sábado, 22 de março de 2014

Futuro no Presente


Não ouvi os álbuns anteriores do Future Islands. Aliás, até esse Singles cair no meu HD, nunca tinha sequer ouvido falar na banda da Carolina do Norte. O álbum - que está sendo lançado oficialmente na próxima terça-feira, dia 25 - já é o quarto da discografia do trio, que no começo deste ano, assinou com a 4AD. Não dá pra dizer que são estranhos no ninho da gravadora inglesa, já que o pop eletrônico urdido pelo grupo encontra pares como Twin Shadow e Grimes sob as asas do selo.


 Pra você ver como o divisão A&R da 4AD não está de bobeira, como eu. Porque esse pessoal certamente ouviu os trabalhos anteriores do Future Islands e percebeu ali duas coisas fundamentais pra alguém que almeja sair do anonimato musical: talento e viabilidade comercial.

Singles - juro que não é exagero - vai ser provavelmente o melhor disco synthpop de 2014. Tem muitas qualidades pra isso. São dez faixas e menos de uma hora de duração que não enjoam de jeito nenhum, nem que você clique no repeat sem se importar - como eu estou fazendo há dois dias. Já ouvi perto de dez vezes e não consigo encontrar uma faixa pra falar mal. Não é uma coletânea, como o nome sugere, mas a assombrosa homogeneidade é tamanha, que está tudo nivelado por cima, sem arestas a aparar.

 Com características, trejeitos e um timbre singular, Samuel Herring é um vocalista absolutamente original. Com o ritmo e o tom emotivo (que passa longe da pieguice) que imprime em todas as canções, Herring fica lado a lado dos inimitáveis Martin Fry e Mark Hollis, o que, num gênero em que soar como o barítono Dave Gahan parece ser o objetivo de quem tem o microfone nas mãos, não é pouca coisa.

Tente não ficar inebriado com o impressionante trabalho do cantor em "Like The Moon":

O primeiro single e faixa de abertura do álbum, "Seasons (Waiting On You)", traz consigo outro padrão estabelecido pelo Future Islands: as linhas de baixo com vida própria, livres do estigma New Order, perseguido à exaustão pela geração atual. No vídeo abaixo, a recente apresentação da banda no Late Show de David Letterman, na arrepiante performance de "Seasons":


Com a riqueza instrumental e os arranjos sempre dispostos a arriscar metais (mesmo que seja o trompete sintetizado de "Sun In The Morning" e "Doves") e cordas (na belíssima levada de violões casada com o baixo propulsor de "Light House"), o trio abusa da elegância e bom gosto nas composições, algo como um encontro imaginário entre Anne Dudley e Roxy Music.

Singles é a fusão do synthpop oitentista sem cheiro de naftalina com indie rock sem afetação, nunca dispensando formalmente o uso da guitarra ("Back In The Tall Grass", "A Dream Of You And Me"), nunca deixando a máquina assumir o controle (vide os sintetizadores habilmente contidos em "Spirit" e "A Song For Our Grandfathers").

Vão ser grandes, anota aí.

"Light House": cellos e sintetizadores entrelaçando-se. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Spam, get outta here!