quarta-feira, 12 de março de 2014

Crônica De Uma Morte Anunciada


Nem era difícil prever. Sonny John Moore vem de uma série de EPs, mas álbum cheio até agora, nada. Eu cheguei a ficar coçando o queixo depois de ouvir "First of the Year (Equinox)" - pouco mais de quatro minutos de uma alquimia eletrônica distorcida em sua esmagadora fusão de reggae, dubstep e hardcore digital - mas agora que saiu seu primeiro disco, Recess, respirei aliviado. É horrível.

Skrillex diz que o que faz não é dubstep. A praia dele é o brostep, espécie de variação do subgênero, com a adição de elementos típicos do metal. Acho que é por isso que Recess soa tão repetitivo, tão irritante, de ideias tão limitadas. Não consigo imaginar em que tipo de prazer doentio se encaixa o deleite de algum ouvinte ao som do teste de paciência chamado "Dirty Vibe", parceria com Diplo - este, aliás, pode ter qualquer atributo: saqueador de funk carioca, pegador da M.I.A., mas talento musical, isso não. Me diz quem tem saco pra um zumbido dissonante como o de "Stranger"? E a cara de pau de gravar uma "Equinox II" (em "Try It Out")? A mesma cascata de efeitos, os mesmos vocais com pitch alterado, os mesmos cortes secos, a mesma bateria heavy. E olha, ele não acerta uma. Da abertura com a previsível fusão do raggamuffin dos Ragga Twins com os sons de liquidificador que saem dos sintetizadores virtuais de Skrillex em "All Is Fair In Love And Brostep" ao encerramento com a vibe chapada e estrategicamente colocada como última faixa de "Fire Away". Mas ele é malandro. De olho nos shows da tour que vem aí, Skrillex fez a apelativa "Ease My Mind", pretensamente um hino de estádio com letra adolescente tipo "se a gente não se Raoni, a gente se Sting", que deve ser berrada em uníssono por seus fãs: "Oh DJ, ease my mind, will you / Play that song again 'cause we were in love / Before, before the rain began / And if I cry I cover my ears." Lindo, não?

“Pare de se levar tanto a sério. Pessoas que criam estereótipos de gêneros, que dizem, ‘se você faz isso, você é assim’ – é quase racismo... Você é um artista – você pode oferecer algo legal”, disse o produtor californiano à Rolling Stone. Bom, em Recess, só faltou uma coisa legal: música.

"All Is Fair In Love And Brostep": com a fúria de um camundongo rugindo para a vassoura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Spam, get outta here!