terça-feira, 13 de maio de 2014

10 Perguntas Para... Renato Lopes


O DJ paulista Renato Lopes é nome de proa na cena eletrônica brasileira. Começou a discotecar em 1986, passando por clubes como Madame Satã e Nation Disco Club (nos anos 80 e começo dos 90), Sra. Krawitz e Columbia (anos 90), até montar a agência Smartbiz (que dirigiu no período 2000-2010), representando DJs e produtores como Mau Mau e Digitaria. Já produziu, remixou, fez trilhas para desfiles, apresentou programas de rádio (Energia FM) e Web (SeeTheSound TV)... e não para de tocar. Lopes atualmente é residente no clube D-Edge (na festa Mothership, aos sábados) e Caravana da Coragem, na Trackers (eleito melhor clube de São Paulo ano passado pelo júri da Folha de São Paulo). Renato ainda é convidado regular da festa Cio, no Lions Nightclub e do after hours Insomnia. Tem ainda um projeto de Back 2 Back com o inglês Murray Richardson, chamado Electrica Salsa, que é itinerante. 

E, com a mesma simpatia e apuro que irradia da cabine, ainda arrumou tempo pra responder meu mini-questionário. 

1) Porque o Brasil ainda não emplacou um artista de dance/eletrônica em um nível Chemical Brothers da cena?
Acho que temos nomes que conseguiram uma grande projeção internacional. Marky e Gui Boratto são sem dúvidas os de maior evidência, seguidos pelo Renato Cohen, Pet Duo, Anderson Noise e Mau Mau. Quanto a alcançar o estágio do Chemical Brothers, acho que estes, assim como tantos outros artistas ingleses, contaram com o apoio da mídia especializada, que na Inglaterra sempre foi muito consistente. Ela os impulsionou no momento em que a cultura das raves, principalmente na Europa, cresceu e deu grande suporte. Muito do que se vê hoje em dia foi derivado disso. Não acho impossível que possam aparecer novos artistas brasileiros que desfrutem de um destaque maior, mas dependerão, não só do seu talento, mas também de circunstâncias favoráveis para esse momento.



2) Lançamentos de dance enchem uma lista telefônica diariamente. Como esses artistas podem tornar a atividade rentável sem fazer shows e com o download ilegal irrefreável?
Mesmo antes da revolução do MP3, a produção independente sempre inundou as lojas de discos. Mais do que no passado, hoje há uma maior facilidade em estabelecer um selo digital e não precisar passar por algum processo de seleção, além do seu próprio. Assim, há uma quantidade infinitamente maior de música circulando, boa e ruim. O modelo de comercialização que existia datou com o download ilegal mas, inegavelmente, ele é parte desse processo que ainda tentam decifrar. Viver exclusivamente de produção sem depender de apresentações pode ter se tornado mais difícil, mas não é impossível. Em tempos de redes sociais, vale a busca por formas criativas de como otimizar esse cenário. Não tem mais receita certa, precisa cada um criar a sua. A música ainda é o cartão de visitas de um artista.

3) O Isaac Hayes falou certa vez que estava preocupado com o uso do sampler pela geração de músicos da virada dos 90 pros 2000, questionando algo como “se continuar assim, quem eles vão samplear daqui vinte anos? Os samples dos samples?”. Você acha que o álbum Random Access Memories do Daft Punk tem algo a ver com isso, sobre provar que é possível fazer música de pista acessível atualmente sem recorrer a técnicas de sampleamento?

Uma parte da composição musical, independente da tecnologia que possa lhe dar suporte, pode ser baseada em trabalhos anteriores. Assim, antes do sampler existir, já havia a música incidental. No universo das pistas, pop ou underground, o sample perpetua certas referências e pode criar equívocos, como quem acha que determinado trecho seja original daquela música que está escutando. Mas isso também já acontecia anteriormente, quando trechos de peças clássicas eram citados em músicas pop. Mas há quem use o sampler de uma maneira mais criativa, além de se valer de trechos óbvios ou obscuros de outras músicas. Acho que Matthew Herbert é um bom exemplo, que busca por sons orgânicos, fora de uma coleção de discos antigos.


4) Independente do gênero, qual é o disco mais bem produzido da história?

Não sou um grande conhecedor de muitos estilos musicais, meu foco sempre foi mais o eletrônico, principalmente som de pista. O álbum que considero uma obra-prima ainda é sem dúvida o Blue Lines, do Massive Attack.

5) Outra citação: José Roberto Mahr disse em uma ocasião que (pra ele) a mixagem não era o mais importante, “senão você vira escravo dos beats”. Com a profusão de softwares existentes pra facilitar a vida de quem toca, você acha que técnica ainda é importante ou não vai demorar muito pra mixagem sair com a força do pensamento e o que vale é o que sai das caixas?

Acho que ainda vale muito uma boa mixagem, ela pode criar momentos de grande efeito numa pista. Mas o Mahr tem razão, quanto a se tornar um escravo dos beats, cabe a cada um saber se valer desse recurso. Ser criativo, arriscar e surpreender as pessoas, ainda é o que se espera de um DJ. Os softwares que estão no mercado e que cada vez mais "facilitam" a vida, na verdade são ferramentas que estão aguardando serem bem exploradas, além do que se faria comumente com um par de toca discos. Você pode utilizá-los apenas para tocar uma música após a outra, o que realmente é muito pouco. Mas também pode tirar o máximo de potencial criativo deles e isso aí demonstra a técnica a ser desenvolvida. Ainda, por um bom tempo, haverão olhos críticos para os softwares, afinal eles se opõe à discotecagem clássica, que tem o seu charme e elegância.


6) Quando não estás discotecando, o que tu ouves em casa?
Gosto muito de música clássica, mesmo sem ser um conhecedor. Amigos mais próximos sempre me apresentam pop de qualidade ou alguma faixa de MPB bacana. Também confiro o que uma pessoa ou outra publica no Facebook. Em casa, gosto de ouvir música em volume baixo a maior parte do tempo, obviamente como uma compensação aos anos de som alto.


7) Já se arrependeu de ter tocado alguma música?

Inúmeras vezes! É parte de se correr o risco numa pista, principalmente quando ainda não conheço direito determinado single ou artista, mesmo sabendo que o som é bacana. Algumas vezes foi a hora errada, em outras a música realmente não era boa e acabava descartando ela do case. Há festas em que esse exercício é mais tranqüilo e as pessoas estão mais abertas. Mas também já tive que virar rapidamente para outra música para não perder a pista. 



8) Fora o projeto Que Fim Levou Robin? (com o DJ Mauro Borges), existe algum outro que tu tenhas participado ou produzido? Tu pretendes voltar ao estúdio?

Trabalhei no passado com vários produtores, como Dudu Marote, Apollo, Suba, Renato Garga, Eraldo Palma, Franco Junior e Manoel Vanni. Atualmente faço parceira com o Dunwich, um DJ e produtor francês que vive em São Paulo. Nos damos bem no processo de criação. Temos alguns remixes lançados, mas não temos um ritmo de produção constante e em grande volume, nossas agendas não nos permite.

9) Dois Top 5: um atual e um eterno.

Atual:
Matthew Herbert - "It's Only" (DJ Koze Remix) 


The Pittsburgh Track Authority & Nice Rec - "Get Out Of Your Head"


Soulphiction - "When Radio Was Boss" (Original Mix)


Avatism - "Serpentine" (Clockwork Remix)


Optokoppler - "Function" (Sneaker My Puss 7er Remodel)


Eterno:

The Beach Boys - "God Only Knows"


Carpenters - "We've Only Just Begun"


Bee Gees - "Stayin' Alive"


Massive Attack - "Unfinished Sympathy"


The Orb - "Little Fluffy Clouds" (Live Album 1993 - Recorded in Toyko)


10) Pra onde vai a música eletrônica?

Fiz a mesma pergunta para a Ellen Alien e endosso sua resposta: o futuro da música eletrônica está nas mãos de quem domina a tecnologia em favor da criatividade.



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