "Edom"... todas tem mais desses synths sem imaginação, essa euforia ensaiada, essa produção que emparelha tudo num nível David Guetta: sem personalidade, sem um pingo de criatividade, uma papagaiada que só repete fórmulas que chegaram alto nas charts (taí o Swedish House Mafia que não me deixa mentir).

Tem que comer muito feijão, Avicii.

"Wake Me Up": "_ Agora, mãos pra cima, pessoal!"

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Groove Lines


Robin Thicke tem coisas bem mais interessantes do que seu topete aerodinâmico. Suprema desinformação, só fui saber da existência do cantor americano esse ano, quando sua "Blurred Lines" apareceu em todos os lugares. E a faixa que dá nome ao sexto (!) álbum de Thicke é uma das coisas mais bacanas que ouvi em 2013. O arranjo é simples - basicamente um piano elétrico Fender Rhodes e a habilidade percussiva do produtor Pharrell Williams - somados ao bom trabalho vocal e à letra venenosa ("eu vou te dar algo grande o suficiente / para rasgar sua bunda em duas", é um trecho singelo rapeado pelo convidado T.I.). Assumidamente inspirada em "Got To Give It Up", de Marvin Gaye, a faixa nem sampleia nem plagia o clássico de Gaye. Mesmo assim, a família do falecido cantor acusou Thicke de copiar o som e o "feeling" de "Got To Give It Up". Motivos insuficientes pra processo, Thicke e Williams deram de ombros.

O álbum, com 11 faixas, (mesmo com um batalhão de produtores que inclui will.i.am e Timbaland) é nota 6 - o que, pro pop atual, é muito acima da média. Tem coisas que dá pra pular sem culpa, como a tentativa EDM de "Feel Good" ou a musicalmente indecisa "Give It 2 U" (com a ladainha fraca de Kendrick Lamar enchendo a paciência). Legais mesmo são os funks "Ooo La La" e "Ain't Not Hat 4 That", o belo arranjo de cordas de "4 The Rest Of My Life", o competente soul "The Good Life" e uma sequência canarinho que inclui o cavaquinho de Seu Jorge caindo como uma luva em "Go Stupid 4 U" e o samba-rock (intencional?) da ótima "Top Of The World".

Abre o olho, Timberlake.

"Top Of The World": nem ruim da cabeça, nem doente do pé.

Radio Song



Esperto esse Michael Baumann. 


 Assinando como SoulPhiction, é co-fundador do selo Philpot (com sede em Stuttgart), por onde tem lançado suas faixas recentemente. Seu mais novo single, When Radio Was Boss, no entanto, saiu por outra gravadora alemã, a Pampa Records, e - como o nome indica - é uma homenagem ao tempo em que o rádio era o caminho natural pra quem buscava música.
A faixa tem um cowbell insistente, movimentos de orquestra no segundo plano e um enigmático monólogo em forma de transmissão radiofônica. Tudo isso junto funciona bem, mas o que me derruba mesmo é esse baixo, totalmente Mr. Fingers ("Can You Feel It"). 

"When Radio Was Boss": groove germânico.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Quarta Do Sofá: Spandau Ballet


1983: o Spandau Ballet comete uma das baladas mais legais do período.


"True" tem algo de soul de branco, ligeiramente jazzeificada e de teclados discretos. Com letra do cérebro da banda (o guitarrista Gary Kemp) citando Marvin Gaye ("Listening to Marvin, all night long / This is the sound of my soul"), o vocalista Tony Hadley imaginava ser o Sinatra do new romantic - seus vocais são OK, mas o grande gancho da canção é o riff de guitarra aliado ao backing "Huh huh huh hu-uh huh". Os mesmos sampleados pelo PM Dawn no hit "Set Adrift On Memory Bliss", de 1991.

"True": ternos bem cortados.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Bonjour, Tristesse


 Baseado em Paris desde 2009, o Tristesse Contemporaine agrupa um sueco (Leo Hellden, guitarra), uma japonesa (Narumi, teclados) e um inglês (Mau, vocais).


Seu segundo álbum, Stay Golden, saiu em Setembro. Meio indie, meio eletrônico, o som do trio lembra bastante o The xx, mas é um tantinho mais sofisticado que o da banda de Jamie Smith. Em comum, a simplicidade dos arranjos e os vocais sussurrados com um tédio abissal por Mau em praticamente todas as faixas. Inspirados em The Cure e Young Marble Giants, fica fácil sacar por que soa como o xx - já que as duas bandas condensam pós-punk, eletrônica e 4AD em suas canções nada intrincadas, mas ocasionalmente, de uma candura comovente.

Pelo menos a metade de Stay Golden, é muito boa. A abertura com teclados sabor picanha de "Fire", o baixo New Order da boa faixa título, a minimalista "Can't Resist" reduzida a baixo, bateria e órgão e os ecos de technopop de "Burning" e "Pretend" são boas amostras do trabalho do trio. Eu aposto que o som do Tristesse Contemporaine ultrapassa as janelas das casas francesas logo, logo.

"Fire": "the city’s on fire now...”

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Segunda Class: Glass Animals


Glass Animals é um quarteto de Oxford, Inglaterra. Seu som é um blend relax de delicados vocais soul salpicados com teclados e beats de R&B. Tem um aspecto indie, mas sua música vai bem além. É inteligente, com arranjos bem estruturados, mas não deixa de ser de fácil acesso. O destaque do bom EP epônimo (com o perdão do cacófato) que a banda lançou agorinha (saiu pelo novo selo do multi premiado produtor Paul Epworth, o Wolf Tone) é a faixa "Black Mambo", pontuada por cordas, forrada com uma bela linha de baixo e backings apaixonados. Sei não, hein. Me cheira a sucesso em 2014.

"Black Mambo": "Slow down, it's a science..."

domingo, 15 de dezembro de 2013

Muito Bom Pra Ser Verdade


Finalmente caiu a ficha. O Rapture nunca passou de uma bandinha mediana - alguém resolveu carimbar disco-punk na testa deles - e vá lá que eles tenham no portfólio faixas interessantes como "House Of Jealous Lovers" (2002), mas levanta a mão quem acha que Luke Jenner canta bem. Com seu timbre anasalado - algo entre Pato Donald/Bart Simpson - Jenner era a pedra no sapato, a batata quente na boca, a... bom, você entendeu. Com ele, curtir o Rapture era tarefa ingrata. Pois bem, no seu novo álbum, 2000Hz, alguém teve a abençoada ideia de sugerir que ele se afastasse do microfone. Foi o que aconteceu. E uma nova banda surgiu. Mais eletrônica, diversificada, suingada, viajandona, e muito, mas muito mais dançante.


Bom, isso seria bom demais pra ser verdade. O Rapture, aquela banda nova-iorquina, não mudou nada, não que eu saiba. Luke Jenner deve estar armando outro álbum, sucessor do tenebroso In the Grace of Your Love, de 2011.

O The Rapture em questão é o inglês Stuart Lynch. Seu quarto álbum, 2000Hz, saiu no meio do ano e é o resultado da dedicação solitária deste tecladista, engenheiro de gravação e produtor, no estúdio. E apesar de trabalhar sozinho, o disco soa como uma coleção de faixas de quem anda interagindo muito com pessoas de gostos bem diferentes. É um grande barato que andava meio esquecido: gravar faixas de gêneros que são como óleo e água, mas fazem todo sentido num mesmo disco de eletrônica.

Nessa babel estilística, há desde o trance nível Tiësto - você decide se isso é bom ou ruim - em "Feel What You Feel" e "The Never Man", até o jungle mais casca-grossa (na definitivamente enlouquecida "2000hz"). No meio disso, bleeps de techno retrô ("Cobwebs & Clowns"), texturas ambient ("Listen", "Smoke & Mirrors") e breakbeat/industrial sujinho ("Theme From Silicon Dust"). Ocasionais guitarras, percussão ("The Maybe Man") e baixo ("In My Sight") temperam o molho sintético de Lynch.

2000Hz não é nada original, mas diz aí, qual foi o último disco de eletrônica realmente inovador que você ouviu? Sem forçar muito a barra, é um rolê interessante por ritmos e timbres desiguais, mas que aparecem bem amarrados nas onze faixas. O mais curioso dessa história é que Stuart Lynch cometeu um álbum de eletrônica em 2013 que não soa atual, e a dúvida que fica é se isso foi intencional ou não. Pode ser um atrativo a mais pra ouvir o disco.

2000Hz, o álbum: só o gostinho.

House Derretida


B.G. Baarregaard é o pseudônimo de Björn Gauti Björnsson, DJ e produtor islandês novíssimo na cena (seu primeiro single é do ano passado). 


Como quase tudo que vem da Islândia, vale muito a pena conhecer. Seu EP Taste Of Acid Love acabou de sair, e traz quatro faixas de house com vibrações disco e onipresença da máquina que ainda move a dance music com força, a Roland TB-303. Menção especial para a ótima "Give Your Heart To Me", que soa como um Loveland de 2013. Só queria saber onde ele arrumou essa vocalista. Aliás, quem é essa pessoa que canta maravilhosamente bem nessa faixa?

"Give Your Heart To Me": house atemporal.

Por Pouco


Sou fã do Stuart Price (responsável direto pelo melhor disco de pista da Madonna, Confessions on a Dance Floor, de 2005), mas seu projeto synthpop Zoot Woman, ainda não me convenceu.


E não vai ser com "The Stars Are Bright" - novo single do trio - que vou me deixar persuadir. Seus sintetizadores agressivos fazem um bom contraponto aos vocais adocicados (que são apenas OK, lembrando o xaroposo Owl City), mas faltou alguma coisa. Um refrão a altura, sei lá. Primeira faixa que aparece do próximo álbum do Zoot Woman (Star Climbing), "The Stars Are Bright" é o tipo de música pra se gostar de imediato, mas não vai ficar na sua memória por muito tempo. Quiçá no seu HD.

"The Stars Are Bright": o eterno synthpop revival.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Frankie Goes To Hollywood


 Eu sempre detestei o Frankie Goes To Hollywood. Nunca vi nada que não fosse um Village People dos anos 80, um Duran Duran lascivo, com provocações sexuais baratas e ingenuidade política nas letras da curta carreira de dois álbuns.  
 
 
O debut Welcome to the Pleasuredome (1984), quebrou a banca. Vendeu bem, apoiado por três singles número um na Inglaterra - "Relax" entre eles. A produção de Trevor Horn beira a grandiloquência: sintetizadores simulando ejaculações múltiplas, bumbo digital duelando com marteladas insistentes de piano e um riff curto de guitarra atravessando as estrofes. O refrão "... relaxe, não se segure quando você quiser gozar ..." foi suficiente pra BBC vetar da programação e o single subir como um míssil pro primeiro lugar de vários países. Uma bobagem, mas, era 1984. Dá-se o desconto.

PS.: acabou de sair mais uma coletânea do Frankie (já é a décima oficial!). Compilando os (poucos) hits do quinteto, Best Of é perfeito para reféns dos 80.

"Relax": "... shoot it in the right direction."

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Suingue Balanço Funk


Que tal combater o famigerado funk ostentação com doses concentradas de ritmo, melodia, sagacidade e desafetação? Pois é isso que o duo Paradizzle prometia em "Out Run" - faixa lançada em Setembro - e agora cumpre com sobras no lançamento do EP Summer Funk. É o funk robótico e instrumental do DJ Feijão e do músico Di-Gestivo, que sem ranço saudosista apoia-se em guitarras serpenteantes (perceba as palhetadas em "Class"), linhas de baixo emborrachadas ("Bright Day"), sintetizadores retrô ("Hot Pimpadelic"), grooves macios e samplers. É como se George Clinton abdicasse dos vocais e resolvesse dar um rolê em Tramandaí pra uma festinha com Zapp, Cameo e Gap Band.

O funk de verão do Paradizzle mostra que não é só o pôr-do-sol de Malibu que casa perfeitamente com essa trilha, o do Guaíba também é lindo de se ver, embalado pelas levadas altamente rebolativas da dupla. Orgulhe-se, é coisa nossa.

Summer Funk, todinho no Soundcloud:

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Pryda (In The Name Of House)

Prydz, pagando um pau pro Depeche Mode.
Eric Prydz equilibra-se na corda bamba que é o seu som. Já chupou na cara dura o hit "Valerie", de Steve Winwood, pra montar sua fraquinha "Call On Me" (2004, número #1 numa pá de lugares), já teve peito pra jogar "Another Brick In The Wall" no liquidificador e chamar o remix de "Proper Education" (2007), como se fosse uma faixa nova, (número #2 no paradão inglês e David Gilmour feliz ouvindo o tilintar das moedas). Ultimamente Prydz tem trabalhado com um pessoal de respeito (Depeche Mode, Digitalism, Felix Da Housecat, M83), o que alivia um pouco a barra do sueco.

E tem esse alter ego do Prydz, o tal Pryda. Com esse projeto, ele lançou pelo menos uma bela faixa ("Pjanoo", 2008). "Lycka" é o novo single do Pryda. Progressive house com breaks clichê, teclados galopantes, bleeps estratégicos e aqueles sons de jato partindo rumo ao horizonte festeiro de alguma Tomorrowland da vida. O lado B, "F.A.T.", poderia ser a faixa principal que daria no mesmo. Nada de novo no reino da Suécia.

"Lycka": linha tênue.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Segunda Class: Enya


Cantora, compositora, instrumentista e produtora, Enya foi responsável por levar o new age para as massas: a irlandesa já vendeu cerca de 75 milhões de cópias de seus sete álbuns. Sua sonoridade única, caracterizada por camadas e mais camadas de vozes sobrepostas, instrumentação folk e sintetizadores celestiais, levaram Enya a um impressionante nível de popularidade, nunca antes experimentado por algum artista do gênero - e ao reconhecimento de público e crítica através de seus multi-platinados e premiados discos. Pra sonhar acordado.

"Caribbean Blue": vídeo tão incrível quanto a música.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sexta Feira Bagaceira: Julio Iglesias


Se até os Rolling Stones embarcaram na onda disco, por que não Julio Iglesias? Se Mi Lasci, Non Vale é um single do ex-goleiro do Real Madrid, de 1976. Por que o cantor espanhol resolveu gravar em italiano? Boa pergunta. Não saco nada da biografia dele. As discotecas italianas eram mais animadas que as espanholas? Medo da rejeição dos espanhóis contra sua própria música pop? Vai saber. Iglesias já gravou em 14 idiomas, que diferença faz? Sei que "Se Mi Lasci, Non Vale" tem um arranjo que esbanja cafonice em cada corda de violino, o que não anula seu potencial de pista. Hit certeiro em casamentos, experiência própria.

"Se Mi Lasci, Non Vale": Iglesias tomando um pé na bunda.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Quarta Do Sofá: Fernanda Abreu


 Fernanda Abreu foi, provavelmente, a precursora da moderna dance music brasileira, com seu Sla Radical Dance Disco Club (1990).


Do álbum saíram os hits "A Noite" e "Você Pra Mim" - esta com uma batida lenta e espaçosa, cama perfeita pro baixo de reggae, trompetes com surdina e samples de Barry White e Soul II Soul preencherem sua extensão. Pop nacional já foi cool assim.

"Você Pra Mim": sexy.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Pooley Dance

 

Tá que não é nenhuma maravilha de inovação e criatividade, mas Ian Pooley trabalha direitinho. Seu mais recente álbum, What I Do, saiu no começo do ano e mostra um produtor experiente (Pooley grava desde o meio dos 90), que sabe usar bem o estúdio, com arranjos competentes e eficiência nos grooves e batidas.


Exemplos no disco não faltam. A refrescante "Bring Me Up" - com seu baixo cavalar e a voz sossegada de Dominique Keegan - é um bom começo. A divertida "Kids Play" evidencia que vocais infantis são infalíveis mesmo (pense em "Get A Life", do Soul II Soul e "D.A.N.C.E.", do Justice). Pooley mostra criatividade nas programações de bateria com a exuberância de "1983" (vocal de Högni Egilsson, do Gus Gus) e "What U Love" (com uma bela sessão de cordas sintetizadas). Uma pincelada com tintas escuras em "I Should Be Sleeping", inserções jazzy ("Over") e alguns detalhes que não passam despercebidos (as slapadas de baixo fazem toda diferença na faixa título), e What I Do fica tranquilamente acima da média vigente, num 2013 de poucos álbuns dance dignos de nota. 

"1983": leva pouco tempo pra viajar dos quadris ao cérebro.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Segunda Class: The Orb

Paterson e seu atual colaborador, Thomas Fehlmann.
 Nunca é tarde pra descobrir o The Orb. Cria da mente mucholoca de Duncan Alexander Robert Paterson - Dr. Alex Paterson - e do visionário Jimmy Cauty (The KLF), o projeto apareceu no final dos 80 com um mix de eletrônica, dubismo, psicodelia e ficção científica. Com temas focados num tipo de som que fosse adequado pro descanso pós-gandaia dos ravers, a experiência resultou no surgimento da ambient house.   


O CD duplo History of the Future saiu em Outubro e compila boa parte dos singles do Orb pela gravadora Island no disco 1, e remixes no CD 2. Na versão Box Set, são três CDs mais um DVD com apresentações ao vivo, vídeos e parte de um show realizado em 1993, em Copenhagen.

O primeiro single do Orb, "A Huge Ever Growing Pulsating Brain That Rules From The Centre Of The Ultraworld" (com sample de "Loving You", de Minnie Riperton) aparece em duas versões (uma dançável, outra não), e ambas as faixas ganharam um fade out na metade da extensão de suas edições, assim como convenientemente foi feito com a fantástica "Blue Room", que não chega nem perto da duração original. Mesmo com impraticáveis 40 minutos (!), "Blue Room" (com uma impressionante linha de baixo de Jah Wobble) chegou ao número #8 no paradão inglês, em Junho de 1992 e catapultou o álbum U.F.Orb, inacreditavelmente, ao topo da parada, um mês depois. Outros tempos.

O veredicto é um só: se você não conhece muito bem o The Orb, History of the Future é absolutamente essencial.

"Blue Room (7" Mix)": boa de pista, boa de fone de ouvido.

domingo, 1 de dezembro de 2013

O Fio Da Meada

 
Foram dez anos produzindo e remixando, até o Kraak & Smaak finalmente apresentar um disco sólido, homogêneo e realmente digno de ser ouvido do começo ao fim.


O trio holandês vinha de ótimos singles (a deep "Built For Love" é um exemplo recente), mas nos seus quatro álbuns anteriores, a disparidade entre as faixas de trabalho e o restante do material era muito grande. Agora, no recém lançado Chrome Waves, é exatamente o contrário. Se não há nada tão bombástico quanto o breakbeat "Squeeze Me" (2008), o que temos aqui são onze faixas onde house com enxertos de funk, soul e disco se enroscam num mix cool, agradável e altamente dançante.

Difícil encontrar algo fora do lugar em Chrome Waves. Já de cara, a soulful house "The Future Is Yours" (com vocais do britânico Ben Westbeech, que já havia cantado em "Squeeze Me"), evidencia o uso irrestrito do piano, martelado no sentido Marshall Jefferson do instrumento.

A lista extensa de vocalistas convidados revela gratas surpresas: onde estava escondido o holandês Stee Downes até agora? Sua voz elegante e cheia de ecos preenche a introspectiva "
How We Gonna Stop The Time" com o refinamento que a faixa pedia. E o rapper Capitol A, que segura com versos firmes - numa tacada só - o incrível electro "The Upper Hand", enquanto Janne Schra suaviza a onírica "Love Inflation" (com baixo pós-punk e bateria acústica)?

Mais novidades: quem até hoje tinha ouvido falar em John Turrell? Pois esse impressionante pulmão soul fez de "Back Again" uma das canções mais fortes do álbum, com seu vocal emotivo
junto à uma linha de baixo propulsora, teclados circulares, percussão, palmas e euforia. Em "F.A.M.E.", o Kraak & Smaak procura apartar-se da manada, suprindo a demanda por tech house rebolativa que não abdica de uma produção esmerada, bom gosto na escolha de timbres (a programação de bateria é um espetáculo auditivo), e parcerias que mostram que a banda só acertou nesse quesito em Chrome Waves (aqui são os inventivos islandeses do Retro Stefson que participam).  

Uma house com jeitão de Trax Records circa 1987 ("
Your Body"), uma incursão pelo downtempo pra retomar o fôlego (com a irreconhecível amostra vocal da linda "Where You Been") e uma disco funkeada com cheiro de hit (a inacreditável "Good For The City"), e no balanço, Chrome Waves é um dos discos de eletrônica de pista do ano. Acessível, bem pensado e delicioso de ouvir. Qualidades que vão rareando com a velocidade dos beats das produções EDM atuais.

"Good For The City": euforia disco.