terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Melhores de 2016 - Discos (#08: Youssou N'Dour)


Youssou N'Dour já era bem conhecido até 1994, quando - junto com Neneh Cherry - gravou a canção "7 Seconds". Hit mundial. Era o que faltava para o senegalês consolidar sua posição de um dos maiores representantes da música africana contemporânea. 

Cantor, compositor, ator e, atualmente, Ministro da Cultura e Turismo do Senegal. Em meio a tudo isso, N’Dour ainda arruma tempo para - prolificamente - gravar discos, sem que isso diminua a qualidade do material. Prova disso é seu álbum mais recente, Africa Rekk, que saiu em Novembro de 2016. Combinando elementos afro tradicionais com as facilidades do pop urbano, N'Dour cometeu canções tão irresistíveis quanto belas, em sua grande maioria cantadas em wolof - língua falada na África Ocidental, principalmente no Senegal - o que só aumenta o encantamento por esse disco. Africa Rekk tem a sofisticação das melodias de N'Dour, lindos vocais de apoio e tambores afro magistralmente fundidos à teclados e programações.

Músicas como "Exodus" (com toda a exuberância das batidas e do refrão memorável) e "Conquer The World" (com a participação contida do rapper americano Akon), poderiam e deveriam se tornar hit mundo afora. É música para o mundo, em linguagem universal.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Melhores de 2016 - Discos (#09: Crystal Castles)


Os narizes semi torcidos da crítica para Amnesty (I), quarto álbum do Crystal Castles, justificam-se para quem esperava algo realmente novo no som produzido pelo canadense Ethan Kath. Teoricamente, já seria hora de mudar, fundir, arriscar alguma coisa que fizesse com que sua música soasse diferente, mas igual. Que reverberasse com toda fúria habitual, mas que trouxesse alguns elementos até então inéditos nas canções. Que a dupla se mantivesse perto do padrão usual, identificável à distância, só que diferente. Difícil, não? A intelligentsia então, passou a dizer que as onze faixas de Amnesty (I) estão irremediavelmente datadas, previsíveis e que Kath e a vocalista substituta de Alice Glass, a competente Edith Frances, finalmente estão acomodados na zona de conforto.

Há, porém, gente que ouve o disco e percebe que os ataques não perderam um décimo da potência, que o que se criou foi uma identidade que torna a música do duo excitante e desafiadora, sem deixar de ser - em certos momentos - acessível e impactante. E os carimbadores de rótulos não param: chamam isso de Witch House, Electropop, Synthpunk... tudo pra tentar jogar a eletrônica sem freio do Crystal Castles em um universo desajustado e oblíquo - agora, segundo eles, perdido na vala comum das obviedades pop. Besteira. Ethan Kath continua afastado da mediocridade. E continua fazendo ótimos discos.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Melhores de 2016 - Discos (#10: The Orb)


Imagine o clássico e obrigatório debut do Orb, Adventures Beyond the Ultraworld (1991), sem as baterias. É nessa onda que COW / Chill Out, World!, décimo quarto álbum de material original do projeto ambient house de Alex Paterson, vai. Coletando sons com seu iPhone e jogando num laptop durante sua turnê do ano passado (juntamente com Thomas Fehlmann), Paterson foi montando o disco. O processo demorou seis meses e o que a dupla entregou foram dez faixas onde tudo é climático e indecifrável, ambient em essência, mas sem identificação imediata com nenhuma cultura específica. Ao contrário de Adventures Beyond the Ultraworld (com sua temática calcada em longas expedições pelo espaço sideral), COW / Chill Out, World! sobrevoa paisagens terrenas e as transforma numa espécie de paisagismo sonoro rico em timbres, texturas e climas. Um dos pontos altos da carreira do Orb, um dos melhores álbuns de eletrônica do ano passado.

Golden Age


"Anymore", nova do Goldfrapp, talvez seja um sinal de que a banda pretende fazer as pazes com a pista de dança. Não é exatamente dance music, mas é dançável o bastante para afastar-se das produções mais recentes da dupla inglesa, um tanto modorrentas e apáticas. O último álbum da dupla, Tales Of Us (2013) arrastava-se por downtempo e folktronica, o que - pra um grupo que focava o som em electroclash e synthpop - os aproximou de gente como Ladytron e Little Dragon (a ponto de eu nem mais saber quem era quem) e aquela banda tão original de álbuns como Supernature (2005) e Seventh Tree (2008), vendendo bem e com moral com a crítica, acabou caindo de rendimento com a fase indie pop vinda a seguir. Rota corrigida, primeiro single promissor.

"Anymore": remixes serão bem-vindos.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Cyberfunk


Jason Luís Cheetham (aka Jay Kay) está de volta. Saiu hoje o vídeo para "Automaton", primeiro single do Jamiroquai desde "Lifeline" (de 2011). A faixa estreou ontem na BBC Radio 2 e faz parte do novo álbum do grupo (também chamado Automaton), com lançamento programado para 31 de Março. A música me impressionou bastante. É funk sintético com os inconfundíveis vocais de Jay Kay, uma levada disco entre as estrofes e sem refrão. Radiofônico, dançável, pop e ousado. O single (assim como o álbum), foi produzido pelo próprio Jay Kay e pelo tecladista da banda, Matt Johnson.

"Automaton": dançando num futuro pós-apocalíptico.

Sexta Feira Bagaceira: Plaza


Plaza era uma casa noturna belga que, ao completar dez anos, resolveu lançar um single comemorativo. Pra isso, foram recrutados três frequentadores assíduos do local (duas dançarinas e um, hãããã, "cantor"), mais o produtor Fonny De Wulf. "Yo-Yo" acabou estourando nas pistas europeias e outras barbaridades do mesmo nível foram cometidas: "O-Oh" (talvez o maior hit do projeto), "Hi-De-Ho", "Hey Hey Hey", "A-Ha"...

Se a variedade temática deixava a desejar, imagina a música, em si. Era tudo igualzinho: uma euro house bem ordinária com a pegada nervosa dos sintetizadores do new beat. Até que acho interessante a base de "Yo-Yo", mas de resto, o Plaza só está aqui nesta sexta porque possui o requisito mais importante: é bagaceira ao extremo.

"Yo-Yo": sucesso inesperado.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#01: Mahmundi)


"Desaguar" foi originalmente incluída no debut de Mahmundi, o EP Efeito das Cores, lançado de forma independente em 2012. Em 2016 ela reapareceu no primeiro álbum de fato da artista, o fantástico Mahmundi. A canção foi envernizada através de um processo de masterização para que houvesse uniformidade com as faixas inéditas gravadas para o disco. O procedimento fez com que "Desaguar" ganhasse uma notável polida no instrumental e os resultados são facilmente perceptíveis no timbre de guitarra do riff principal (que soa com o dobro da potência original) e nos vocais, que ecoam com todo tesão que essa faixa merece: é disparado o melhor refrão que ouvi no pop nacional nos últimos anos. E é, também, a música do ano, pra mim.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#02: White Lies)


O trio londrino White Lies já experimentou o gostinho do sucesso logo de cara: seu debut To Lose My Life... foi direto pro primeiro lugar à época do lançamento (Janeiro de 2009). Em Outubro do ano passado, a banda jogou no mercado o quarto álbum, Friends e, se não teve um desempenho comercial tão bom em relação aos outros três discos, ao menos os encontra já com uma boa base de fãs, do tipo que lotou todos os lugares por onde o grupo se apresentou em sua recente turnê europeia. O White Lies ainda é uma banda mediana no cenário pop/rock, possivelmente porque ainda não gravou um disco realmente consistente. Em Friends, apesar dos bons momentos, falta homogeneidade e coesão entre as dez canções - coisa que um produtor do nível de um Nigel Godrich ou Flood talvez pudesse resolver (Friends foi produzido pelo próprio trio). Há momentos, entretanto, em que a banda prova que tem um potencial gigantesco. Coisas como "Is My Love Enough?", uma pérola de rock eletrônico que parece pegar o bastão justamente onde o Simple Minds largou (o álbum New Gold Dream [81–82–83–84], de 1982). Pop musculoso, com sintetizadores cirurgicamente colocados, refrão poderoso e que - apesar de toda capacidade de se tornar um hit em potencial - nem single foi. Como eu disse, tá só faltando um produtor.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#03: Robbie Williams)


O texto na foto acima - postada no perfil de Robbie Williams no Facebook - deixa claro. Não cantor ou compositor e sim entertainer (a tradução para o português é imprecisa, melhor deixar como está). Robbie Williams, além de voltar a velha forma e gravar seu melhor disco desde Sing When You're Winning, lançado no longínquo 2000, reafirma sua verdadeira vocação: nos divertir. Das onze canções contidas em The Heavy Entertainment Show, "Party Like a Russian" é a mais gaiata e provocativa: Williams cutuca a onça (Vladimir Putin) e esconde a vara (Williams negou que a música - que fala sobre um suposto dirigente que "constrói a própria estação espacial" e é uma espécie de "Rasputin moderno" - seja sobre Putin). De qualquer forma, só o refrão montado sobre a base sampleada de "Montagues and Capulets", composta pelo russo Sergei Prokofiev para o balé Romeu e Julieta, de 1935, já credenciaria "Party Like a Russian" como uma das grandes canções pop de 2016.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#04: Aufgang)


Inicialmente como um trio com integrantes da França, Líbano e Luxemburgo e agora como um duo, o Aufgang lançou seu terceiro álbum ano passado, o bom e variado (o que - pela formação pancultural - nem é de se estranhar) Turbulences, pela Blue Note. No som da banda, o que fica mais evidente é a saudável fusão do primeiro (música eletrônica) com o terceiro mundo (música tradicional). A aproximação do Ocidente com o Oriente reflete em algumas canções um tanto mais experimentais e outras em que o Aufgang acerta em cheio a dosagem dos elementos, como essa "Mizmar" - a melhor faixa de Turbulences. Eu não escutava algo tão bom do tipo desde "Living on the Ceiling", do Blancmange (1982).

Techno Descendente


Tentar entender o nome da faixa que o DJ e produtor alemão Robag Wruhme acabou de lançar faz tanto sentido quanto procurar saber o porquê de um nome artístico tão impronunciável quanto o seu verdadeiro (Gabor Schablitzki). "Xmop-198" perde em inventividade para o seu último EP (Cybekks, de 2015) e ele mesmo parece prever a onda de narizes torcidos com um comentário no Soundcloud ("But please! It's Techno inside."). O que Wruhme disponibiliza desta vez é techno minimal e monocórdico, sem variação, sem riffs e sem melodia. Uma linha de baixo e umas chicotadas de sintetizador. Perto do que ele já fez, achei fraquinho.

"Xmop-198": descendo um degrau.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Sexta Feira Bagaceira: The Voice In Fashion


Em 1988, os Pet Shop Boys estavam tão entusiasmados com o synthpop cucaracha - leia-se freestyle - que foram em pessoa gravar o single "Domino Dancing" no estúdio do papa do gênero, Lewis Martinée, em Miami. Martinée vinha de três hits Top 5 na Billboard (com suas protegidas Exposé) e acabara de produzir o single "Give Me Your Love", do Voice In Fashion - que fez os vocais de apoio para "Domino Dancing".


"Give Me Your Love" não chegou a ser sucesso planetário, mas ganhou boa execução nas rádios e pistas de dança, no final dos 80 e começo dos 90. Por aqui a faixa saiu em duas coletâneas: numa versão editada (Diet Pan, da rádio Jovem Pan) e numa extended (Dance Remix). Por conta dessa música (mas não sei com que repertório), a banda excursionou pelo Brasil em 1992, incluindo aí uma bizarra aparição no programa Xuxa Show e outra no não menos bisonho Fausto Silva. Ê laiá.

"Give Me Your Love": paquitas e playback.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#05: Dub FX)


Quem diria que da Austrália viria um reggae tão potente quanto esse em 2016? Artista de rua, cantor, compositor e produtor, Benjamin Stanford vem desde 2004 experimentando com fusões entre rap, reggae e drum'n'bass - mistura que fica bem evidente em "So Are You", faixa de seu álbum lançado ano passado, Thinking Clear, produzido e mixado por ele. No disco os resultados ainda são um tanto desiguais, mas enquanto vai azeitando a fórmula, Stanford aparece com pepitas como essa.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#06: Tiger & Woods)


Já se vão cinco anos desde o debut da dupla italiana Larry Tiger e David Woods (nomes fictícios para Marco Passarani e Valerio Del Prete), Through The Green. O misterioso projeto de "future boogie" fez um disco divertidíssimo, discotecou mundo afora (incluindo uma apresentação memorável no Brasil, na edição 2012 do Sonar em São Paulo) e, três ou quatro singles depois, retorna com mais uma batelada de grooves musculosos nas mãos, no lançamento de On The Green Again (T&W Records).

O título entrega uma óbvia continuação do disco de estreia: o som não perdeu um milímetro do foco e isso é ótimo. Samples obscuros colocados em loops infinitos, baixos corpulentos e uma linha que costura a dance do começo dos 80 (especialmente italo-disco e Hi-NRG) às técnicas de edição da house contemporânea.

Com um sample na mão e uma ideia na cabeça - como na minha preferida aqui, "Ginger & Fred" - Passarani e Del Prete continuam produzindo, discotecando e cumprindo brilhantemente a função de quem se propõe a fazer um som como o desses caras: dançar, sem olhar pro relógio.

Goth Obsession


Rock não é lá muito a do blog, mas quando coisas como essa aparecem são dignas de registro. E negócio é que o post-punk usualmente tem seus sintetizadores lúgubres permeando as produções, o que não o deixa tão distante assim do synthpop e tem um pezinho na eletrônica, sim.

O Escarlatina Obsessiva é uma banda da pequena São Thomé das Letras, Minas Gerais. Gravam desde 2007 e já tem seis álbuns lançados (o mais recente, Drusba saiu entre 2015 e 2016 e dá pra ouvir na íntegra aqui).

Grata surpresa pra mim, que nunca tinha ouvido falar da dupla (Karolina e Zaf). Produzindo incessantemente (ou obsessivamente, pra justificar o nome), o duo acaba de jogar no Youtube um vídeo para "Primal Beast", uma das melhores faixas de Drusba. A música, em si, me traz boas referências do gênero (X-Mal Deutschland, Siouxsie & The Banshees) e hoje em dia pode andar tranquilamente de mãos dadas com gente como Lebanon Hanover. Fora que é dançável, e, a despeito do climão soturno típico, vejo com potencial comercial, também (autossustentabilidade é bacana e todo mundo fica feliz).

"Primal Beast": perfeita pra dançar com o nariz colado na parede do Crepúsculo de Cubatão.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#07: Abstraxion)


Elogiado por gente como Simian Mobile Disco e Caribou, o produtor francês Harold Boué grava como Abstraxion desde 2005 e ano passado lançou seu segundo álbum, She Thought She Would Last Forever. Produzindo em seu próprio estúdio em Marselha e cercado de equipamentos análogos,
Abstraxion passeia por techno, house e eletrônica experimental, sempre explorando com inteligência as possibilidades que a velha e a nova tecnologia - combinadas - podem render. Imediatamente após lançar She Thought She Would Last Forever, veio um vinil duplo com remixes do álbum e uma das faixas retrabalhadas, "An Error Occured", ganhou uma versão radicalmente diferente e poderosa, pelas mãos da dupla germânica Tuff City Kids. Ao techno original, plácido e rico em texturas de sintetizadores, Gerd Janson e Phillip Lauer (do Tuff City) adicionaram camadas sobre camadas de arpejos e uma linha de baixo brutal. Descobri esse remix num set do DJ Renato Lopes e desde então ela tornou-se uma obsessão - tanto pra dançar quanto para ouvir em um sistema de som à altura das baixas frequências do bassline. Fantástico.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Nuvem Passageira


O Lusine - projeto do texano Jeff McIlwain - acaba de soltar música nova: "Just a Cloud", com vocais da finlandesa Vilja Larjosto. O single precede o álbum Sensorimotor, com lançamento programado para Março, pela Ghostly International. Em "Just a Cloud", Jeff picota os vocais em pedaços assimétricos e vai colando a um riff de sintetizador ondulante, de maneira que tudo soe de forma onírica e fluída. Excelente.

"Just a Cloud": pra sonhar acordado.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#08: Strong Island)


DJ e produtor britânico, Simon Neale teve seus primeiros hits sob o nome artístico Dave Spoon na segunda metade dos anos 2000 e virou nome forte como remixador (Dizzee Rascal, Pet Shop Boys, Madonna, Calvin Harris e Beyoncé foram alguns nomes retrabalhados por ele). A partir de 2012, Neale assina suas produções como Shadow Child e mais uma batelada de singles e remixes aparecem. Em 2013, lança a primeira compilação reunindo seus principais trabalhos (Collected) e ano passado, a segunda (Connected). É nessa nova coletânea que está a faixa "Things We Do", uma colaboração entre Shadow Child e a vocalista Sherry Davis, num novo projeto chamado Strong Island. A faixa é um lindo pedaço de soul, com os vocais fantásticos de Davis, entrecortado pelo jungle comportado de Child. Um debut memorável.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#09: Vaults)


O drama erótico Cinquenta Tons de Cinza pode ter sido uma bomba (não assisti, mas foi massacrado pela crítica, essa raça superior), já a trilha sonora do filme é joia. Tem Annie Lennox, The Weeknd, Ellie Goulding, Beyoncé, Rolling Stones, Frank Sinatra e, infiltrando-se na primeira classe, o trio britânico Vaults. Novos no jogo (a banda foi formada em 2013), no ano seguinte já assinaram com a Virgin EMI, lançaram dois singles pela major e partiram para o circuito de festivais (T in the Park e Reading, entre eles). Em 2015, sai o single "One Last Night" - que entra pra trilha de Cinquenta Tons de Cinza e aumenta ainda mais a visibilidade do grupo. O debut Caught in Still Life foi lançado no finalzinho de 2016. É um bom álbum, especialmente para os fãs ardorosos do synthpop - em sua faceta mais acessível. "One Last Night" permanece como a grande canção do disco: eletrônica contida, pop sinfônico, sofisticado e muitíssimo bem acabado, perfeito para o airplay. Olho neles.

Boa Noite, Tristeza


Nunca gostei do trio londrino The xx. A mim sempre pareceu uma banda de vocais sonolentos, arranhões de palheta nas seis cordas, bateria eletrônica de bolso, sintetizadores na linha meu-primeiro-Roland-Juno-6-vintage-comprado-no-eBay e letras sobre o universo em desencanto das relações adolescentes. Tudo embalado num pacotão indie lo-fi, pretensamente de som simples e postura blasé, mas que parece ter cada movimento estudado à exaustão pra captar a audiência numa atitude "adotem-nos, somos legais" que eu sempre quis distância.

Pois bem, eles acabaram de lançar disco novo, I See You. E eu achei incrível.
Incrivelmente chato. Foi triste atravessar as dez faixas em seus longuíssimos 40 minutos. Não foi com esse álbum que mudei de opinião.

Boa noite, ÉcsÉcs.

"Hold On": só aguentei até dois minutos e meio.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Sexta Feira Bagaceira: RPM


Você que hoje tem um software pra editar seus próprios remixes talvez não imagine que lá no meio dos 80 se fazia isso com régua, fita adesiva e uma paciência do tamanho do sobretudo que o Paulo Ricardo usava nessa época. Saca o mestre Iraí Campos nesse processo artesanal aqui no vídeo e me diz: era moleza ou não?
Bom, foi com o método acima que os DJs Grego, Sylvio Müller e Cabello fizeram este que é um dos primeiros remixes que ouvi na vida, o synthpop "Olhar 43", do RPM. Loops na comodidade do clique do mouse? Nada. Edita, corta, cola, edita, corta, cola... O grupo paulista havia acabado de lançar seu debut Revoluções Por Minuto (em Maio de 1985), hits começavam a pipocar (oito, das onze faixas do disco, foram massacradas pelas rádios) e o remix veio no momento em que a banda começava a trocar as danceterias onde se apresentavam pelos ginásios e estádios na bem sucedida megaprodução Rádio Pirata Ao Vivo, pra logo em seguida, encerrar atividades. E depois voltar. E acabar. E voltar. E acabar. E voltar. E...

"Olhar 43": aquele assim, meio de lado...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#10: Trentemøller)


Há tempos que Anders Trentemøller vem merecendo maior reconhecimento pelo trabalho apresentado. O músico e produtor dinamarquês vem desde 2006 lançando discos sólidos e transitando por vários estilos (Electronica, Techno, Ambient e Dark Rock, entre eles). Em seu ótimo álbum do ano passado, Fixion, Trentemøller recrutou três cantoras (Marie Fisker, Lisbet Fritze e Jehnny Beth). É Beth - vocalista do grupo pós-punk inglês Savages - quem canta em "River In Me", uma das melhores faixas do disco. A música dosa com exatidão eletrônica e rock gótico, soando soturna, dançável e longe das caricatas tentativas de gente que explora o darkismo muito mais ligado na forma do que no conteúdo, em si. Segundo o próprio Trentemøller, "...Beth tem essa voz realmente intensa e única e acabou sendo realmente desafiador e divertido tirar essa voz do universo do Savages e colocar no meu". Impossível discordar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#11: Aphex Twin)


Em 2016, Richard David James deu as caras duas vezes com o seu alter ego mais conhecido, Aphex Twin. No final do ano, foi o single Houston, TX 12.17.16, quinhentas cópias prensadas com duas faixas de techno árido e irregular. Só para os fãs xiitas. Alguns meses antes, em Julho, o artista irlandês jogou no mercado via Warp o EP Cheetah, seis faixas desafiando o sintetizador Cheetah MS800 - um dos mais complicados de se programar existentes. O que Aphex Twin consegue extrair desse synth no EP resulta em células suaves, quase dançantes, em arranjos que privilegiam batidas econômicas e grande variação de timbres. Ou seja, James constrói uma muralha de sons com poucos tijolos. Minha preferida do disco é "CIRKLON3 [ Колхозная mix ]", mas poderia ser "CIRKLON 1", "2X202-ST5" ou "CHEETAHT7b", que todo o ano de trabalho de Richard D. James já estaria justificado.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#12: Mahmundi)


Uma das grandes sacadas de Marcela Vale em seu disco de estreia (Mahmundi, lançado em Maio de 2016) foi ter colocado logo na abertura uma pop song irrepreensível com um título que veio a calhar ("Hit") e, incrível, sem refrão. As duas estrofes certeiras, a dinâmica de reggae e o riff absolutamente pegajoso de sintetizador se encarregam do resto - o que significa dizer "grudar no seu cérebro pelo resto do dia". Se o Globo de Ouro ainda existisse, ela estaria lá com esse hit.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#13: Digitalism)


O duo alemão Digitalism vai ser eternamente lembrado pelo seu single de estreia ("Zdarlight", de 2005) e vai ter que conviver o resto da carreira com isso - porque o debut com o pé direito passou a ser parâmetro para a própria dupla ter como meta lançar uma faixa tão memorável quanto essa. Uma ouvida em Mirage, o terceiro álbum do Digitalism, lançado ano passado e é fácil atestar que ainda não é com um disco de Electro House de arena como esse que eles vão conseguir chegar lá (onde é "lá", eu também não sei). De qualquer forma, se as 15 (!) faixas do álbum tivessem o mesmo tanto de ousadia e originalidade de "The Ism" - em que o hip-hop colide com o techno e os vocais são do motorista do ônibus da turnê da banda, Anthony Wilson - provavelmente teríamos um dos discos dance do ano. Bom, não foi bem isso que aconteceu, mas "The Ism" permanece como uma das faixas mais legais que ouvi em 2016.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#14: Mayer Hawthorne)


Muito difícil escolher uma música preferida num álbum tão coeso e homogêneo quanto Man About Town (o mais recente de Mayer Hawthorne), mas talvez "The Valley" tenha sido a faixa que mais ouvi desse disco. Produzida pelo requisitado Dave Tozer (John Legend, Kanye West, Jay-Z, Justin Timberlake, Bruno Mars e mais uma pá de gente), "The Valley" usa Doobie Brothers e Hall & Oates como referências óbvias, isto é, blue-eyed soul sublime.

domingo, 1 de janeiro de 2017

Melhores do Ano - Músicas (#15: Youssou N’Dour)


Cantor, compositor, ator e, atualmente, Ministro da Cultura e Turismo do Senegal. Em meio a tudo isso, Youssou N’Dour ainda arruma tempo para - prolificamente - gravar discos, sem que isso diminua a qualidade do material. Prova disso é seu álbum mais recente, Africa Rekk, que saiu em Novembro de 2016. Combinando elementos afro tradicionais com as facilidades do pop urbano, N'Dour cometeu canções tão irresistíveis quanto belas, como essa "Conquer The World", com a participação contida do rapper americano Akon.